Reta final?

Na Globo, polarização entre Dilma e Aécio divide protagonismo com Luciana Genro

Entre os candidatos mais bem colocados nas pesquisas, presidenta e senador centralizaram atenções no último debate do primeiro turno, deixando Marina Silva (PSB) em segundo plano

Fabio Braga/Folhapress

Dilma buscou polarização com Aécio, e Marina, em queda nas pesquisas, não conseguiu protagonismo

São Paulo Mais acalorado de todos os debates da atual campanha presidencial, o evento promovido nesta quinta-feira (1ª) pela Globo teve embates no topo e na rabeira das intenções de voto. A disposição física do estúdio escolhida pela emissora, ao colocar frente a frente perguntador e perguntado, separados por poucos centímetros, ajudou a esquentar o clima. A promessa já era de altas temperaturas devido à indefinição do cenário eleitoral, caminhando para um final em primeiro turno ou para uma mudança de última hora na composição do segundo.

Entre os candidatos mais bem colocados nas pesquisas, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) centralizaram atenções, deixando Marina Silva (PSB) em segundo plano. A polarização ocorreu pela primeira vez nos cinco encontros realizados no primeiro turno e alterou o quadro anterior, que colocava o senador tucano em posição de coadjuvante.

Em alta nas sondagens, Aécio foi procurado três vezes por Dilma para comentar sobre política habitacional, papel das estatais e mudanças climáticas. O embate mais claro se deu em torno da questão das empresas públicas, quando a petista atribuiu ao tucano o rótulo de favorável às privatizações e o tucano respondeu dando à petista o papel de conivente com a corrupção.

“Nossas propostas são muito claras: privatizamos setores que precisavam ser privatizados”, afirmou Aécio. “No meu governo, estou aqui afirmando, a Petrobras vai ser devolvida aos brasileiros. Teremos uma direção da empresa profissional.”

Dilma rebateu acusando o PSDB de tratar com irresponsabilidade extrema a venda de empresas públicas. “Vocês praticamente entregaram para nós a Caixa e o Banco do Brasil numa situação extremamente precária. Hoje são bancos extremamente sólidos.”

A questão econômica voltaria a opor os dois candidatos numa pergunta feita por Aécio, expondo o tom do que seria um novo segundo turno entre PT e PSDB, com a oposição entre Estado maior e Estado menor. “Fui bem-sucedida quando se compara o que aconteceu com os governos do qual o senhor era líder, que quebraram o país três vezes”, disse a petista, que em duas oportunidades recordou que o ministro da Fazenda de um governo tucano seria Armínio Fraga. Hoje sócio de uma consultoria privada, Fraga foi presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso e é conhecido pelas declarações recentes de que o salário mínimo é muito elevado e de que “um pouco mais de desemprego” seria benéfico à economia.

“Tem alguns momentos que eu acredito que o senhor nega a realidade do que aconteceu no Brasil naquele período em que vocês foram governo. A realidade é que vocês desempregaram 12,5%, tiveram, ao mesmo tempo, uma taxa de juros que bateu todos os recordes. Tiveram a capacidade de colocar o Brasil de joelhos diante do FMI. A partir do que o senhor se considera capaz e eficaz na sua comparação com o meu governo?”

Orlando Brito/Coligação Muda Brasil
Aécio, que ainda tem chance de ir a segundo turno no lugar de Marina, teve mais aparições desta vez

Economia também foi o tema que opôs Dilma e Marina. Curiosamente, o assunto sorteado pela emissora para a pergunta da candidata do PSB foi “papel do Banco Central”. A questão custou semanas de embate devido à defesa feita pelo programa da ex-ministra de que o órgão de regulação do sistema financeiro tenha independência em relação ao chefe do Executivo.

Na pergunta, Marina disse que Dilma, em 2010, defendeu a autonomia do Banco Central, e que agora, supostamente, estaria contra. “Acho que você, deliberadamente, está confundindo autonomia e independência”, respondeu a presidenta, claramente em seu momento mais exaltado, reiterando a visão de que é impossível tornar independente um órgão que não seja um poder constitucional. “Sugiro que a senhora leia o que escreveram no seu programa. Porque a senhora está deliberadamente tentando confundir independência com autonomia.”

