Guerra da comunicação

Na zona leste paulistana, Dilma critica tom agressivo da oposição

Em encontro na periferia de São Paulo, presidenta diz que oposição tenta difundir inverdades; já Lula acusa a disseminação de ódio contra o PT e pede que Dilma não entre no 'jogo rasteiro' de Aécio

Ichiro Guerra / Dilma 13

No “Encontro Cultura e Juventude: Periferia com Dilma’, Lula pediu para Dilma não entrar em provocações de Aécio

São Paulo – A presidenta e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) voltou a criticar o tom belicoso da campanha eleitoral deste segundo turno, disseminado por Aécio Neves (PSDB) e pela mídia tradicional. “Nós estamos diante de uma eleição, talvez a eleição mais conflituosa dos últimos anos. Nunca uma eleição teve aspectos tão agressivos quanto esta.” As declarações foram feitas ontem (20), diante de representantes dos movimentos sociais de cultura e juventude durante encontro em uma praça do Conjunto Habitacional José Bonifácio, em Itaquera, bairro da zona leste de São Paulo.

Participaram artistas do movimento hip hop brasileiro, como GOG, Emicida, Crônica Mendes, Negra Li, Markão DMN, representantes da Liga do Funk, como o MC Thelles Henrique, e também autoridades políticas, como o  ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado federal reeleito pelo Rio de Janeiro Jean Wyllys (Psol) e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Essa agressividade, segundo Dilma, tem raiz em “uma tentativa sistemática de pregar inverdades, informações parciais”. “Nós enfrentamos uma verdadeira guerra da comunicação contra aquilo que é a verdade dos fatos neste país, quando não ocultam”, afirmou a candidata petista, citando a campanha do PSDB, que atribui a criação de programas como o Bolsa Família e o Prouni a governos tucanos.

“Ora, eles foram contra o Bolsa Família. Chamaram o Bolsa Família de Bolsa Esmola. Aquilo que eles falam que é a origem do Bolsa Família  não passa de um programa pequeninho, feito para poucos. Pra vocês terem uma ideia, o que eles gastaram em oito anos a título de Bolsa Família  é o que nós gastamos em dois meses pagando Bolsa Família. Hoje, eles falam que farão o Prouni. Como? Se eles entraram na Justiça querendo anular o Prouni“, acrescentou.

Dilma disse que o PSDB até faz programas sociais, mas para “muito poucos” beneficiados, “porque, na origem, no meio e no fim, eles [PSDB] são elitistas. Eles são aqueles que não olham o povo. Eles são aqueles só olham a minoria.” “É um bando de mentiras colocadas num papel celofane, aparentemente defendendo aquilo que é indefensável.”

Ela também atribuiu a campanha dura como uma forma da candidatura como tática adotada pelos adversários, que entregaram o governo federal em 2002 com taxas de desemprego elevadas e tendo “quebrado três vezes” o país. “Daí porque a conversa tem que, preferencialmente, baixar o nível, porque é o único nível que eles conseguem disputar de fato e de direito. Eles condenaram o Brasil e nós fizemos no Brasil.”

A presidenta ainda assumiu compromissos com negros, mulheres e LGBT. “Eu tenho o compromisso de lutar contra a discriminação da juventude negra desse país, contra os autos de resistência, contra esse morticínio. Assim como tenho um compromisso de lutar contra a violência que vitima a mulher. E também contra a homofobia, temos que criminalizar a homofobia. E para desenvolver a democracia, vai precisar de uma reforma política”, comprometeu-se a presidenta.

Ódio seletivo

Em seu discurso, Lula acusou a oposição de difundir o ódio contra o PT. “Nós nunca falamos com eles metade das grosserias que eles falam com a gente. Tem gente sendo agredido nas ruas, tem gente sendo agredido nas periferias desse país e é ódio que eles conseguiram disseminar contra o PT, contra a esquerda, contra a presidenta Dilma.”

