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‘Reforma política é nó a ser desatado para avanço das políticas do PT’, diz Vannuchi

Analista político da Rádio Brasil Atual pondera que lideranças importantes do PMDB estão tentando comprometer a aliança eleitoral com o PT com resistência à participação popular

Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados

Deputados vetaram ontem, (29), decreto presidencial de participação popular na política

São Paulo – Para o analista político Paulo Vannuchi, a reforma política é o “nó” a ser desatado para que o novo mandato da presidenta reeleita, Dilma Rousseff (PT), consiga estabelecer políticas públicas mais progressistas. Em seu comentário à Rádio Brasil Atual, Vannuchi pontua que lideranças do PMDB querem pressionar o governo e resistem às mudanças propostas pelo PT.

Ontem (28), deputados derrubaram o decreto presidencial que institui a Política Nacional de Participação Popular (PNPS), que regulamenta os conselhos participativos e outros mecanismos do governo que consultam a sociedade para a construção de políticas públicas. Principal articulador do avanço contra o governo, o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara, convocou sessão extraordinária para votar a proposta que susta o decreto da presidenta.

Alves foi candidato a governador do Rio Grande do Norte, mas perdeu para Robinson Faria (PSD), candidato apoiado pelo PT. A correligionários, o deputado declarou que a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de Faria na reta final do segundo turno foi decisiva para o resultado.

“Se Henrique Eduardo, presidente da Câmara dos Deputados, como troco de uma derrota eleitoral, ódio dele pelo resultado das urnas, tem uma atitude como essa, é ou não uma verdade que o nó a ser desatado para o governo do PT está na necessidade da reforma política?”, argumenta o analista.

Vannuchi acrescenta que Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara, quer desafiar o acordo partidário de alternância entre PT e PMDB na liderança do Congresso. Cunha vai lançar uma candidatura alternativa para tentar derrotar o PT, comprometendo a primeira metade do novo mandato de Dilma.

“Nós podemos seguir com esse tipo de aliança? E olha, no PMDB, que em tese é aliado do governo, uma liderança muito forte como Eduardo Cunha, todos os jornais sabem, quem é e, inclusive, tratam com alta respeitabilidade os seus movimentos de facilitar a eleição de dezenas de candidatos para quebrar acordo partidário”, questiona. Nesse sentido, o analista afirma que outra questão central que precisará ser enfrentada para o avanço de políticas progressistas é a democratização da mídia.

Para o Brasil realizar o marco regulatório da mídia, que já existe em países como a Inglaterra e os Estados Unidos, será preciso criar mecanismos de controle de crime de imprensa. Crimes eleitorais, como o que a revista Veja cometeu na última sexta-feira (24), dois dias antes da eleição, ao publicar matéria acusando, sem provas, Dilma e Lula de serem condescendentes aos esquemas de corrupção na Petrobras, seriam proibidos com regulação da mídia. “A sua capa golpista foi um panfleto tucano, nos últimos dias de campanha, e fez Aécio Neves subir. Eu me pergunto, se a eleição fosse segunda, terça-feira, o resultado não seria outro? Seria uma vitória de Aécio completamente deslegitimada”, diz.

Com relação às manifestações do eleitorado do PSDB, que acusam os governos petistas de serem antidemocráticos e semelhantes à Venezuela, Vannuchi pontua que é importante entender que o projeto político de mudança é “muito distinto”, não se inspira na saída Venezuela. “Lula e Dilma defendem a Venezuela, como a Venezuela tem que ser defendida, como uma experiência democrática com o seu enfrentamento ao poderio norte-americano”, explica.

No entanto, o analista político diz que, se em algum momento sair da “trilha democrática”, o Brasil não deve apoiá-la. Outro aspecto esclarecido por ele é com relação à classe média brasileira, que nos últimos períodos de campanha consolidou-se como oposição. “Se ela vai em bloco para uma oposição de ódio, como aparentemente se desloca nos últimos períodos, realmente o país vira ingovernável.”

Nesse sentido, é preciso que o governo dialogue com esse grupo e busque desconstruir o discurso que ainda crê em uma possível separação do país.

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