eleições 2018

Apoiador de Bolsonaro mata mestre de capoeira a facadas em Salvador

Morte violenta na Bahia é ápice de casos de violência que têm se repetido pelo país a partir da intolerância de seguidores do ex-militar. Ainda faltam 20 dias de campanha para o segundo turno

Reprodução Facebook

Moa do Ketendê tinha 64 anos, era meste de Capoeira Angola e um dos fundadores do Afoxé Badauê

São Paulo – O encerramento do primeiro turno das eleições gerais no país culminou com novos casos de violência. O mais grave foi o assassinato do mestre de capoeira Angola Romualdo Rosário da Costa, de 63 anos, conhecido como Moa do Katendê, em Salvador.

Ele foi morto com 12 facadas pelas costas por Paulo Sérgio Ferreira de Santana, de 36 anos, apoiador do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL), após uma discussão sobre a eleição. O irmão do mestre de capoeira foi atingido no braço e levado ao Hospital Geral do Estado, onde ficou internado.

Santana chegou ao bar onde estava Moa do Katendê por volta das 2h30 desta segunda (8), gritando palavras de apoio a Bolsonaro. O mestre de capoeira teria respondido que tinha consciência de como os negros conquistaram melhorias de vida nos últimos anos, que poderiam ser destruídas pelo candidato do PSL, e que as pessoas que estavam ali votavam no PT. Segundo testemunhas, agressor e vítima não se conheciam antes da discussão. Moa foi enterrado na tarde de hoje.

No Rio de Janeiro, a jornalista Anielle Franco, irmã da vereadora do Psol Marielle Franco, assassinada a tiros em março, foi hostilizada por apoiadores do capitão da reserva enquanto levava a filha para creche.

Segundo seu relato nas redes sociais, ela estava com a filha no colo quando foi cercada por um grupo de homens que começaram a gritar bem próximo de seu rosto e da menina. “Gritos de que eu era ‘da esquerda de merda’, ‘Sai dai feminista’, ‘Bolsonaro’, ‘piranha’, de homens devidamente uniformizados com a camisa do tal candidato”, escreveu.

Anielle ressaltou que não estava portando qualquer adesivo, camiseta ou item de campanha no momento da agressão. “Bom, não estou escrevendo pra que ninguém tenha pena. Mas para que repensem a sua maneira de fazer política. Por conta de um antipetismo vocês preferem propagar o ódio e a violência?! O seu candidato, em suma, defende esse tipo de postura, e outras coisa bem piores! Pensem bem! Por fim, seguimos na luta! Por aqui vai ter luta sim! Hoje e sempre. Na verdade, sempre teve. Nossa luta vem de muito antes disso tudo. Essa luta não acaba dia 27. Nem hoje, nem ano que vem, nem muito menos em 2020”, escreveu.

Em Pernambuco, na tarde de ontem, uma jornalista do Jornal do Commercio, que preferiu não ter o nome revelado, relatou ter sido agredida e ameaçada de estupro por dois apoiadores de Bolsonaro, na saída de sua zona eleitoral. Eles a teriam reconhecido como jornalista e a ameaçaram com um canivete, fazendo cortes em seu braço e queixo. A Polícia Civil investiga o caso.

Segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), 130 jornalistas foram agredidos ou ameaçados pelas redes sociais, durante a cobertura eleitoral desse ano.

O caso mais recente foi no dia 30 de setembro, quando a jornalista da rádio BandNews Ana Nery foi agredida por um apoiador de Bolsonaro durante manifestação em favor dele, na Avenida Paulista. Segundo a repórter, ela estava entrevistando um policial quando começou a ser xingada por um homem. Ao pegar o celular para gravar a cena, o agressor lhe desferiu uma cabeçada. Os policiais que presenciaram a cena apenas afastaram o agressor e não prestaram socorro. A jornalista registrou Boletim de Ocorrência no dia seguinte.

A quatro dias da eleição, o candidato a deputado federal Todd Tomorrow (Psol) foi agredido também na Avenida Paulista enquanto distribuía panfletos. Um homem veio em sua direção e, sem dizer nada, deu um tapa em seu rosto.

“Tinha um bando de marmanjos na esquina da Rua Joaquim Eugênio de Lima com a Avenida Paulista, e assim que eu saí do café onde eu estava, um dos caras veio, do nada, e me deu um tapão no rosto”, relatou nas redes sociais. “Eu costumo sair sozinho, fazer minhas coisas sozinho, mas dessa vez deu bastante medo. Tem bastantes skinheads aqui na região da Paulista agora”, disse.

No final de setembro, a feminista Maria Tuca Santiago, uma das organizadoras do movimento Mulheres Unidas contra o Bolsonaro, foi agredida por três homens armados com revólveres, na cidade do Rio de Janeiro. Após a agressão, os três fugiram num táxi que os aguardava.

Maria Tuca teve o celular roubado e foi agredida com socos e coronhadas. Dias antes o grupo criado por ela foi invadido por apoiadores de Bolsonaro, que roubaram as contas das administradoras e passaram a ameaçá-las e divulgar suas informações pessoais nas redes sociais.