Segundo turno

‘Discurso da nova política de Marina se esvaziou’ com apoio a Aécio, diz Padilha

Para ex-candidato do PT ao governo de São Paulo, apoio ao tucano Aécio Neves não surpreendeu. Partido vai atrás dos votos da pessebista e dos que votaram nulo, branco ou se abstiveram

Adriano Vizoni/Folhapress

Padilha questiona se a campanha do PT vai “bancar” o confronto com a mídia tradicional

São Paulo – O ex-candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, diz que o partido procura, no segundo turno, no estado, conquistar os votos que foram para Marina Silva (PSB) e disputar os eleitores que votaram nulo, branco ou se abstiveram. Reforçar o diálogo com a juventude e, além disso, atrair pessoas que, na base social, ascenderam nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, mas votaram em Marina, também são parte da estratégia petista.

Padilha afirma não ter se surpreendido com a declaração de apoio de Marina a Aécio Neves, feita no domingo (12). “A Marina foi Marina. O discurso da nova política se esvaziou, na medida em que ela abraça o que existe de mais atrasado na política brasileira, que foram os governos do PSDB”, diz o ex-ministro da Saúde. “A própria presidenta Dilma já disse que considerou natural o posicionamento. Com as posições que ela vinha defendendo, é natural.”

Ele diz também que o momento não é o de debater ou explicar os motivos que provocaram um desempenho do PT abaixo da expectativa no estado de São Paulo e entende ser uma “falácia dizer que só a campanha e a candidata do PT fizeram ataques à Marina.”

Logo depois de divulgados os resultados do primeiro turno, aliados da ex-candidata do PSB, como o vice de sua chapa, Beto Albuquerque, já se adiantavam dizendo se opor a qualquer aproximação com a campanha de Dilma no segundo turno devido aos ataques. “A campanha do PSDB também fez ataques à Marina, inclusive nos debates. Não foi esse o motivo da decisão dela. (Ao apoiar Aécio), a Marina foi o que ela foi o tempo todo nessa campanha, em 2014.”

No estado de São Paulo, Aécio teve 44,24% dos votos, Dilma atingiu 25,81% e Marina obteve 25,09%. Padilha conseguiu 18,2% dos votos.

Quais serão as estratégias que o PT pretende adotar no segundo turno para tentar reverter o quadro muito difícil no estado em São Paulo?

O segundo turno é uma grande oportunidade de se politizar o momento eleitoral do país. Porque, no primeiro, a eleição foi muito curta, por conta da Copa do Mundo, depois a comoção da morte do Eduardo Campos, o surgimento do nome da Marina. Isso tudo fez com que o debate político, em relação ao futuro do país, fosse reduzido a importância da candidatura a presidente.

A importância do segundo turno é politizar. Deixarmos claro que o que está em jogo são dois projetos de país. Um que começou com Lula, teve continuidade com Dilma e tem que dar passos importantes, e o outro projeto, que é a receita de sempre para o país e foi definido pelo nosso adversário, que já explicitou, ele ou seu principal assessor econômico.

Quem sempre paga essa receita é o emprego, a ampliação da renda, as políticas públicas sociais. Precisamos explicitar, nesse curto espaço no segundo turno, a diferença entre os dois projetos. Fizemos um ato no Largo do Arouche (sábado) onde pessoas que não tinham apoiado a Dilma declararam apoio no segundo turno, inclusive de lideranças que tiveram candidato à presidência no primeiro turno (como o deputado federal Jean Wyllys, do Psol do Rio). A marca desse ato foi a liberdade, o grito de qualquer tipo de exclusão, de preconceito, reforçar a ideia de solidariedade e menos ódio em relação às classes sociais. O Brasil precisa decidir como quer, nos próximos quatro anos, enfrentar a crise internacional. Corte dos investimentos, do salário mínimo, de políticas sociais já foram sinais apontados pelos nossos adversários.

Surpreendeu o apoio de Marina Silva a Aécio Neves?

