Só uma surpresa

No debate da CNBB, tema da corrupção volta-se contra Aécio

Frustrou-se quem esperava conhecer a opinião dos candidatos sobre aborto, drogas e maioridade penal. A temperatura só esquentou com o tema da corrupção

Cadu Gomes/Campanha Dilma

Engessado, debate em Aparecida não teve confrontos de ideias entre os principais candidatos

Brasília – O debate com os presidenciáveis promovido pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), terça-feira (16), em Aparecida do Norte (SP), com transmissão pelas emissoras católicas de rádio e televisão, frustrou aqueles que acreditavam que o evento seria a oportunidade para o Brasil saber o que pensam os principais candidatos sobre temas comportamentais polêmicos, como aborto, casamento gay, redução da maioridade penal, legalização das drogas e laicidade do estado, entre outros. Os assuntos estiveram todos eles presentes na pauta do debate, mas o formato engessado e pouco favorável ao confronto impediu que cada um deles fosse debatido por mais de um candidato.

Temas sociais relevantes, a maioria deles presentes na pauta tradicional da esquerda, também foram abordados. Mas a participação efetiva dos bispos também garantiu momentos de extremo conservadorismo, alguns deles em desacordo com a linha de atuação proposta pelo papa Francisco, como quando um dos bispos defendeu com ênfase a família formada por “homem, mulher e filhos”.

A presidenta Dilma Rousseff (PT) foi a grande prejudicada pelo modelo do debate que, por não proporcionar o confronto entre os candidatos nos três primeiros blocos, acabou permitindo que todos eles criticassem o governo, sem que ela pudesse defendê-lo. Marina Silva (PSB), por exemplo, estava tão centrada em atacá-la que se esqueceu até mesmo de fazer perguntas. Aécio Neves (PSDB), idem. Só nas considerações finais ele se lembrou de criticar Marina, cujo crescimento o jogou para escanteio. Passou todo o debate atacando a presidenta.

E acabou levando o troco de onde não esperava. Mesmo instada por Aécio a falar sobre educação, Luciana Genro (Psol) retomou o tema da corrupção que ele havia levantado para criticar Dilma, quando afirmou que o escândalo da Petrobras era um novo mensalão, ainda mais grave. “O senhor fala como se no governo do PSDB não tivesse havido corrupção”, rebateu Luciana, citando escândalos como o da compra de votos para a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o conhecido como “privataria tucana” e o mensalão do PSDB.

Depois de ser acusada por Aécio de funcionar como “linha de transmissão do PT”, ela foi ainda mais fundo e lembrou o último escândalo de corrupção, abafado justamente pelo da Petrobras, que o candidato teima em destacar: o do aeroporto nas terras do tio do candidato. “O senhor é tão fanático das privatizações que consegue privatizar um aeroporto e entregar para sua própria família, e tão fanático da corrupção que consegue utilizar dinheiro público para construir um aeroporto beneficiando exclusivamente a sua família”, acusou.

Aécio conseguiu direito de resposta para responder aos ataques, mas acabou se enrolando em sucessões de evasivas. Chamou as acusações de levianas, não tocou no assunto do aeroporto e preferiu enfatizar sua formação católica mineira para ganhar a simpatia do público alvo do debate.

Dilma, que também havia solicitado direito de resposta para rebater Aécio, conseguiu dar melhor o seu recado. “Ao longo da minha vida, tive tolerância zero com a corrupção”, afirmou. Segundo ela, o escândalo da Petrobras só foi descoberto porque um órgão do próprio governo, a Polícia Federal, investigou. E voltou a criticar o PSDB que, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique, procurou abafar todas as denúncias de corrupção que envolviam o PSDB ou lideranças tucanas. “Nós não varremos para debaixo do tapete”, resumiu Dilma.