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Dilma rebate Aécio e afirma que falta d’água em São Paulo é culpa do governo Alckmin

Presidenta diz que alertou governador em fevereiro sobre cenário inédito de seca e sugeriu obras emergenciais. Em entrevista, petista critica papel de parte da mídia ao acobertar gravidade do racionamento

Ichiro Guerra/Campanha Dilma

Presidenta considera que falta de planejamento agrava crise hídrica no estado mais rico do país

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff rejeitou hoje (20) a tentativa do candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Neves, de atribuir ao governo federal responsabilidade pela falta d’água em São Paulo. Em entrevista coletiva realizada em um hotel no centro da capital paulista, ela recordou que o abastecimento é uma responsabilidade estadual, e relatou que alertou várias vezes o governador Geraldo Alckmin, do mesmo partido de Aécio, sobre a gravidade da seca que assolaria o estado.

“Qualquer tentativa de transferir responsabilidade para o governo federal nós olharemos com grande estranheza. Não acredito que as estruturas do governo do estado podem atribuir a nós qualquer responsabilidade, ou qualquer omissão na ajuda. Ajudamos em todas as circunstâncias, participamos de grupos de trabalho, discutimos o volume morto”, afirmou, horas depois de seu adversário na disputa eleitoral tentar atribuir ao governo federal a responsabilidade pela crise que afeta São Paulo, com o esgotamento dos principais reservatórios de abastecimento.

Durante conversa com jornalistas em Minas Gerais, o tucano afirmou não temer o efeito eleitoral da seca, avaliando que a questão não teve impacto na reeleição de Alckmin, vitorioso no primeiro turno. “É uma questão grave. Nós estamos tendo a maior estiagem dos últimos 80 anos, o estado fez algo que, ao meu ver, foi absolutamente adequado no momento em que propõe bônus para aqueles que economizam água em razão dessas circunstâncias”, disse.

“Talvez o que tenha faltado seja uma parceria maior do governo federal, por exemplo, a Agência Nacional de Águas, criada no governo do presidente Fernando Henrique, se não estivesse no governo do PT servido a outros fins, nós nos lembramos bem quais foram as indicações, quais os critérios para se ocupar cargo de diretoria da ANA, ela poderia ser uma parceira maior do governador.”

A ANA participa de grupos que trabalham na avaliação dos cenários de crise. Recentemente, o órgão regulador acusou a empresa estadual de águas, a Sabesp, de fazer uma retirada maior que a permitida em alguns sistemas já sob risco pelo baixo nível de reservas. Houve desentendimentos também quanto à mudança de vazão no fornecimento ao consumidor.

“Em fevereiro procurei o governador Alckmin e falei que as nossas avaliações a respeito da situação da seca no Brasil indicavam uma forte seca no Sudeste”, complementou Dilma. “Em março o governador vem numa audiência no Palácio do Planalto: ‘Governador, pela minha experiência, acho que o senhor deveria fazer obras emergenciais porque tudo indica que essa seca se prolongará e vocês não têm capacidade de abastecimento de água suficiente’”.

A petista comparou o caso da falta d’água em São Paulo ao racionamento de energia ocorrido no país em 2001-2002. Na época, segundo contou, como secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul teria trabalhado para fazer obras emergenciais que ajudaram a atenuar os efeitos da falta de chuva no abastecimento elétrico de residências e indústria.

Para ela, a manutenção das condições do sistema nacional de eletricidade daquele momento teria levado a um episódio ainda mais grave com o quadro atual, em que o desabastecimento foi evitado graças ao funcionamento de termelétricas. “Sempre acreditei em duas coisas: quando a situação é grave ou porque o planejamento faltou, há que se fazer obras emergenciais. Por isso sugeri ao governador”, disse. “Se a situação nossa hoje fosse similar à daquela época teríamos um racionamento bravo. Não houve. Por que não houve? Porque passamos a planejar o investimento no setor elétrico.”

Ao ser acusada por jornalistas de que fazia “uso eleitoreiro” da questão da água em São Paulo ao apresentá-la na televisão como um resultado do estilo de governo do PSDB, Dilma reagiu: “Vocês não vão me dizer que piorou a situação do domingo da eleição para segunda-feira. Descobriram que havia falta d’água de domingo para segunda? Isso se chama uso eleitoreiro”.

Como a RBA mostrou, regiões afetadas pela falta d’água tiveram uma breve normalização no abastecimento nos dias que antecederam o primeiro turno. Após a vitória de Alckmin, porém, residências e comércio de várias regiões da capital passaram novamente a sofrer os problemas, então ampliados para outras áreas da cidade.

Em depoimento à CPI da Câmara Municipal de São Paulo que trata do tema, a presidenta da Sabesp, Dilma Pena, alegou que a empresa não pôde emitir alertas à população dando conta da gravidade do racionamento devido à lei eleitoral, que restringe a publicidade de veículos oficiais – sem, porém, vedar comunicado institucional de interesse público.

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