Análise

‘Se a Marina apoiar o PSDB, vai liquidar a nova política’, diz Aldo Fornazieri

Cientista político avalia que candidata do PSB deve ficar neutra no segundo turno se quiser ser coerente com discurso de campanha. Para ele, PT precisa de 'revisão'

EFE/Fernando Bizerra Jr.

Marina e o PSB definem esta semana que rumo tomam na campanha. Apoio a Aécio seria fatal

São Paulo – “Se a Marina apoiar o PSDB, vai liquidar a nova política”, avalia Aldo Fornazieri, cientista político e professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Para ele, o candidato à Presidência da República do PSDB, Aécio Neves, não tem “nada de nova política”.

No entanto, Fornazieri diz que teria a mesma opinião caso Marina Silva (PSB), terceira colocada no primeiro turno das eleições presidenciais, decidisse apoiar a candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff. “Se ela fosse coerente com a campanha que fez e com a trajetória dela, deveria ficar neutra. Aí você poderia acreditar que ela ainda teria uma chance de viabilizar qualquer nova política.”

O professor afirma que apoiar o tucano Aécio mostraria que Marina “enganou a população”, o que a tornaria uma alternativa política “inconfiável e a expressão mais dura e mais viva da velha política”.

À direita

Para Fornazieri, as eleições de 2014 representaram uma guinada conservadora. Ele diz que existem motivos para que os setores mais progressistas da sociedade temam pelo retrocesso de direitos sociais e civis. A eleição com votações expressivas de deputados federais como Jair Bolsonaro (PP), no Rio de Janeiro, e Marco Feliciano (PSC), em São Paulo, entre outros, é motivo para “grandes preocupações”, segundo o cientista político.

“É espantoso como a sociedade está à deriva, de certa forma, e não se vê partidos capazes de dar direção política porque eles (os partidos) se recusaram, se acovardaram diante das temáticas cruciais da sociedade”, critica. “Os poucos que tiveram coragem de expor as ideias de forma franca foram o Psol e, em parte, o Eduardo Jorge (PV).”

Apesar das constantes manifestações nas redes sociais de decepção com o resultado das eleições após as manifestações de junho de 2013, Fornazieri acredita que a sociedade, no geral, apelou para candidatos com discursos e ações baseados na “ordem”. “Quando surgem manifestações e elas têm um caráter espontâneo e ninguém as dirige, a tendência é um retrocesso. A sociedade começa a apelar para a ordem.”

Sobre o desempenho do PT, o professor avalia que o partido se “recusou a interagir e dialogar” com as manifestações, assim como outras siglas que as ignoraram “solenemente”. “O único que tentou ter um diálogo maior foi o Psol, mas é um partido pequeno, que não consegue dar direção à sociedade como um todo”, pondera.

Oposição?

“A vitória do Alckmin é a expressão da falência do PT em São Paulo”, ressalta o professor. Ele considera que o PT nunca fez oposição aos governos tucanos no estado, “sempre manteve uma condição de conveniência e de subserviência na Assembleia Legislativa”, enfatiza.

Fornazieri lembra um momento histórico quando, mesmo em minoria, o PT teve uma bancada combativa e cumpriu papel decisivo. O exemplo é baseado na capacidade de mobilização petista durante a Assembleia Nacional Constituinte, na década de 1980, o que, de acordo com o professor, não ocorre em São Paulo há muito tempo. “Os governos tucanos viveram num mar tranquilo, governaram com toda a tranquilidade porque nunca tiveram oposição.”

O professor comenta que “há praticamente um colapso do PT em São Paulo” e acredita que exista uma crise de perspectiva ideológica nos métodos de fazer política por parte da legenda. Na opinião dele, o partido tem de “se rever como um todo”.

Sobre a disputa pela Presidência, Fornazieri destaca que o segundo turno será muito acirrado e que, independentemente de quem ganhar a eleição, a negociação no Congresso Nacional será mais difícil, já que a fragmentação partidária será ainda maior do que na atual legislatura. “Entendo que os grande partidos, como PT, PMDB e PSDB, são responsáveis por esse caos político que está criado no país, por essa fragmentação crescente na representação congressual”, critica.