Entrevista

‘Movimentos, governo do PT e partidos à esquerda precisam investir em agenda comum’

Para Renato Simões, Legislativo mais conservador precisará ser pressionado pela sociedade para tirar do papel reformas estruturais necessárias, como a reforma política e a regulamentação da mídia

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Renato Simões (no centro) tem se manifestado nas ruas ao lado de outros ativistas pela reforma política

São Paulo – Representante das tendências petistas à esquerda da direção partidária, o deputado federal Renato Simões (SP) foi uma das baixas causadas pela ascensão-surpresa dos partidos conservadores na reta final das eleições: ele, assim como outras lideranças identificadas com uma atuação parlamentar mais combativa e próxima dos movimentos sociais, não conseguiu mandato na Assembleia Legislativa. Às vésperas de uma legislatura para a qual projetava-se a necessidade de realizar reformas profundas no Estado brasileiro, como a reforma política, a reforma tributária e a regulamentação da mídia, Simões avalia que a missão agora está mais difícil e vê no retorno às ruas a única esperança de pressionar o Congresso a ser mais ágil na absorção das demandas populares.

Já tivemos melhores oportunidades para fazer as grandes reformas nacionais, só que fizemos opções políticas que atrasaram o enfrentamento dessas questões. Agora, a gente aprende no amor ou na dor. O PT vai ter de aprender, em condições adversas, a como ter uma maior aproximação com os movimentos sociais e com as esquerdas políticas”, diz Simões. “O PT precisa defender uma agenda comum entre governo e movimentos sociais, uma agenda mínima de consenso para a construção das reformas democráticas e populares. Mesmo preservando a autonomia das instituições, mesmo levando em conta que as divergências devem continuar sendo debatidas, é preciso uma agenda mínima para impulsionar as reformas”, conclui.

Para o deputado, após 12 anos no poder, o PT “tem um conjunto de avanços econômicos e sociais a mostrar, mas, ao mesmo tempo, pecou na disputa político-ideológica”, e sofre ainda com forte campanha contrária movida pela mídia tradicional. “Colhemos, também, a rejeição criada por uma mídia que não foi regulamentada. Evidentemente, que falta a democratização das comunicações. Isso permitiu que ela se tornasse o maior partido de oposição do Brasil e formasse uma opinião pública refratária ao PT e às esquerdas”, analisa.

Nesse cenário, em que o PT acabou tendo sua imagem pública nivelada a dos partidos de centro e de direita e encontra-se distante do diálogo com as bases, Simões vê o plebiscito pela reforma política como ponto de retomada do diálogo do partido com a juventude e com as demandas das ruas.

Demos um passo positivo ao assumir o plebiscito popular pela constituinte. De certa forma, o PT deu sequência ao diálogo que iniciou com os movimentos em junho de 2013 por meio da campanha do plebiscito popular. Temos de reconhecer que não foi todo o PT que priorizou essa bandeira, mas, graças a essa campanha, temos uma base de massa mais fortalecida que antes”, afirma. Para Simões, a divulgação dos próximos passos da campanha do plebiscito, marcada para outubro, será momento essencial para que o PT comece a construir a presença nas ruas que será necessária a partir de 2015, para reduzir o poder de pressão das bancadas conservadoras no Congresso.