Reta final

Lula e PT elegem São Paulo ‘o coração da eleição’ em 2014

Ex-presidente diz que 'é uma questão de honra fazer 'a Dilma ganhar da Marina' no maior colégio eleitoral do país e questiona: 'Como é que se explica numa fábrica o Skaf estar na frente do Padilha?'

Ricardo Stuckert Filho

Lula: ‘Mandar peão embora é fácil. Duro é manter a inflação 12 anos dentro da meta aumentando salário e gerando emprego’

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez, na noite de ontem (5), em São Paulo, um discurso inflamado, com o objetivo de motivar a militância do partido a reverter o quadro negativo das intenções de voto nas candidaturas de Dilma Rousseff à reeleição à presidência da República e do ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao governo do estado de São Paulo. Ele não poupou críticas aos adversários e puxões de orelha nos petistas, e conclamou a militância a politizar o debate.

Lula também deixou claro em seu discurso de mais de uma hora que o estado de São Paulo é decisivo para a reeleição de Dilma. “Nós temos que fazer aqui em São Paulo quase que um comando de campanha pra cuidar da eleição só de São Paulo. Temos que juntar todas as forças, ter comitê específico para a região metropolitana, comitê específico na capital, no interior, porque se a gente crescer 10 pontos em São Paulo a eleição está garantida.”

A ministra da Cultura, Marta Suplicy, antes de Lula discursar, já revelou que a estratégia nacional passa pela capital e pelo estado de São Paulo como marcos decisivos em 2014 e que a eleição “vai ser decidida” no estado. “Aqui é o coração da eleição. São Paulo é vital”, disse a ex-prefeita.

Segundo Lula, a reunião do diretório nacional durante toda a sexta-feira e com a militância na noite do mesmo dia teve o objetivo de motivar deputados, prefeitos, senadores, vereadores, a direção e os militantes a conversar com “os milhões de anônimos que nunca apertaram a mão da gente mas acreditam que somos o partido deles”.

A estratégia, de acordo com o clima do evento e com o discurso das principais lideranças, é esclarecer a população e politizar a campanha. “O pessoal não quer mais discutir política. Como é que se explica numa fábrica o Skaf estar na frente do Padilha? No meu tempo, imaginar numa fábrica um peão votar no seu empregador era impensável. E isso a gente tem que construir agora. A gente tem que ir na porta da fábrica e conversar com as pessoas”, disse Lula. Para ele, “é uma questão de honra nossa, enquanto partido político, fazer a Dilma ganhar da Marina aqui em São Paulo”.

Ele mencionou o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto uma única vez: “Aécio falou num Jornal da Globo da meia-noite umas duzentas vezes a palavra previsibilidade. Todas as perguntas que faziam, ele falava previsibilidade. Como é que um cara que gosta tanto de previsibilidade não previu que ia acabar, na campanha?”

Economia

O discurso de Lula procurou enfatizar que a politização das campanhas nacional e estadual passa por questões econômicas. De acordo com ele, é preciso mostrar que o governo Dilma não “joga no bolso do trabalhador a crise econômica mundial causada pelos ricos”. “Mandar peão embora é fácil. Duro é manter a inflação 12 anos dentro da meta aumentando salário e gerando emprego. Enquanto a Europa rica, de 2008 pra cá, fechou 62 milhões de postos de trabalho, essa Dilma que eles não gostam gerou em quatro anos 5,5 milhões de empregos com carteira assinada.”

Ele também rebateu uma das mais veementes críticas da oposição à política econômica de Dilma Rousseff. “O problema não é a dívida pública, o problema é que quando veio a crise de 2008 e nós liberamos 100 bilhões de reais do compulsório para os bancos investirem, eles (o mercado financeiro) compraram títulos do governo e não investiram nada no consumo. Nós colocamos dinheiro no BNDES e aumentamos a capacidade de empréstimo do BNDES, da Caixa Econômica, pra fazer as coisas funcionarem.”

Lula se dirigiu aos bancários como categoria que simboliza as prioridades de seu mandato e de Dilma Rousseff em favor dos trabalhadores e de uma política econômica que se posiciona do lado do trabalho em oposição ao capital e à especulação financeira: “Se tem uma categoria que tem que ter orgulho do nosso governo são os bancários dos bancos públicos deste país, por tudo o que nós fizemos com os bancos públicos brasileiros”, disse, dirigindo-se à presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira.

Em resolução divulgada na tarde de sexta-feira, o diretório Nacional do PT acusou os programas de governo de Marina Silva (PSB) e de Aécio Neves (PSDB) de defenderem os interesses do capital financeiro, com o objetivo de enfraquecer o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES para posteriormente privatizá-los.

O ex-presidente afirmou que não quer entrar em polêmicas de ordem pessoal com Marina, mas fez duras críticas à adversária e declarou que é preciso informar a população sobre as ações do governo federal no estado de São Paulo. “Não vou ter divergência pessoal com a Marina. Agora, governar este país não é (governar) um clube de amigos. Eu sinceramente não sei se a companheira Marina leu o programa que fizeram para ela. Porque, se ela leu, significa que não aprendeu nada nas discussões que nós fizemos quando ela estava no governo.”

Lula destacou como ponto a ser esclarecido pela militância à população a intenção de Marina de minimizar a importância estratégica do pré-sal em seu eventual governo, o que a candidata do PSB manifestou após reuniões com produtores de etanol, segundo ele.

O ex-presidente defendeu a necessidade de combinar as campanhas estadual, de Padilha, e nacional para “contar essas coisas” à população. “Porque a melhor forma de enfrentar o governador (Geraldo Alckmin, do PSDB) é mostrar não apenas a fragilidade dele, mas mostrar o quanto nós investimos em São Paulo.” Segundo Lula, o Rodoanel “é mostrado como se fosse obra do estado, mas se não fosse (as verbas do) governo federal não tinha saído”.

A intenção, explicou, é “comparar o que a Dilma colocou de dinheiro neste estado nos últimos quatro anos com o que Fernando Henrique Cardoso colocou em oito anos quando o PSDB governava o estado e mostrar quem fez mais universidades neste estado”. “Mas sobretudo temos que discutir um pouco de política. Por que eles querem que o PT não avance? Marta não foi reeleita prefeita de São Paulo porque ela governou para os pobres desta cidade.”

Recados diretos a companheiros de partido também não faltaram no discurso de Lula. “Não sei se tudo o que estão publicando (a respeito das propostas de Marina Silva) é verdade. E se for verdade, Eduardo, não é falar mal de ninguém, é defender o que a gente acredita. Nós temos que fazer esse debate e não permitir a negação da política”, disse o ex-presidente, dirigindo-se ao candidato petista ao Senado Eduardo Suplicy, que criticou nos últimos dias os ataques do PT, na propaganda eleitoral na TV, a Marina Silva comparando a candidata do PSB aos ex-presidentes Fernando Collor de Mello e Jânio Quadros.

E de Padilha cobrou mais politização na campanha: “Estou convencido, Padilha, de que você pode reverter essa campanha. Agora, de vez em quando tem que dar uma cutucada nas pessoas, em alguns deles. Um pouco de política na campanha vai fazer bem”.

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