Marina defendeu que é necessário dar “autonomia” ao Banco Central para que não sofra interferência política. “Está falando a Dilma das eleições. E não a Dilma das convicções. Que por não ter experiência política e ter virado presidente da República, não ter sido nem vereador, e virado presidente da República, sabe o que acontece? Confunde os poderes”, acusou, sofrendo em seguida uma rebatida da presidenta: “A minha inexperiência política, é interessante vindo de uma pessoa que defende a nova política. Quer dizer, candidata, que uma pessoa que não fez a carreira de vereadora, deputada, senadora, ela não pode ser presidenta? Onde isso está escrito? Não na nossa Constituição.”

Após a contra-argumentação de Dilma, Marina tentou reagir e seguiu falando, mas, de acordo com as regras do debate, a tréplica da presidenta era o limite. A candidata do PSB se mostrou abatida e não voltou ao assunto em outras oportunidades.

De Aécio partiu o convite para que Marina falasse sobre mudanças na legislação trabalhista. O tucano evocou argumento frequente utilizado na disputa contra a candidata do PSB, a quem acusa de promover mudanças de posição que provocam insegurança. Marina se defendeu afirmando que não vai permitir alterações que retirem direitos dos trabalhadores e que tem um “plano de governo claro” nesse sentido, o que a diferencia dos oponentes, que não tiveram a preocupação de expressar por escrito suas propostas.

Obstáculos

À parte os confrontos diretos, os três candidatos mais bem colocados encontraram terreno relativamente fácil ao se depararem com Levy Fidelix (PRTB), Eduardo Jorge (PV) e Pastor Everaldo (PSC), este último claramente empenhado em ajudar Aécio e Marina a responderem a perguntas confortáveis.

Mais uma vez, partiram da candidata do Psol, Luciana Genro, as perguntas mais espinhosas para Dilma, Aécio e Marina. A política gaúcha começou por impor constrangimentos à emissora anfitriã logo em sua saudação inicial. “Hoje estou aqui por força da garantia da lei, porque durante toda a campanha eleitoral a Rede Globo só mostrou os candidatos que têm propostas para atacar as famílias do Brasil, dentre as quais a família que é dona da Rede Globo. O escândalo da Petrobras é resultado das alianças com a direita que vocês fizeram?”, afirmou, dirigindo-se à presidenta.

“Gostaria de dizer que nessa campanha propus medidas concretas contra a corrupção”, respondeu Dilma, que na última semana apresentou um pacote com cinco propostas para transformar caixa dois em crime eleitoral, garantir julgamento mais rápido de casos de desvio de recursos públicos, tornar mais severas as penas nessa seara e garantir o confisco de bens de servidores que apresentem enriquecimento ilícito. “Não acho que sejam alianças que defendem corruptos. Corruptos há em todos os lugares. O que é necessário é que as instituições possam investigar.”

No segundo bloco, Luciana questionou Marina sobre como seria possível ter propostas cidadãs para a segurança pública estando atrelada a economistas que seguem lógica muito parecida às defendidas pelo PSDB. “Tu, por uma questão eleitoreira, faz questão de me colocar no mesmo plano que tu sabe que eu não tenho”, ressaltou a candidata do PSB, que disse ter propostas muito parecidas com as da adversária. “Temo, Marina, que tu ceda a pressões para uma segurança pública militarizada, uma segurança pública violenta. Porque, afinal de contas, tu tem cedido a várias pressões”, respondeu Luciana. Ela citou os casos das pressões do agronegócio, do setor financeiro e de representantes religiosos de setores conservadores para demonstrar como Marina desiste de compromissos em benefício de acordos.

Logo na abertura do terceiro bloco, Luciana perguntou a Aécio sobre corrupção, acusando o tucano de não ter condição moral de debater com Dilma nessa questão, já que tanto PT como PSDB têm casos conhecidos de desvios. “Vejo que você faz aqui com o tema livre o seu espetáculo, sem a menor conexão com a realidade”, lamentou Aécio, que ficou exaltado ao ouvir a réplica da oponente. “Aécio, tu é tão fanático das privatizações, e da corrupção, que tu chegou ao ponto de fazer um aeroporto com o dinheiro público e entregar a chave para teu tio, e isso tu ainda não explicou devidamente para o povo brasileiro.”

O tucano teve, então, o momento de maior nervosismo no debate, criticando a postura da candidata do Psol. “Acusações levianas em véspera de eleição não servem a um debate desse nível. Lamentavelmente, você não está preparada para disputar a Presidência da República.”

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