No Rio

Lula veste camisa, ‘abraça’ Petrobras e diz que adversários de Dilma sofrem de desfaçatez

Ex-presidente vai a ato organizado em defesa da estatal, indaga quem está interessado em interromper 'projeto estratégico' do pré-sal e diz a Marina que comando da República não pode ser terceirizado

Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Petista afirmou que vestiu a camisa da Petrobras para mostrar que petroleiros devem ter orgulho da empresa

Rio de Janeiro – Diante de cerca de seis mil pessoas, durante ato em defesa do pré-sal e da Petrobras convocado pelas centrais sindicais e realizado hoje (15) no Rio de Janeiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente as posições defendidas para o setor de petróleo pelos adversários da presidenta Dilma Rousseff nestas eleições. Sem citar nomes de candidatos ou partidos, Lula disse que, se dependesse da vontade dos adversários do governo do PT, “a riqueza do pré-sal não seria do povo brasileiro”. O ex-presidente também participou de um gigantesco abraço ao edifício-sede da Petrobras, última parte do ato convocado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), com participação de integrantes de CUT, CTB, UGT e CSB.

Vestido com uma camisa da Petrobras, Lula falou da “desfaçatez” com que a oposição pede hoje a “salvação” da estatal: “Vocês estão lembrados que, no governo deles, venderam praticamente 62% das ações das Petrobras em oito anos. Na verdade, o que eles queriam era entregar a Petrobras. Graças a Deus, os trabalhadores, o movimento sindical, o movimento social e os partidos de esquerda se mobilizaram e não deixaram fazer”, disse.

O ex-presidente lembrou ainda que, quando seu governo discutia o investimento estratégico no pré-sal, integrantes da oposição diziam que a Petrobras não tinha tecnologia para tanto e que seria muito difícil retirar esse petróleo: “Para os que diziam isso, devo lembrar que, da data em que descobrimos o pré-sal até hoje, em apenas oito anos, nós já tiramos mais petróleo do que tiramos nos primeiros 31 anos da Petrobras.”

A estatal do petróleo é elemento simbólico na campanha presidencial há décadas, e particularmente nas disputas de 2006, 2010 e 2014 se insere como um elemento diferenciador entre os representantes do PT e os de oposição. Na disputa contra Geraldo Alckmin (PSDB), há oito anos, Lula acusou o oponente de trabalhar pela redução do tamanho da Petrobras e pelo repasse a mãos privadas do petróleo, numa linha de embate que vem se repetindo desde então.

Desta vez Marina Silva (PSB) é acusada por Dilma Rousseff de relegar a segundo plano o pré-sal. Conta para isso o programa de governo da ex-senadora, que cita os recursos em águas subterrâneas apenas uma vez e fala na necessidade de criar alternativas aos combustíveis fósseis.

De outro lado, Marina acusa Dilma de “acabar” com a estatal, na qual enxerga ineficiência, aparelhamento administrativo e corrupção, baseando-se em denúncias da mídia tradicional e nos trabalhos de duas comissões parlamentares de inquérito em funcionamento no Congresso.

“Aí, eu fico pensando”, disse Lula. “Quem é que não quer que vá adiante esse projeto estratégico da Petrobras? Quem é que não quer que a gente cumpra a meta de chegar a 4 milhões de barris de petróleo em 2020? Quem é que não quer que a gente construa as refinarias neste país para podermos exportar produtos com valor agregado e não apenas óleo cru como eles pensavam? Quem é que não gosta do fato de termos aprovado o regime de partilha para o pré-sal para transformar essa riqueza em uma riqueza do povo brasileiro? Quem é que está incomodado por termos criado uma empresa pública estatal para tomar conta desse petróleo? Quem é contra termos aprovado 75% dos royalties para a educação e 25% para a saúde? Certamente, não é nenhum trabalhador brasileiro. Certamente não é nenhum brasileiro que ama esse país”, disse.

Sobre Marina Silva, o ex-presidente disse que “não se pode terceirizar o cargo de presidente da República”. Um presidente, segundo Lula deve assumir suas posições: “Esse negócio de pedir para cada um falar um pedacinho das coisas que vão acontecer no país não dá certo. Afinal de contas, esse país é grande, mas não é uma colcha de retalhos que pode ser subdividida em centenas de interesses. Eu, se fosse a candidata que faz oposição à Dilma, proibiria os meus economistas de falar, porque cada um que fala, fala mais bobagem do que o outro, e ela vai acabar mostrando o que pode acontecer em um programa de governo feito a quinhentas mãos, menos a dela”, disse.

Orgulho

Se dirigindo aos trabalhadores da Petrobras presentes ao ato, Lula disse que devem ter orgulho da empresa: “Fiz questão de colocar essa camisa da Petrobras porque quando começam a acontecer algumas denúncias de corrupção na Petrobras, muitas pessoas que vestiam essa camisa com orgulho começam a ter vergonha de usar a camisa e ser confundido com alguém que praticou corrupção. Digo aos petroleiros: não tenham vergonha dessa camisa. Essa camisa deve orgulhar não somente a vocês, mas ao povo brasileiro, pelo o que a Petrobras significa para o Brasil”, disse.

Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Ex-presidente disse que economistas ligados à candidata do PSB falam bobagem

Ao lado do petista e ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, Lula disse que os trabalhadores querem rigor nas investigações sobre os negócios da empresa: “Os milhares e milhares de trabalhadores dessa empresa não podem ser confundidos com alguém que porventura possa ter cometido um erro qualquer. Se alguém praticou o erro, se alguém roubou, esse alguém tem mais é que ser investigado, julgado e, se for culpado, tem que ir para a cadeia”, disse.

Indústria

Lula lembrou também que, durante a campanha presidencial de 2002, os setores conservadores desdenhavam de suas propostas para o setor de petróleo: “Eu falo na condição de um presidente que deve aos engenheiros da Petrobras a reconquista da indústria naval neste país. Em 2002, a direção da Petrobras naquela época dizia que eu estava mentindo quando afirmava que nós tínhamos tecnologia para recuperar a indústria naval brasileira. A engenharia da Petrobras e a indústria naval provaram que o verdadeiro papel de um metalúrgico que trabalha em estaleiro não é vender cerveja nas praias de Angra, mas sim trabalhar construindo navios para este país”, disse.

No momento de maior descontração do ato, Lula recordou o dia em que foi informado sobre as reservas do pré-sal: “Lembro com orgulho da tarde em que os companheiros Guilherme Estrella [então diretor de Exploração e Produção da Petrobras] e José Sérgio Gabrieli [então presidente da empresa] entraram na minha sala com um monte de papel na mão, com uns mapas coloridos, para me dizer que a Petrobras tinha encontrado o pré-sal. Eu fui para casa e, conversando com a Marisa, eu disse: não é possível que eu tenha nascido com o ‘negócio’ pra lua, porque foi na minha gestão que conquistamos a autossuficiência e que nós anunciamos a maior descoberta de petróleo contemporânea feita em todo o planeta Terra.”