Conselho de Ética

Com manobra, base de Alckmin esvazia sessão sobre denúncia contra Bruno Covas

Governistas não comparecem a reunião convocada para discutir a relação do deputado estadual com Mario Welber, detido pela PF com R$ 102 mil dinheiro vivo e cheques em branco assinados pelo tucano

Bancada petista quer esclarecimentos de deputado Bruno Covas no Comitê de Ética da Assembleia Legislativa de SP

São Paulo – Deputados do PSDB e de partidos aliados do governo Geraldo Alckmin esvaziaram hoje (15) a reunião ordinária do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, que pretendia obter esclarecimentos sobre as relações do Bruno Covas com o radialista Mario Welber, detido pela Polícia Federal no último dia 27 com R$ 102 mil em dinheiro vivo e 16 cheques em branco assinados pelo contador da campanha do tucano para deputado federal.

O assunto foi colocado em pauta pelo deputado João Paulo Rillo, líder da bancada do PT na Casa, que havia protocolado uma representação no conselho levantando a suspeita de que o montante apreendido com Welber possa ser fruto de caixa dois eleitoral, ou seja, de recursos desviados da campanha de Covas.

Mas, na sessão marcada para as 14h30 no plenário Tiradentes, estavam apenas Rillo e os deputados Marco Aurélio de Souza (PT) e Hélio Nishimoto (PSDB), que tinha obrigatoriamente de comparecer por ser o presidente do conselho.

“É um tema que parece muito incomodar eles [a bancada governista]. Então eles vão utilizar os instrumentos que o regimento oferece para postergar o assunto e blindar Bruno Covas”, diz Rillo, explicando que é preciso um quórum mínimo para poder convocar o deputado para depor no Conselho de Ética.

Essa é uma manobra regimental comum na base do governador Geraldo Alckmin (PSDB) em diversas comissões e conselhos instalados na Assembleia, que acabam esvaziados por falta de quórum. Pelo regimento da Casa, uma comissão permanente só é realizada com a presença de no mínimo cinco membros. No Conselho de Ética, há nove integrantes (sete dos quais da situação), além de outros seis deputados suplentes.

Faltaram à reunião de hoje os deputados estaduais Cauê Macris (PSDB), André Soares (DEM), Padre Afonso Lobato (PV), Campos Machado (PTB), Alex Manente (PPS) e José Bittencourt (PSD). Com exceção dos dois últimos, todos os deputados da base de Alckmin foram reeleitos para uma nova legislatura. Manente disputou e foi eleito para uma cadeira na Câmara, enquanto Bittencourt não conseguiu um novo mandato.

O caso não foi divulgado pela PF e só veio à tona por denúncia da jornalista Conceição Lemes, do site Viomundo, somente cinco dias depois, no dia 2. Pego em flagrante pelo detector de raio-X do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, quando tentava embarcar para São José do Rio Preto, onde também é suplente de vereador, Mario Welber foi ouvido e liberado pelos policiais federais na Superintendência Regional em São Paulo, embora não tenha conseguido explicar a origem dos R$ 102 mil em espécie e dos 16 cheques em branco assinados.

Segundo o radialista, o dinheiro era fruto de suas economias como assessor da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), de cerimonialista e de conferencista, e que o carregava para facilitar a compra de um automóvel. De acordo com seu perfil pessoal no Twitter, ele é apresentador das rádios Canção Nova e Interativa.

No último dia 10, a assessoria de imprensa de Bruno Covas divulgou nota à imprensa, tratando Mario Welber como “apoiador da campanha” para deputado federal do tucano. Ao embarcar no aeroporto de Congonhas com destino a Rio Preto, Mario Welber levava cheques da campanha de Bruno Covas assinados pelo contador da campanha e endereçados ao coordenador político da região Ulysses Terceiro.

Os cheques se destinavam a pagamentos de prestadores de serviço da região de Rio Preto, estavam contabilizados e dentro da prestação de contas da campanha. Mario Welber estava em São Paulo para, segundo ele, compromissos particulares e, a pedido do contador da campanha, aproveitou a passagem para encontrá-lo e levar os cheques para o coordenador local, uma vez que voltaria naquele mesmo dia para Rio Preto, adicionou a nota, que citou ainda o cancelamento dos cheques.

Weber, que se apresenta como assessor do deputado Bruno Covas, está vinculado como assessor técnico I da Cetesb, cargo ao qual não tem subordinação direta, ou seja, está ligado à presidência da entidade. Seus vencimentos mensais são de R$ 9.546. Ele teria pedido licença sem remuneração de suas funções entre os dias 31 de julho e 10 de outubro deste ano para trabalhar na campanha de Bruno Covas.

Por sua vez, o deputado estadual comandou a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo entre janeiro de 2011 e abril de 2014, pasta à qual a Cetesb é subordinada. Também trabalha na companhia a assessora de imprensa do político tucano, Fabiana Macedo de Holanda. Como gerente do Departamento de Comunicação Social da Cetesb, ela recebe R$ 15.326 mensais.

Para João Paulo Rillo, há fortes indícios de um aparelhamento do governo estadual por parte do neto do ex-governador Mário Covas (1930-2001). “É importante que o deputado se pronuncie, mas ele prefere o silêncio. Por isso, é importante que a imprensa dê luz e voz a esse tema.”

“Nós gostaríamos de dar a palavra ao deputado Bruno Covas. Se isso não é verdade, se as pessoas estão usando o nome dele em vão ou trabalhando para ele sem o consentimento dele, é bom até a gente alertar, para que ele não manche sua biografia em uma situação tão ruim destas”, acrescenta.

Em sua página no site da Assembleia paulista, Bruno Covas se gaba por ter sido eleito deputado estadual pela primeira vez em 2006 “com o voto de 122.312 paulistas que acreditavam que política e ética devem caminhar juntas”. Foi reeleito quatro anos depois e, em 2014, chegou à Câmara com 352.708 votos.

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