Factoide

Requião recua e não divulga ‘bomba’ contra Beto Richa em reta final no Paraná

Candidato do PMDB, que segue em segundo lugar das pesquisas de opinião e está em posição de tentar forçar o segundo turno contra o tucano, alimentou factoide que não justificou

José Cruz/ Abr

Roberto Requião participa de ato político do PMDB: candidatura promete revelações de impacto, mas não cumpre

Curitiba – No último debate antes do primeiro turno das eleições, promovido na noite de ontem (30) pela afiliada local da Rede Globo no Paraná, os candidatos a governador seguiram a tendência que tomou as eleições no último mês e partiram para o ataque. As propostas ficaram em segundo plano, e sobraram trocas de acusação com pitadas de nervosismo, e, em alguns momentos, as respostas beiraram o baixo nível. O principal alvo foi o candidato à reeleição, Beto Richa (PSDB), que lidera as pesquisas de intenção de voto. O tucano recebeu artilharia pesada dos principais adversários, Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffmann (PT).

Requião foi o responsável pela maior decepção da noite: interlocutores de sua campanha passaram o dia anunciando que o candidato faria a divulgação de uma “bala de prata” contra Richa, termo que faz alusão ao folclore do lobisomem e se refere a uma informação capaz de derrubar um candidato que tem muita vantagem sobre os demais, como é o caso do tucano na disputa eleitoral. Pelo contrário, o factoide divulgado pelo PMDB revelou-se, apenas, a união com a candidata Gleisi Hoffman (PT) em sequenciais questionamentos sobre o governo de Richa, que concorre à reeleição.

Quando Requião e Gleisi não puderam fazer o enfrentamento direto contra Richa por causa das regras do debate (cada candidato só podia ser questionado duas vezes em cada bloco), ainda assim procuraram atacar o tucano, em perguntas entre si ou direcionadas para outros candidatos. Richa, por sua vez, evitou ao máximo o confronto direto, e investiu em atingir os oponentes mais fortes fazendo as mesmas “tabelinhas” com os “nanicos”.

Requião bateu na tecla de que o estado sofre de um “apagão de gestão” e, de quebra, acusou Richa de ter “comprado” com “benesses” deputados peemedebistas para apoiá-lo na Assembleia Legislativa – segundo o tucano, a negociação se deu por meio de “habilidade política” e “diálogo”. Após Richa ter mencionado a aposentadoria vitalícia que Requião recebe – R$ 26,5 mil mensais, por ter ocupado o cargo de governador –, este reagiu: disse que a mãe de Richa, que recebe pensão do estado, não formalizou seu segundo casamento para não perder o benefício.

Já Gleisi se esforçou para desconstruir a tese de Richa, que vem argumentando que o governo federal discriminou o Paraná, dificultando alguns repasses e empréstimos ao estado. Paralelamente, a petista acusou o atual governador de ter “se apropriado” de programas federais e apresentado-os como resultado de sua gestão.

“As casas populares existem, mas pelo Minha Casa, Minha Vida. A participação do Paraná é nula neste processo. O governo federal é que está construindo mais de 220 mil casas no Paraná”, disse Gleisi. Antes, Richa havia mencionado que o governo estadual construiu 70 mil residências. “Não há perseguição [do governo federal]. É feio mentir”, completou Gleisi.

Ela ainda trocou farpas com o tucano em relação a promessas de campanha não cumpridas. Mencionou as nove unidades do Tudo Aqui – uma central de serviços, nos moldes do Poupatempo paulista – cuja implementação foi paralisada após denúncias de desvio de verbas e a falta de repasses a instituições como a TecPar e a Fundação Araucária.

A petista também criticou as concessões de rodovias e baixo índice de construção e duplicação de estradas. “Rodovias que foram pagas pelo pedágio, o governador vai inaugurar. É uma vergonha. Esse é o pedágio mais caro do país”, atacou.

Contra-ataque

Apesar de ter evitado o confronto direto com Requião e Gleisi, Richa foi ácido com ambos. Em um direito de resposta, classificou o pedetista de “mitômano” (que tem compulsão por mentir) e acusou-o de ter afugentado indústrias do Paraná, pela falta de “segurança jurídica”. “A instalação da fábrica da Renault só aconteceu porque mudou o governo [Richa sucedeu Requião]. A Nissan saiu do estado para se proteger do desgoverno que havia [quando Requião era governador]”, cravou o tucano.

No embate com Glesi, Richa contra-atacou mirando no Partido dos Trabalhadores, a quem acusou de ter “mania de se apropriar do dinheiro público”. O tucano também desviou o foco sobre seu governo, mencionando que a presidente Dilma Rousseff não honrou suas promessas de campanha. “Quem costuma não cumprir os compromissos de campanha é o PT (…). A presidente da República cumpriu metade das promessas de campanha. Prometeu construir seis mil creches no país. Construiu quatrocentas”, alfinetou.

“Nanicos”

Também participaram do debate os candidatos Bernardo Pilotto (Psol), Geonísio Marinho (PRTB), Ogier Bucchi (PRP) e Túlio Bandeira (PTC). À exceção de Pilotto, os chamados “nanicos” tiveram participações mais mornas. O socialista, no entanto, usou uma de suas perguntas para bater de frente com Richa. “Deu” ao tucano a “oportunidade” para agradecer seus “financiadores de campanha”.

Após uma resposta evasiva – o governador disse que sequer sabia quem são seus doadores –, Pilotto disse que Ambev e a Cattalini (empresa que administram terminais marítimos no litoral do Paraná) estão entre os “investidores” que colocam dinheiro na campanha de Richa, para “receber em troca” após a eleição. Na tréplica, o governador classificou os argumentos do candidato do Psol como uma “molecagem que não conquista o eleitorado”.

Pilotto pediu, mas teve negado direito de resposta. O socialista também demonstrou mágoa por ter sido o único candidato que, ao longo de todo o debate, não foi escolhido para responder nenhuma pergunta.