Análise

Para filósofo, ‘governabilidade’ de Dilma depende de diálogo com população

José Antonio Moroni entende que presidenta deve dar respostas rápidas a demandas apresentadas por setores da sociedade durante a campanha. Para ele, se petista depender do Congresso estará 'perdida'

Ichiro Guerra/ Flickr

Moroni acredita que reforma política só será possível se Dilma levar a discussão para a sociedade

São Paulo – O filósofo José Antonio Moroni, membro da Direção Colegiada do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), avalia que Dilma Rousseff, presidenta reeleita pelo PT, “não tem muita saída” além de se aproximar de movimentos sociais e da população no próximo mandato. “Ou a Dilma governa com o povo na rua apoiando e ela pautando a reforma que está todo o mundo querendo, ou ela vai ter a população contra ela”, opina.

Para Moroni, o primeiro governo da petista foi “extremamente tecnocrata”, com pouca relação com a sociedade. Ele acredita que, se Dilma repetir a estratégia do mandato atual e deixar sua “governabilidade” na relação com o Congresso, ela estará “perdida”.

“Algumas sinalizações ela precisa fazer logo”, afirma. O filósofo acredita que Dilma precisa “dizer melhor” como tratará temas como a reforma política, a criminalização da homofobia e a demarcação das terras indígenas, uma agenda ignorada durante a campanha. “Se ela não tratar desses temas, ou deixar em segundo plano como fez no primeiro mandato, ela vai ter dificuldade de governar”, explica.

A reforma política, uma das prioridades declaradas por Dilma, não pode ser feita no Congresso, na avaliação do filósofo. A presidenta tem exposto o desejo de que se realize um plebiscito para tratar do tema. Moroni considera que a forma com que o parlamento é eleito faz com que não tenha “condição nenhuma” de formatar uma mudança no sistema partidário. “Pelo próprio parlamento, tem 28 partidos políticos, não tem lideranças internamente que possam fazer um processo de negociação.”

No entanto, Moroni acredita que, caso Dilma “realmente” coloque isso na agenda e chame a sociedade pra discutir, como forma de não ficar “refém da institucionalidade”, é possível realizar a reforma política.

Disputa acirrada

Ele entende que o envolvimento de organizações e movimentos sociais, além de grupos ligados a outros partidos políticos, como Psol, foi um fator decisivo na reeleição, vencida por uma diferença de pouco mais de três milhões de votos. “O que fez diferença realmente no final da campanha foi o envolvimento dessa militância ligados a esses grupos de esquerda de todo o Brasil.”

Além de uma conjuntura diferente das eleições de 2010, Moroni avalia que a disputa não foi meramente uma oposição entre PT e PSDB, no segundo turno. “Foi praticamente uma eleição do PT mais alguns grupos e organizações políticas contra o restante. Contra a mídia, contra o mercado financeiro.”

Por isso, o filósofo considera que mesmo não sendo uma vitória expressiva do ponto de vista da diferença numérica, houve um triunfo importante do ponto de vista político. “Mostra que esse projeto de inclusão, de procurar uma certa igualdade, com todas as contradições presentes nele, tem força na sociedade.”