A própria presidenta Dilma já disse que considerou natural o posicionamento. Com as posições que ela vinha defendendo, é natural. A Marina foi Marina. O discurso da nova política se esvaziou, na medida em que ela abraça o que existe de mais atrasado na política brasileira, que foram os governos do PSDB. O que tenho convicção é que certamente surpreendeu e frustrou muitos eleitores que acreditaram nela como defensora de uma proposta de nova política. Se aliar a quem já governou esse país e quem levou o país à recessão, desemprego, sobretudo a quem propõe o mesmo receituário de corte do salário mínimo, redução de programas sociais e diálogo de setores mais conservadores do país. Estamos muito confiantes de que é possível, sim, conquistar e trazer a maioria desses votos para Dilma, inclusive no estado de São Paulo.

Como?

O grande objetivo em São Paulo é trazer os votos que foram para Marina e disputar as pessoas que votaram nulo, branco ou se abstiveram. Vamos buscar os votos da Marina de duas formas. O componente do voto da Marina é de uma base social que ascendeu ao longo dos governos Lula e Dilma, que fizeram uma opção no primeiro turno, que a gente entende e respeita, mas que, nesse segundo turno, fique claro que o que está em jogo é avançar ainda mais nas conquistas ou termos um receituário para o Brasil que, quando foi aplicado no passado, quem mais sofreu foram os trabalhadores.

E reforçar o debate sobre temas que tragam e dialoguem com a juventude. A presidenta Dilma tem sinalizado um espaço para dialogar com os vários movimentos jovens, tanto no campo da cultura como no do protagonismo juvenil. E campanha de rua, conversando com as pessoas, dialogando, contrapondo. Tem muita informação, material na internet. Precisamos da ação diária, de discutir no dia a dia, fazer o contraponto, com a cabeça erguida, mostrar não só o que foram esses 12 anos, mas sobretudo o que está do outro lado.

Teria sido um erro do PT, como alguns avaliam, ter “batido” em Marina e ter com isso perdido a possibilidade de uma ponte para o segundo turno?

A Marina apanhou do PSDB também. É uma falácia dizer que só a campanha e a candidata do PT fizeram ataques à Marina. A campanha do PSDB também fez ataques à Marina, inclusive nos debates. Não foi esse o motivo da decisão dela. A Marina foi o que ela foi o tempo todo nessa campanha, em 2014. O que ela frustrou foram os eleitores dela e nós vamos disputar esses eleitores até o fim.

O que provocou o desempenho do PT abaixo da expectativa em São Paulo? O que o presidente Lula quis dizer quando afirmou que “todos (no partido) estamos em dívida com Padilha”?

Recebo essa frase do presidente Lula com muito carinho e muito estímulo. Só que a avaliação da eleição no primeiro turno, vamos fazer depois de passado o segundo turno. Nesse momento, estamos concentrados todos em avançar a votação da Dilma no estado de São Paulo. Passado o segundo turno, vamos sentar e fazer uma profunda avaliação. Mas não da eleição no primeiro turno, mas de como o PT construir um projeto para o estado de São Paulo, como pensar o conjunto do estado, um grande desafio que o PT tem pela frente.

Aécio disse que iria propor um “debate de alto nível e propositivo” a Dilma, mas a mídia faz os ataques que ele diz não querer fazer. No segundo turno, a campanha (do PT) pretende bancar o confronto com a grande imprensa, a mídia e a TV Globo?

Não existe nada mais falso do que um candidato falar isso e usar as expressões que ele tem usado em relação ao PT e à presidenta Dilma, não só a mídia, ele mesmo. A presidenta já apontou claramente a necessidade de regulação econômica dos meios de comunicação, tem feito defesa cada vez mais intensa da reforma política no país. São duas pautas fundamentais para o debate democrático no país. Em duas semanas, o que precisamos priorizar é: não acreditar nas pesquisas. Elas tentam refletir um dado da realidade, mas estão distantes da realidade, da decisão do voto do eleitor. Isso ficou claro no segundo turno em São Paulo, na Bahia, em vários estados.

Como avalia a atuação do PMDB em São Paulo?

O vice-presidente Michel Temer tem feito um trabalho incansável de fazer atividades, reunião com prefeitos do PMDB, tem feito agenda na rua, no interior. Não só do PMDB, mas vamos disputar o apoio de lideranças de partidos que declararam apoio ao outro candidato. A fala do presidente do PSB, Roberto Amaral, foi nesse sentido, estamos dialogando com outras lideranças.

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