política à paulista

Historiador diz que propaganda e mídia garantem longevidade do PSDB em SP

Em 2013, gasto de Alckmin com publicidade (R$ 238 milhões) foi maior que orçamento da Casa Civil (R$ 191 mi) e mais que a soma dos da educação (R$ 110 milhões) e da segurança (R$ 108 milhões)

Adriana Spaca

Nos últimos 20 anos, não houve uma CPI na Assembleia Legislativa que questionasse o governo tucano

São Paulo – A longevidade do PSDB à frente do governo de São Paulo é explicada pelo gasto pesado com publicidade, muitas vezes enganosa, pela blindagem da mídia e pela transferência de recursos para prefeitos do interior por processos clientelistas, de acordo com o historiador e cientista político Francisco Fonseca, professor na Fundação Getúlio Vargas. Em entrevista a Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual, ele lembra que, nos últimos 20 anos, não houve sequer uma CPI na Assembleia Legislativa que questionasse o governo tucano, que também passou ileso de qualquer investigação da mídia tradicional, em especial da Rede Globo e dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.

“Trata-se da relação com os prefeitos do interior baseada em convênios não carimbados, usados de maneira abusiva, da fragilidade dos mecanismos de fiscalização do estado e do conservadorismo histórico paulista, reforçado pelo governo, com uma política de encarceramento e rigidez no cumprimento de penas”, diz, completando que essa forma de governar protege a elite e a classe média.

Para Fonseca, tudo isso é aliado com a blindagem da mídia e com investimento pesado em publicidade. O governo de Geraldo Alckmin gastou, em 2013, R$ 238 milhões em propaganda, mais que toda a verba usada pela Casa Civil naquele ano, que somou R$ 191 milhões. O gasto com publicidade também foi maior que todo investimento em educação (R$ 110 milhões) e segurança (R$ 108 milhões) juntos.

“Ficamos com uma falsa imagem de segurança, com uma educação que consegue ser pior que a de vários estados mais pobres, com a tragédia de um metrô que cresce praticamente um quilômetro por ano e com a crise na água, para a qual a mídia insiste no argumento blindado que é apenas uma questão do clima”, avalia.

Com a falta de água na cidade de São Paulo devido à ausência de obras de ampliação do Sistema Cantareira, que já eram apontadas como necessárias em estudos de 2002, a reserva técnica – conhecida como volume morto – deve abastecer a população apenas até novembro. A partir daí já está previsto o uso da segunda cota da reserva.

“Este é o segundo atestado da falência da gestão hídrica do estado de São Paulo. Não é só uma crise de gestão, é uma crise política profunda e uma crise tecnológica. As discussões para o setor não foram bem conduzidas. Se sabia que era preciso construir novas represas no sistema Cantareira e fazer o reflorestamento”, diz o educador ambiental Gustavo Querubina.

“A grande mídia, de maneira muito clara, tem uma grande afinidade com o governo Alckmin e com o PSBD”, defende o professor Francisco Fonseca, lembrando que os jornais e as redes de televisão são muito dependentes da propaganda oficial, em especial no estado de São Paulo, onde os principais veículos de comunicação do país estão alocados.

“Há uma tentativa de derrotar o PT, naquilo que muitos autores chamam de um ‘ódio de classe’. Apesar de todos os problemas dos governos Lula e Dilma, que têm muitas contradições, é fato que há menos desigualdade no país”, avalia. “As elites acham insuportável ir ao aeroporto e encontrar negros e pobres, acham insuportável ver o filho da empregada estudando na universidade e acham insuportável o pobre recusar um emprego porque pode escolher outro com salário mais alto.”

Ouça reportagens de Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual