pouco a pouco

Com bons resultados no Rio de Janeiro, Psol cresce eleitoralmente à esquerda

Partido aumentou bancadas na Câmara e conseguiu vagas em assembleias de seis estados. Eleitores fluminenses foram grandes responsáveis pelo crescimento do partido

UOL/Folhapress

Atuação de parlamentares como Jean Wyllys seria uma das responsáveis pelo crescimento do Psol

São Paulo – “Continuamos um partido pequeno, mas com vocação de grandeza”, resume um otimista Chico Alencar, deputado federal pelo Psol do Rio de Janeiro. Reeleito com 195.964 votos, o parlamentar comemora o aumento no número de correligionários na Câmara. Em 2015, a bancada psolista passará de três para cinco deputados: um de São Paulo, um do Pará e três do Rio de Janeiro, estado em que o partido se consolida com mais força. Além de Chico Alencar, Jean Wyllys, com 144.770 votos, também conseguiu se reeleger. Agora, terão a companhia inédita do conterrâneo Cabo Daciolo.

O partido garantiu ainda doze cadeiras nas assembleias estaduais – e novamente os eleitores fluminenses cumpriram papel preponderante para o resultado. O Psol teve o deputado estadual mais votado do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, reeleito com 350.408 votos. No total, cinco psolistas terão cadeira na assembleia fluminense. Outros dois frequentarão o Legislativo de São Paulo, que até então contava com apenas um deputado, e mais dois no Amapá. O partido contará ainda com um representante nos parlamentos do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

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Contudo não foram apenas os resultados legislativos que demonstram o crescimento eleitoral do Psol, partido criado em 2005 por petistas descontentes com os rumos do primeiro governo Lula. O candidato psolista ao governo do Rio de Janeiro, Tarcísio Motta, acabou em quinto lugar, com 8,92% dos votos válidos: apenas 1,08 ponto percentual atrás do quarto colocado, o senador Lindbergh Farias (PT).

Resultado semelhante foi obtido pelo partido junto aos eleitores do Rio Grande do Norte: Robério Paulino ficou em terceiro lugar na corrida pelo governo potiguar, com 8,74% dos votos válidos. O Psol ainda disputa o segundo turno das eleições no Amapá, mas com o candidato a vice na chapa de Camilo Capiberibe (PSB), Rinaldo Martins. E teve 1,55% da preferência no pleito presidencial com Luciana Genro – o dobro da votação recebida por Plínio de Arruda Sampaio em 2010.

“Em igualdade de condições, como nos debates, conseguimos mostrar nossa capacidade e nossas propostas”, avalia Tarcísio, que não esperava tamanha votação. Certo “bloqueio midiático” e uma campanha “pobre”, com pouco tempo na TV, haviam reduzido as expectativas. “No Rio, onde já tínhamos certa representatividade, mais uma vez, conseguimos surgir como alternativa de esquerda.”

As lideranças do Psol elencam uma série de motivos para explicar o crescimento eleitoral no estado fluminense: uma mistura de bons quadros, parlamentares respeitados, propostas consistentes, militância comprometida e a descrença cada vez maior no PT. “Há um vazio à esquerda, uma carência de partidos com nitidez ideológica e fronteira ética”, argumenta Chico Alencar.

Ao comentar os principais resultados das eleições no Rio de Janeiro, o deputado acredita que a política virou “uma balbúrdia”: se Marcelo Freixo foi campeão de votos para a Assembleia Legislativa com uma bandeira contrária à violência policial, o preferido dos eleitores fluminenses para a Câmara foi Jair Bolsonaro (PP), saudoso do regime militar e contrário à “ditadura gay” que, acredita, se abateu sobre o Brasil.

Para Freixo, esse paradoxo reflete a “alma” do Rio de Janeiro. “Por um lado, é conservadora. Por outro, transgressora”, diz o parlamentar, que se notabilizou pelo combate às milícias que se apossaram de favelas da cidade. “Eu e Bolsonaro sermos campões de voto é a cara do Rio de Janeiro.”

O psolista lembra, porém, o papel exercido pela militância e pela juventude no crescimento do partido no estado. “Também tem a ver com nossa forma de fazer política”, anota. “Não somos financiados por empresas, só pessoas físicas. Debatemos nosso programa com a sociedade. Não temos cabos eleitorais pagos e nossos jovens têm grande capacidade de influência. Estamos devolvendo a política às ruas.”

Entre as lideranças do Psol, existe uma certeza de que a seção fluminense do partido está pouco a pouco assumindo um espaço deixado pelo PT à esquerda do espectro eleitoral, mais próximo aos movimentos sociais. “Ao se acomodar nos governos estaduais do PMDB, os petistas abriram mão desse espaço”, avalia Tarcísio Motta. “E nós crescemos nesse vácuo.”

Para Gilberto Maringoni, ex-candidato do Psol ao governo de São Paulo, além do esvaziamento do PT no Rio de Janeiro, os mandatos “brilhantes” dos deputados fluminenses pesaram muito no imaginário do eleitor. “Isso está transformando o Psol num partido de massas no estado, o que não ocorre aqui”, afirma Maringoni, que acabou com apenas 0,88% dos votos válidos. “No Rio, hoje, esquerda é Psol.”

Apesar dos bons resultados, o filósofo Vladimir Safatle lembra que ainda falta “muito caminho” para que o partido se consolide como opção eleitoral de esquerda no país. “Mas a experiência do Rio deveria ser replicada nos outros estados”, pondera o professor da USP. “Eles têm uma estrutura que não é centralizada nem hierarquizada, mantêm laços estreitos com movimentos sociais, forte presença da juventude, visão diferenciada de segurança pública e uma noção mais alargada dos direitos humanos.”

Deputado estadual no Pará e agora eleito para a Câmara com 170.604 votos, Edmilson Rodrigues acrescenta mais um fator ao crescimento do Psol. “Há muitos casos de corrupção e uso da máquina pública nos partidos tradicionais”, observa. “Nossa capacidade de denunciar tais desvios tem-nos trazido apoio. Nessas fragilidades, os movimentos sociais vão embalando o crescimento do Psol.”

Rodrigues acredita que, porém, os resultados obtidos ficaram aquém do que os militantes gostariam. No entanto pondera que não seria possível conseguir muito mais em 2014. “Foi o que essa conjuntura adversa permitiu”, reconhece. “Apesar de todas as contradições de uma sigla em construção, vamos dando passos à frente com cuidado e segurança.”

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