Como em 2014

BNDES é novo alvo das notícias falsas do WhatsApp

Postagens e memes sobre o banco são disseminados nas redes sociais em períodos eleitorais, mas voltam com mais força agora

Divulgação

Parte dos recursos investidos pelo BNDES são destinados à exportação de bens e serviços

São Paulo – Desde a quarta-feira (11) voltou a circular de forma intensa uma série de fake news, principalmente via WhatsaApp, envolvendo o BNDES durante as gestões petistas. São imagens que trazem obras que nunca tiveram o envolvimento do banco, notícias alarmantes sobre financiamentos a países “amigos” e desperdício de dinheiro.

Não é de hoje que a instituição é alvo de informações falsas ou descontextualizadas, e na eleição de 2014 o banco já havia sido motivo de inúmeras postagens nas redes sociais, em uma época na qual não havia um trabalho tão articulado e com tanto alcance como hoje.

Primeiro, é preciso corrigir um erro de origem dessas postagens: o BNDES não financia obras em outros países. “O que o banco financia é a exportação de bens e serviços brasileiros de engenharia para o exterior. São coisas diferentes. Nessas operações (assim como em todas as outras que realiza), o BNDES desembolsa os recursos exclusivamente no Brasil, em reais, para a empresa brasileira, à medida que as exportações vão sendo realizadas e comprovadas”, explica a própria instituição em seu site.

“O financiamento do BNDES não cobre, por exemplo, bens adquiridos no exterior ou gastos com mão de obra de trabalhadores dos países onde a obra é realizada. Ele cobre exclusivamente os bens e serviços de origem brasileira utilizados na obra”, diz ainda.

E não se trata, como alguém pode acusar, de uma “jabuticaba” que só existe no Brasil. Diversos outros países possuem agências de fomento à exportação, por considerarem que esse tipo de iniciativa faz parte do interesse estratégico nacional. China, EUA, Japão, Alemanha e França, por exemplo, apoiam suas empresas exportadoras.

Somente em 2016, essas instituições, chamadas de ECAs (Export Credit Agency) subscreveram ou financiaram mais de US$ 400 bilhões em transações internacionais de exportação e negócios, sendo que mais US$ 50 bilhões desse montante foram usados ​​para financiar projetos em países em desenvolvimento e mercados emergentes.

É importante ressaltar também que, ao contrário do que é dito nas postagens que circulam no Whatsapp, o país ganha com esse tipo de ação. “O objetivo do apoio do BNDES às exportações brasileiras é o mesmo de qualquer outra operação que o Banco realiza: gerar emprego e renda no Brasil. Quando financia as exportações de uma empresa brasileira de engenharia para obras no exterior, o BNDES exige que todos os bens e serviços apoiados sejam de origem brasileira”, diz o banco.

Mas o dinheiro do BNDES foi investido na exportação de serviços para países “comunistas”? Bem diferente das publicações e memes que circulam, o maior destino dessas operações são os Estados Unidos, com US$ 17 bilhões no período de 1998 a 2017. Na sequência  vêm Argentina (US$ 3,5 bilhões), Angola (US$ 3,4 bilhões), Venezuela (US$ 2,2 bi) e Holanda (US$ 1,5 bi).

Há também uma explicação para haver apoio a exportações de bens e serviços de engenharia na América Latina e na África. “A primeira razão é que América Latina e África são regiões em desenvolvimento e, nessa condição, têm obras complexas de infraestrutura a serem realizadas, com poucas empresas locais aptas a executá-las. Em segundo lugar, é nesses mercados que as empresas exportadoras brasileiras, apoiadas pelo BNDES, conseguem ser mais competitivas, já que, nos países mais desenvolvidos, há maior número concorrentes habilitados, bem como sistemas financeiros robustos, capazes de apoiar as empresas locais.”