#BrasilViraHaddad

Haddad: ‘Agradeço ao povo que está hoje nas ruas para evitar o pior’

'Eu quero paz, eu quero amor, eu tô na rua pra votar num professor.' Entoando este e outros cânticos, uma multidão acompanhou o candidato nas ruas de Heliópolis, na capital paulista neste sábado (27)

Ricardo Stuckert

Acompanhado pela deputada federal Luiza Erundina, do PSB, o candidato Fernando Haddad foi recebido por uma multidão

São Paulo – O branco tomou conta da ladeiras e ruelas de Heliópolis na manhã deste sábado (27). Com bandeiras e roupas predominantemente brancas, uma multidão caminhou com o candidato à Presidência da República Fernando Haddad (PT) pelo bairro símbolo da luta por direitos, próximo à divisa com São Caetano do Sul, no ABC paulista.

Em seu último ato de campanha antes do segundo turno da eleição, neste domingo (27), Haddad agradeceu os apoios que tem recebido, como o do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa e do ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB). Mas principalmente o da população.

“Agradeço sobretudo aos milhares de brasileiros que estão hoje nas ruas para evitar o pior, que é a volta do fascismo, da ditadura, da cultura da tortura, do estupro. Acho muito importante que a população esteja tomando consciência do grande salto no escuro que representa a candidatura Bolsonaro, que nunca teve compromisso com as instituições. Nos últimos dias estão tentando adocicá-lo, coisa que ele não é. Ele é uma pessoa truculenta e perigosa. É assim que ele tem de ser apresentado ao país”, disse, assim que chegou a Heliópolis.

Aguardado também por uma multidão de jornalistas, muitos deles da imprensa estrangeira, Haddad logou subiu na carroceria de uma caminhonete e desfilou por algumas ruas do bairro, completamente tomadas.

Ao seu lado no percurso estavam sua mulher, Ana Estela Haddad, o vereador de São Paulo Eduardo Suplicy, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) e a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), entre outras lideranças.

Presente

Para o povo de Heliópolis, a visita de Haddad foi um presente. Assim que soube pela filha, na noite de sexta-feira, a dona de casa Maria Sandra, 34 anos, que preferiu não dizer seu sobrenome, logo se organizou para estar na rua logo pela manhã. Para ela, Haddad é como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso na Polícia Federal em Curitiba desde 7 de abril.

“Me arrependo muito de não ter votado em Lula na primeira vez que foi eleito. Eu não conhecia ele. Eu morava em Alagoas naquela época. E hoje voto nele. Falam que ele roubou, mas se ele roubou mesmo, ele ajudou muito a pobreza. Nenhum outro que entrou foi como ele. No tempo do Fernando Henrique, eu lembro que lá onde eu morava, pra gente assistir televisão tinha de andar duas léguas para assistir. E ligava na hora da novela. No intervalo a gente desligava, porque nem energia tinha. Era bateria. Hoje todo mundo lá tem condições. Todo mundo tem o de comer, não precisa andar pedindo alimento. Não precisa mais colocar feijão para cozinhar de manhã, comer meio dia e de noite comer o caldo. Tudo com ajuda dele”, lembrou.

Para Maria Sandra, votar no PT é um “orgulho”. E se Haddad dependesse de um só voto pra ganhar, ganharia com o meu. Eu falo isso pras pessoas que querem votar no Bolsonaro. Sou xingada de filha de p…, de miserável, por causa que eu sou petista, porque não gostam do PT, não gostam do Lula. Pra mim, até agora, ele foi o melhor. Acho que muita gente não gosta dele porque ele ajudou os pobres, é a favor dos pobres. E o rico não quer todo mundo igual”, acredita a moradora de Heliópolis.

Torcida

“Eu não sei quem vai ganhar amanhã, mas eu torço que seja Haddad, porque ele é dos pobres. Ele fez melhorias que ajudaram muita gente no bairro. Ou outro candidato, não gosto dele, do jeito dele, das respostas dele, o que fala sobre mulher. Ele não devia ser candidato, não tem amor pelas pessoas. Se ele entrar, vai ser no governo o que mostra ser”, disse dona Maria do Desterro Lopes Joaquim, 61 anos, dona de um pequeno comércio de roupas e perfumes.

De acordo com ela, é grande entre os familiares e vizinhos a expectativa de que a situação mude para melhor com um novo governo petista. “Minha família toda vota 13. Muita gente tem raiva do PT, mas aqui, não. Meu marido é doente pelo PT; a rua inteira. Acho que se for eleito, Haddad fará um governo ainda melhor, vai melhorar mais ainda. A coisa ficou feia nos últimos anos, mas deve melhorar com Haddad”, disse.

Ex-cobradora de ônibus, a enfermeira Lila Galvão, 40 anos, obteve o diploma de graduação em Enfermagem na Universidade São Marcos. Ingressou na faculdade com quase 34 anos. Queria ter entrado antes, mas não podia pagar. Estudou com bolsa integral. Com o diploma, conseguiu uma vaga como enfermeira particular, onde ficou durante três anos. “Um emprego muito bom. Consegui comprar carro e móveis para toda a minha casa”, lembra. Chegou a entrar na pós-graduação para se especializar em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas teve de abandonar quando faltavam quatro meses para concluir. Ficou desempregada e não tinha mais como pagar o curso. Hoje trabalha em uma creche em Heliópolis, onde mora, e depende de novas políticas para que possa voltar a sonhar com a conclusão do curso. “Por isso vim aqui hoje nessa caminhada com Haddad”.

O voto em Haddad no primeiro turno dessas eleições foi o primeiro que sua irmã Cléo Galvão, 45 anos, confiou ao PT em toda a sua vida. “Eu não conhecia o partido e sempre preferia votar em outros candidatos. Mas agora não dá. Acho odioso o Bolsonaro. Não voto nele de jeito nenhum; ele não tem amor no coração. Um demônio. Esse homem não pode ser eleito”.

Pamela Galvão, 18 anos, filha de Cléo, votou pela primeira vez. Em Haddad, e vai repetir o voto. “O PT tem de ganhar porque é a favor da democracia”, acredita.

Nas lajes, janelas e sacadas, famílias inteiras, crianças e muitos jovens acenavam, cantavam, faziam o “L” com as mãos e filmavam com seus celulares. No cortejo, outras tantas Marias, Lilas, Cléos e Pamelas, idosos, crianças, mulheres com crianças de colo, estudantes, parlamentares, lideranças sindicais, militantes e ex-ministros de estado, entoavam cânticos. Entre eles, “Eu quero paz, eu quero amor, eu tô na rua pra votar num professor” e “O professor chegou, o professor chegou” – este com muito mais inspiração e convicção.

RBA
As ruas do bairro símbolo de luta por direitos voltaram a ficar apertadas neste sábado