A comunidade aprova

Aeroporto que custou R$ 300 mil aos cofres públicos de Minas Gerais vira pista de cooper

Em Montezuma, onde Aécio Neves (PSDB) tem fazenda, moradores dizem que pista praticamente não registra pousos e decolagens, mas atende outra demanda: é alternativa à rodovia como pista para caminhadas

Pista do aeroporto de Montezuma, no interior de Minas Gerais: sem voos, população transformou pista em espaço de esporte e lazer

São Paulo – O aeroporto de Montezuma, cidade de 7,5 mil habitantes no interior de Minas Gerais, foi construído pelo governo estadual em 2008, e custou aos cofres públicos R$ 268 mil para ser asfaltado. É uma obra polêmica. Além de situar-se em uma cidade onde há uma fazenda do senador Aécio Neves (PSDB), candidato à presidência da República e governador à época da construção da pista, coloca em xeque as prioridades da gestão do PSDB no estado: por que, afinal, asfaltar uma pista de pouso e decolagem quando as únicas vias asfaltadas na cidade são as da rodovia que a cruza? Montezuma apresenta ainda um índice de apenas 27% de coleta de esgoto, situação que se manteve ao longo dos oito anos de governo tucano.

Os moradores da cidade, no entanto, fizeram do limão uma limonada. Para eles, o aeroporto transformou-se em equipamento público de esporte e lazer: como quase não há pousos e decolagens no local, as famílias de Montezuma adotaram o local como pista de caminhada, cooper e ciclismo. Distribuído pelas redes sociais, vídeo feito em um dia normal na cidade mineira registra a movimentação na pista, onde não são visíveis aviões sequer estacionados.

“Aqui é só pra gente fazer caminhada, mais nada. Não tem avião. Cê vai andar até o final? Vai encontrar mais um monte de gente. A finalidade disso aqui é essa”, diz uma das entrevistadas, ao ser questionada pelo internauta que divulgou o vídeo sobre a possibilidade de que uma aterrissagem tenha início no meio do exercício. “Aqui é ideal para caminhar. É a semana e o fim de semana inteirinho. Enche!”, conta outro entrevistado. Os moradores de Montezuma contam que a pista foi “a coisa melhor” para que as pessoas deixassem de fazer caminhadas no acostamento da rodovia local.

“Era muito perigoso, tinha até acidente. Então foi bom, uai. Foi ótimo para nós, fazemos caminhada despreocupados”, conta uma senhora. “Se for pousar um avião, a gente vê antes. Mas é difícil”, conclui.

O aeroporto de Montezuma não é o único suspeito em Minas Gerais. Na cidade de Cláudio, o governo de Aécio construiu um outro aeroporto, desta vez nas terras de um tio-avô do governador, que recebeu R$ 1 milhão pela desapropriação das terras, mas ainda mantém a chave do portão da pista aeroviária. E os episódios curiosos envolvendo a cidade não param por aí. Em 13 de agosto deste ano, mesmo dia do acidente que vitimou Eduardo Campos (PSB), a prefeitura de Cláudio sofreu um incêndio no prédio que arquivava documentos – a prefeitura nega que documentos referentes ao aeroporto tenham sido destruídos.

Confrontado com as denúncias de improbidade administrativa relativas ao mau uso de bens públicos para a construção de aeroportos, atualmente em investigação pelo Ministério Público Federal, Aécio defende que as obras fazem parte de um plano de infraestrutura que pretende cobrir o estado com pequenas pistas, para facilitar exportações. Em relação às terras de seu tio-avô, o senador afirma que não houve favorecimento, e, para comprovar, tem dito que seu parente está inclusive disputando uma contrapartida maior, de R$ 9 milhões, por ter se sentido injustiçado com a desapropriação.