Indústria de fake news

Eugênio Aragão: ‘Todos os pedidos para que o Judiciário reaja, a resposta é ‘não”

Ex-ministro da Justiça e advogado da campanha de Fernando Haddad é o convidado desta quinta-feira (25) do programa 'Entre Vistas', da TVT, a partir das 22h

Luciano Velleda

“O importante agora é salvar a democracia”, afirma o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão

São Paulo — Faltando apenas três dias para o segundo turno da eleição presidencial, o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, é o convidado desta quinta-feira (25) no programa Entre Vistas, da TVT, a partir das 22h. Apresentado por Juca Kfouri, a conversa inicia com o jornalista indo direto a um dos pontos mais polêmicos dessa disputa eleitoral, ao questionar Aragão se todo o esquema revelado de apoio empresarial na indústria de fake news à favor de Jair Bolsonaro vai ficar impune.

“O tempo da Justiça não é o tempo da política”, responde, polidamente, o ex-ministro e advogado da campanha do candidato Fernando Haddad (PT). 

Para ele, a Justiça Eleitoral é “anacrônica”, muito demorada diante de uma realidade em que as notícias falsas circulam a grande velocidade. “Chegamos ao limite da institucionalidade quando batalhamos pela candidatura do Lula, mas havia uma posição ordenada de que a candidatura dele não ia passar. Quando a Justiça se pré-ordena, ela fica surda para uma das partes”, explica Aragão. 

Na análise do ex-ministro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está agindo como uma “barata tonta”, surpreendido pela indústria das fake news e pelos próprios ataques sofridos pelo tribunal. Após ter feito duas reuniões com a ministra e atual presidenta do TSE, Rosa Weber, ele diz que a impressão é de impotência por parte da corte, sem saber como agir.

Aragão revela que a campanha de Haddad apresentou cerca de 160 petições ao TSE no primeiro turno, e mais 70 agora no segundo turno, denunciando abusos e ilegalidades. Mas, apesar de algumas vitórias, como as dezenas de páginas e link tirados do ar no Facebook, por exemplo, Aragão diz que a sensação é a de “secar gelo”, pois dias depois os mesmos link proibidos reaparecem na internet. “É uma escala que não tem como militante ter essa eficiência. O que temos aqui é uma usina de mentiras”, sentencia. 

Normalmente ponderado em suas respostas, Eugênio Aragão sobe o tom ao se referir à recente frase de ministros do TSE, de que não seria “a hora de criar marola”, diante da denúncia de empresários envolvidos na fabricação e disseminação de notícias falsas contra Haddad. 

“Todas as nossas medidas cautelares são sistematicamente negadas. Dizem que não vão ‘fazer marola’ agora, mas não tiveram pudor em fazer marola ao desobedecer uma determinação do Conselho de Direitos Humanos da ONU! É uma recusa da Justiça em jurisdicionar, uma situação absolutamente esdrúxula! Todos os nossos pedidos para que o Judiciário reaja, a resposta é ‘não'”, criticou, de modo veemente. 

Ao longo de quase uma hora de programa, Eugênio Aragão também aborda a história do Judiciário brasileiro, um dos poderes da República que, para ele, nunca passou por uma reforma democrática; e faz considerações sobre as dificuldades do PT em enfrentar temas e reformas estruturais profundas durante os 13 anos em que esteve na Presidência, no contexto de um governo de coalisão com forças conservadoras: “Foi um governo socialmente sensível, mas longe de ser um governo de esquerda. Um governo de esquerda onde os bancos lucraram horrores…De esquerda? Nunca”. 

O futuro da democracia brasileira é outro tema discutido no programa, que contou ainda com a participação de Maia Aguillera, advogada e integrante da Rede Feminista, e da blogueira Maria Flor. 

Para o ex-ministro da Justiça, os últimos dias de campanha eleitoral devem servir para as pessoas perceberem que Jair Bolsonaro representa uma proposta totalitária para o país. “O importante agora é salvar a democracia”, afirma Eugênio Aragão.

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