eleições 2018

Haddad cobra reação da imprensa e do Judiciário contra ameaças de Bolsonaro

Candidato destacou que, ao longo da história, esse tipo de discurso antecipou governos ditatoriais como o nazismo, na Alemanha, e o fascismo, na Itália

Charles Sholl/Raw Image/Folhapress

Em coletiva de imprensa, Haddad ressaltou que governos totalitários começaram com o mesmo tipo de ameaça feita pelo oponente, Jair Bolsonaro, em discurso transmitido a manifestantes na Av. Paulista

São Paulo – O candidato à Presidência da República Fernando Haddad (PT) cobrou hoje uma reação mais firma por parte do Judiciário brasileiro e da imprensa diante das ameaças explícitas do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, e seus seguidores. “Nós vamos correr riscos, inclusive físicos. Oposição, juízes, jornalistas, ministros, estão sendo ameaçados antes do pleito terminar. Se ele tem coragem de ameaçar a democracia antes do pleito terminar, o que ele fará com apoio dos eleitores?”, questionou o petista, em entrevista, após encontro com catadores de materiais recicláveis. “Nós sabemos que quando isso aconteceu na Europa – nazismo, fascismo –, quando acordaram era tarde demais. É um pesadelo que pode durar décadas”, afirmou.

Haddad comentava duas novas declarações feitas no final de semana, uma pelo próprio Bolsonaro, outra pelo filho dele, deputado Eduardo Bolsonaro. “Vamos varrer do mapa os bandidos vermelhos do Brasil. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia”, disse o candidato a presidente pelo PSL.

Questionado sobre a possibilidade do Supremo Tribunal Federal impedir a posse de Bolsonaro, Eduardo disse que teriam de pagar para ver. “Cara, se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo”, afirmou o deputado.

“Essa turma é de milicianos. Esse pessoal é muito perigoso. São milicianos tentando tomar o poder pela força. Agora está circulando (nas redes sociais) que tem de sair com arma, com faca, com pedaço de pau, no domingo, e ficar até o final da apuração. Porque se ele não ganhar é fraude. É muito sério o que está acontecendo no Brasil, o mundo inteiro está olhando para nós e nós não estamos olhando para nós mesmos. Hoje tem editorial do New York Times lamentando a escolha que o país pode fazer, falando da fraude, das declarações violentas”, disse Haddad. “As instituições precisam reagir. Não foi só o STF que foi ameaçado. A imprensa também está sendo ameaçada”, reafirmou.

Ele parabenizou o ministro decano do STF, Celso de Mello, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por condenarem as declarações. “Bolsonaro ameaçou a sobrevivência da oposição a ele. As instituições demoram a reagir, se sentem ameaçadas, inclusive por parte das Forças Armadas. Precisamos defender o Estado democrático de direito. Como as pessoas vão se sentir seguras se ele ameaça quem pensa diferente dele?”, prosseguiu o candidato do PT.

Haddad demonstrou preocupação com a coletiva concedida pela presidenta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, acompanhada do ministro da Segurança Institucional do governo de Michel Temer, general Sérgio Etchegoyen. “As instituições estão se sentindo intimidadas inclusive pela linha dura de parte das forças armadas. O que o Etchgoyen tinha que estar dando entrevista do lado da Rosa Weber? Quem é ele? Qual a autoridade que ele tem no TSE? Ele foi lá para quê? Se colocar como uma ameaça, tutelar? Isso nunca aconteceu. Ele dizer que fake news não teve influência no resultado do primeiro turno, quem é ele para dizer isso?”, questionou.

Haddad citou como exemplos de lentidão das instituições a denúncia de que empresários financiaram a divulgação de mensagens em massa para beneficiar Bolsonaro. “O WhatsApp está ajudando mais do que a Justiça. Baniram cem mil contas, robôs. (Como pode) não ter feito busca e apreensão nas empresas que pagaram pelo disparo em massa. Como é que eu vou processar por calúnia quem me ofendeu? Ela (Rosa Weber) talvez não tenha compreensão do que é a tecnologia. Se tivesse essa compreensão saberia que com a apreensão dos computadores, nós chegaríamos aos autores dos disparos. E sabendo os autores, saberíamos quem pagou”, explicou Haddad.

O candidato do PT lembrou ainda que Bolsonaro mente quando diz que está fazendo uma campanha sem apoio nenhum, já que ele tem apoio declarado, por exemplo, do líder da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, dono da TV Record.

“Eu não acho que uma emissora de TV pode ter candidato no Brasil. A Record declarou apoio ao candidato. Uma concessão pública não pode, está errado isso. Os bancos estão apoiando o Bolsonaro, por causa do Paulo Guedes. A força e o dinheiro que ele tem por trás é desproporcional nesse pleito”, disse Haddad.

Haddad ainda aproveitou para desmentir a mais nova mentira divulgada por apoiadores de Bolsonaro: de que ele teria jogado no lixo uma Bíblia recebida como presente de um aluno da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Segundo o candidato, o livro foi furtado dele enquanto ainda estava no palco, esperando para discursar.

“Eu estava em Fortaleza, onde recebi um presente. Uma Bíblia, com uma dedicatória, de um aluno da Unilab, que me agradeceu por ter criado a universidade. Essa Bíblia sumiu no momento em que a Ana Estela estava discursando. E foi surgir na mão de um pastor que veio me acusando de ter jogado no lixo. Ela foi furtada. No mesmo palco foi furtado um celular do assessor do Instituto Lula”, relatou.