Um dos reflexos disso, de acordo com o ex-presidente, é o discurso de negação da política, que, como resultado prático, se refletirá em uma composição mais conservadora do Legislativo federal nos próximos quatro anos. “Seis meses atrás, eles tentavam insinuar que a juventude não gostava de política. E eles tentaram fazer a juventude negar a política, falando mal a vida inteira da política pra tentar negar. Porque toda vez que a sociedade nega a politica, o que vem é pior”, disse o ex-presidente.

“Você vai ver, presidenta, que o Congresso Nacional eleito agora é um pouco pior que o que termina o seu mandato. Pior do ponto de vista ideológico. Foi eleito mais ruralista, foram eleitos representantes dos empresários e foram eleitos menos representantes de vocês (trabalhadores) no Congresso Nacional. É importante a gente ter em conta que uma das coisas que a elite sabe fazer muito bem é negar a política todo santo dia para que vocês não gostem de política. E a desgraça de quem não gosta de política? É que é governado por quem gosta. E se quem gostar forem só eles, nós estamos prejudicados”, adicionou.

Lula se mostrou indignado por Aécio Neves ter chamado Dilma Rousseff de “leviana” e “mentirosa” ao longo do segundo debate eleitoral do segundo turno. “Eu jamais imaginei que um pretenso candidato a presidente da República pudesse chamar a presidenta de mentirosa nas câmeras de televisão. Eu jamais imaginei que ele pudesse chamar a nossa presidenta de leviana”, afirmou, acusando o adversário tucano de ser agressivo e cínico apenas para deixar Dilma nervosa.

“Não é possível que esse rapaz não tenha tido educação de berço para respeitar as pessoas mais velhas do que ele, respeitar as mulheres, respeitar uma mãe e uma avó, mas, sobretudo, respeitar uma mulher que está num cargo que é uma instituição, a Presidência da República.”

Para o ex-presidente, a resposta que será dada para a oposição será uma nova vitória nas urnas, mas ele pediu para que Dilma mantenha os nervos sob controle para o último debate presidencial, marcado para esta sexta-feira (24) na Rede Globo. “Você vai ter o último debate da televisão. Em nenhum momento, companheira, se iguale a ele. Em nenhum momento, faça o jogo rasteiro que ele está fazendo. Em nenhum momento, aceite provocação.”

“Não tem folga. Daqui para frente é a Miriam Leitão falando mal da Dilma na televisão, e a gente falando bem dela (Dilma) na periferia. É o (William) Bonner falando mal dela no Jornal Nacional, e a gente falando bem dela de casa em casa. Nós contra eles”, finalizou.

“Eu tenho memória”

O deputado Jean Wyllys ressaltou, entre os motivos para apoiar Dilma, a abertura para o diálogo num segundo mandato da presidenta e avanços que a administração do PT no governo federal trouxeram para o Brasil.

“No primeiro turno, eu não votei na presidenta Dilma, mas no segundo decidi votar na presidenta Dilma porque, de fato, o governo do PT, além de todos os avanços desses 12 anos, é o governo que se abre para o diálogo com essas minorias. Não há diálogo noutro espaço. Então, por esse motivo, eu decidi não lavar as mãos e ficar em cima do muro. Eu assumi um lado, com a consciência de que vou continuar fazendo pressão para que haja políticas públicas pra essas minorias. O governo precisa disso e eu sei que ele vai se abrir para isso”, destacou o parlamentar.

“Além disso, eu tenho memória. Quando eu entrei na faculdade de comunicação da UFBA (Universidade Federal da Bahia) só havia uma pessoa que pegava ônibus na minha turma, que era eu. Pegava ônibus e trabalhava. Os demais todos tinham carro e não havia um negro na sala de aula. Eu voltei agora para dar uma palestra e agora a paisagem humana da faculdade de comunicação mudou. Hoje, há negros e pessoas da periferia. Isso é muito significativo e eu não posso desprezar isso neste momento. Então, estou com a presidenta Dilma.”