O afeto na política

A violência e a mentira não são a cara do nosso país, diz Ana Estela Haddad

Companheira inseparável de Fernando Haddad e exemplo do protagonismo feminino na política, a professora da USP arregaça as mangas na luta contra a barbárie. E está no “Entre Vistas” desta terça, na TVT

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Ana Estela Haddad, no Entre Vistas, da TVT: campanha do adversário não se pauta pelo confronto de ideias, mas por ataques pelas redes sociais

São Paulo – Ana Estela Haddad, odontopediatra e professora da Universidade de São Paulo (USP), é a convidada de Juca Kfouri no programa Entre Vistasdesta terça-feira (9), às 22h, na TVT. Companheira inseparável do candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, Ana Estela conta histórias da família, da sua carreira e da militância para combater o candidato “que agride frontalmente nosso espírito, nossa alma”. Sua fala com voz firme e ao mesmo tempo serena contrasta com o ambiente de guerra, mentiras e hostilidades instalado nessas eleições. “Essa violência definitivamente não é a cara do nosso país. Isso é uma das coisas que dói muito”, afirma.

Após a gravação do programa, ontem (8), em São Paulo, Ana Estela falou também com a reportagem. E classificou como muito preocupante a campanha do “candidato fascista”, baseada em notícias falsas espalhadas principalmente por WhatsApp.

“Estava ouvindo um áudio do antropólogo e cientista politico Luiz Eduardo Soares. Gostei muito, vou compartilhar logo mais. Ele faz uma análise do quanto a gente é movido por nossas emoções, expectativas, sentimentos e por uma subjetividade. Tem a subjetividade individual e tem um espaço de construção de uma subjetividade coletiva. Ele dá alguns exemplos práticos de imagens muito fortes e simbólicas que estão circulando e aconteceram e que, da parte desse candidato fascista que está aí, é como que uma autorização para a barbárie. Não está dito, e quase que não precisa dizer, porque são gestos e imagens que falam por si. É como se, de repente, tudo pudesse”, critica.

A professora da USP cita a experiência na prefeitura de São Paulo, quando Haddad determinou a redução da velocidade no trânsito, para ilustrar o que defende como papel do poder público. “Por mais que as pessoas tenham questionado, eu que guio muito na cidade de São Paulo, o trânsito ficou mais calmo. Hoje, mesmo tendo voltado a aumentar a velocidade, você não vê as pessoas correndo tanto quanto corriam antes. Alguma coisa como valor, como cultura, foi introjetada”, observou.

“Esse é o papel da política. É um espaço de construção de simbolismos, de valores, isso é muito importante”, definiu, para ilustrar o simbolismo oposto, de valor, que está sendo pregado por seguidores de Jair Bolsonaro.

Ana Stella respondeu às perguntas de Juca Kfouri e das convidadas, a atriz Débora Duboc e a professora e historiadora Marilandia Frazão. Falou sobre sua profissão, a família, sobre projetos de reconhecimento internacional dos quais participou tanto no governo federal, na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quanto na Prefeitura de São Paulo. Seus papeis na vida pública comprovam que ela não tem vocação para viver o papel da tradicional primeira-dama decorativa. Tem percorrido o país ao lado de Haddad. Os 30 anos de casamento foram celebrados no último 17 de setembro, em plena campanha.  

“Viajar o país quando a gente está dentro da gestão e quando a gente está em campanha é diferente. As duas experiências são muito enriquecedoras. Quando você está viajando por dentro do governo, faz um mergulho mais profundo e setorizado de acordo com a área, seja na educação ou na saúde, que são as áreas em que eu trabalhei mais. Claro que você conhece outras coisas, mas vai com outro olhar pra ver como aquela ação está sendo implementada. Quando viaja em campanha é completamente diferente. Tem um tête-à-tête com o povo, uma coisa bem próxima, sente o calor das pessoas na rua. E elas estão em um momento muito particular, de esperança por um nova escolha, uma nova oportunidade em que novas ações e um projeto de país possam aparecer.” 

Mãe de Carol e Frederico, ela dá “graças a Deus” por serem e permanecerem uma família tão unida mesmo durante essa campanha tão dura. “O espírito e o sentimento de família vêm muito de a gente se misturar naquilo que é o problema de cada um, de todos viverem juntos o desafio de cada um”, acredita.

“Quando a Carol passou na Poli (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) a gente vibrou muito por ela. Vou pra USP muito como professora, mas foi muito emocionante, como mãe de aluna, levar minha filha na faculdade. Frederico participa muito, vai nas pesquisas qualitativas. Quando Fernando tem debate ele sempre conversa um pouco antes, da sugestões. Cresceu nesse ambiente, tem sensibilidade política. Todo mundo se envolve um pouco mesmo.”

Ana Estela assegura que estaria engajada e envolvida, ainda se o marido não fosse candidato. “Essa campanha para mim tem esse duplo sentido. Claro que sou esposa de um candidato, não tem como eu fugir disso. Mas se meu marido não fosse candidato eu estaria de mangas arregaçadas tão fortemente quanto estou por acreditar que nós mulheres temos de combater porque isso agride frontalmente nosso espírito, nossa alma. Temos de estar à frente disso, nós que queremos uma sociedade para nossos filhos, nossos sobrinhos, nossos netos, temos de lutar muito pra evitar um grau de retrocesso tão grande no nosso país e perdas sociais tão grandes.”

Assista aqui na íntegra

Ana Estela relembra a juventude, o namoro com Fernando, os anos de universidade, a história profissional, sua passagem pelos ministérios e prefeitura de São Paulo, onde participou do programa Primeira Infância. Saiba a sua opinião sobre o título de primeira-dama e como vivencia a tensão das eleições e da disputa presidencial. 

A emoção salta à flor da pele quando Juca pergunta sobre a paciência no atendimento de crianças e associa esse estilo de trabalho na política. Na metáfora da cadeira (da dentista), Juca lembra de outra cadeira, na passagem pelo Doi-Codi, dos defensores da tortura. E que Bolsonaro lhe disse: “Kfouri precisa de umas palmadas”.  

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