Manchetômetro

Na mídia tradicional, Aécio recebe cinco vezes mais menções favoráveis que Dilma

Ao longo do segundo turno, tucano ganhou 25 notícias a seu favor no Jornal Nacional e nas capas de Folha, Estadão e O Globo. Na outra ponta, petista teve 46 matérias negativas, contra 18 do adversário

Gustavo Serebrenick/Brazil Photo Press/Folhapress

William Bonner, do JN, entre Dilma e Aécio: denúncias envolvendo petistas interessam mais

São Paulo – O candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Neves, contou com cinco vezes mais reportagens positivas que sua adversária no segundo turno, a candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff. Levantamento divulgado pelo Manchetômetro mostra queJornal Nacional, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo exibiram ou publicaram 25 matérias favoráveis ao tucano nas últimas três semanas, contra cinco para a petista – no caso dos jornais impressos a contabilidade inclui apenas a capa.

Na outra ponta, a presidenta sofreu 46 notícias contrárias, sendo 17 só na última semana, contra 18 do oponente, segundo contabilidade feita pelos integrantes da iniciativa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O equilíbrio só se nota nas reportagens consideradas neutras: 89 para a petista e 88 para o tucano.

A exemplo do que ocorreu ao longo de todo o ano, “escândalos” ou problemas de gestão envolvendo petistas despertaram mais interesse da mídia tradicional que casos do mesmo gênero com envolvimento de tucanos. Nas três semanas do segundo turno, foram 107 reportagens sobre o PT, cem delas a respeito da Petrobras, e 44 contra o PSDB, 40 sobre a falta d’água em São Paulo. Até o fim de semana anterior ao primeiro turno, 567 reportagens trataram de “escândalos” com participação de petistas, contra 187 em que apareciam quadros tucanos.

Em números absolutos, o veículo que mais publicou chamadas de capa contra Dilma nas últimas três semanas foi o Estadão: foram 23 ao longo do segundo turno, contra 6 de Aécio. Já as menções positivas foram 14 para o tucano, contra uma para a petista.

Em termos proporcionais a maior desvantagem para Dilma esteve nas páginas de O Globo, com 12 reportagens desfavoráveis na primeira página, frente a duas do oponente, que por sua vez ganhou cinco matérias positivas, três a mais que a petista.

O Jornal Nacional teve seis matérias negativas para Dilma e duas para Aécio. Já as menções positivas marcam placar de três a um para o tucano.

Em termos absolutos, a Folha é o jornal menos negativo para a presidenta, que recebeu cinco reportagens desfavoráveis na capa, contra oito de Aécio, que de outro lado recebeu três textos positivos, dois a mais que a adversária.

Os responsáveis pelo Manchetômetro alertam, porém, que isso não significa que o trabalho do jornal paulistano tenha necessariamente sido favorável à petista. Ao analisar qualitativamente a amostra, os pesquisadores destacam especificamente a edição de hoje do diário, que ecoa a reportagem de véspera da revista Veja. A publicação do Grupo Abril acusa Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva de conhecimento de um esquema de desvio de verbas da Petrobras.

O caso foi ignorado pelo Jornal Nacional, mas, na Folha, recebeu amplo destaque, fazendo eco a uma denúncia desmentida pelo advogado do suposto delator do caso de corrupção e que revoltou a presidenta e o ex-presidente. “O caderno eleições do jornal paulista, que concentra as matérias sobre o assunto, é na verdade um grande panfleto sobre o ‘escândalo da Veja‘”, assinala artigo assinado por João Feres Júnior, um dos responsáveis pelo Manchetômetro.

“A cobertura que a grande mídia fez da campanha de 2014 é um retrato de sua posição hoje na sociedade brasileira. Ao invés de cumprir a função de sustentáculo da formação da opinião pública democrática, nossa mídia expressa interesses partidários mesquinhos por meio da distorção das matérias e da escolha discriminatória do que é noticiado.”

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