Mobilização e diálogo

Pequenos agricultores prometem ‘mais vigilância’ por políticas públicas

Federação promete tomar as ruas em apoio à presidenta, mas exige que governo defina de qual lado está: 'não dá para acender uma vela para Deus e outra para o diabo'

Antônio Cruz/ABr

Federação da Agricultura Familiar: sindicatos vão retomar as bandeiras históricas, fora da pauta, como a reforma agrária

São Paulo – Se depender dos agricultores familiares, a presidenta reeleita Dilma Rousseff (PT) poderá finalmente fazer as reformas política, tributária, agrária e seguir na criação de políticas e programas sociais que integram a pauta histórica dos movimentos, mesmo com minoria no Congresso. Para isso, eles estão dispostos a ir para as ruas seja para apoiar ou para pressionar o governo. “A vitória de Dilma é uma vitória nossa, de nossas bases, do intenso debate e da mobilização em apoio à candidatura”, afirma o secretário-geral de Comunicação da Federação da Agricultura Familiar (FAF/CUT) e militante da igualdade racial Elvio Motta, que espera um segundo mandato “melhor” que o primeiro, que não colocou em pauta temas caros ao movimento, como a reforma agrária e o banimento dos agrotóxicos, entre outros.

“Vamos estar mais vigilantes do que nunca para que as mudanças sejam feitas, mas, para isso, o governo vai ter que se posicionar claramente, mostrar de que lado está. Não dá para acender uma vela para deus e outra para o diabo”, sublinha. De acordo com ele, os agricultores e os movimentos sociais como um todo não estão mais dispostos a continuar abrindo mão de reivindicações históricas, como reforma agrária e igualdade racial, entre outras, em nome da governabilidade. E o estado brasileiro segue distante de uma democracia plena e continua machista, sexista e racista.

“Há um ditado que diz que feijão velho só cozinha na pressão. Nosso diálogo vai ser na rua. Não vamos cair no mesmo buraco novamente. Aprendemos a lição. Estaremos nas ruas tanto em termos de apoio como para reivindicar, porque, se não fizermos isso, ela não governa”, pondera Elvio. Na avaliação do agricultor, Dilma foi sincera no discurso da noite de domingo (26), logo após a confirmação da reeleição, quando se comprometeu a dialogar mais. Para ele, o recado foi direto aos movimentos sociais. “Ela está ciente de que ou dialoga ou passamos por cima. Ela vai ter de sentar muito conosco. E se não contar com nosso apoio, com quem vai contar? Com o agronegócio? Os bancos?”, questiona.

Reeleição

O “susto” com a possibilidade de vitória do senador Aécio Neves (PSDB) nas eleições presidenciais uniu os movimentos, conforme Motta, que acredita que, se o tucano não tivesse figurado bem em pesquisas eleitorais da mídia tradicional, talvez a mobilização na reta final da campanha não tivesse ocorrido. “De um lado, Dilma dando sequência ao projeto herdado de Lula, pactuado com a esquerda e os movimentos sociais. E de outro, um projeto construído na concepção neoliberal. É em nome desse avanços que temos de seguir adiante. Imaginar os neoliberais de novo. Houve, então, uma convergência, uma união em torno de Dilma para afastar a eleição do tucano.”

Motta discorda da presidenta, que negou haver uma divisão no país. Para ele, há, sim, dois “brasis”, como se fossem dois países. Um, formado pelo Sul, Sudeste e Centro Oeste, e o outro por Norte e Nordeste. E, para ele, são os nordestinos que têm feito a diferença. “De novo, o Nordeste tem dado lição de luta e elegeu a proposta mais avançada. O resto do país não teria levado Dilma à reeleição”.

Ele espera também que os governadores tomem novas posições nos corredores da governabilidade. “Ou estão junto, ou não estão”, diz, num recado claro ao partido aliado PMDB e outras alianças “descabidas”, como o PSD, que não guarda identidade histórica com o Partido dos Trabalhadores. E propõe a reflexão sobre os aliados coerentes e afinados com a construção de um novo país.

Elvio Motta considera a regulamentação da mídia uma questão das mais relevantes, principalmente no Brasil rural, que carece de alternativas para informação e entretenimento. Por isso, é uma das reformas que não podem deixar de ser feitas. “Vamos para cima. Vamos quebrar o monopólio da mídia. Ou quebramos, ou não vamos construir nada.”