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Favorito ao Senado, Romário faz campanha ‘solo’ no Rio

Ao que indicam as pesquisas eleitorais, ex-jogador está perto de conquistar cadeira de senador após quatro anos como deputado. Próximo de Lindberg, Romário evita campanha ao lado do petista

Divulgação/Facebook Romário

Em mandato, o ex-craque foi visto mais vezes em Brasília do que nas habituais redes de futevôlei cariocas

Rio de Janeiro – Ex-jogador de futebol mundialmente reconhecido, maior astro de uma Copa do Mundo, milionário, frasista inspirado e exemplo de bon vivant, Romário conseguiu, por meio da política, afastar o fantasma do ostracismo com o qual, segundo ele já admitiu, nunca lidou muito bem. Em 2009, dois anos após ter prolongado a carreira até os 41 anos – embora não necessitasse financeiramente – com o objetivo de alcançar a marca dos mil gols, o artilheiro aceitou o convite do PSB para se filiar e, no ano seguinte, elegeu-se deputado federal, sendo o sexto candidato mais votado no Rio de Janeiro. Agora, ao que indicam as pesquisas eleitorais, está na cara do gol para conquistar uma cadeira no Senado, para onde corre aparentemente sem marcação ao liderar as intenções de voto, segundo pesquisa Ibope divulgada na última quinta-feira (10), com 44% contra 21% do adversário mais próximo, Cesar Maia (DEM).

Se o voto dado a Romário pelos eleitores fluminenses em 2010 teve claramente um “componente Tiririca”, desta vez é diferente. Em quatro anos de mandato, o ex-craque foi visto mais vezes em Brasília do que nas habituais churrascarias ou redes de futevôlei cariocas. Além disso, sempre fiel ao estilo “língua presa, língua solta”, ganhou prolongado espaço nacional ao se colocar de forma crítica em relação à CBF e seus dirigentes, assim como em relação à forma como foi realizada a Copa do Mundo no Brasil. Também conquistou muitos eleitores ao defender as reivindicações de pessoas com necessidades especiais.

O desempenho na Câmara e nas pesquisas de popularidade credenciaram o ex-jogador a postular a candidatura ao Senado, no que teve apoio do então presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, recentemente morto em um desastre aéreo. Foi Campos que, sem um palanque forte no Rio, incentivou a aliança entre Romário e o candidato do PT ao governo estadual, senador Lindberg Farias.

Romário e o vascaíno Lindberg se tornaram bastante próximos em Brasília, ambos pais de crianças portadoras da síndrome de Down e parlamentares atuantes nas questões relativas às pessoas especiais. Embora tenha causado algum desconforto na coordenação da campanha da presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, o acordo foi festejado pelas lideranças petistas fluminenses como fundamental para catapultar Lindberg. Na prática, no entanto, a coisa tem sido um pouco diferente.

“Lindberg e Romário continuam se dando bem, mas há decepção no PT com o fato de as duas candidaturas não terem colado uma na outra. O Romário tem estado afastado da campanha para governador nas ruas, o que é agravado porque ele apoia a Marina e o Lindberg apoia a Dilma”, diz um integrante da coordenação da campanha petista, que pede para não ser identificado. Na última pesquisa Ibope, Lindberg aparece em quarto lugar, com 9% das intenções de voto.

Críticas à Dilma

Um “pacto de boa convivência”, como definiu Lindberg, foi selado durante uma reunião com Romário e a cúpula da campanha estadual realizada ainda em julho. Dias antes, em entrevista exclusiva – e rara – dada ao jornal carioca Extra, o deputado afirmara que “o PT nacional tem que deixar o poder” e que “se eu subir no palanque em que Dilma estiver, podem me tirar de lá, porque estarei de camisa-de-força”.

As palavras, naturalmente, não caíram bem entre os aliados regionais: “Ele é candidato da nossa chapa e não pode ficar chutando a canela da Dilma. Radicalizar desse jeito não é bom. Se o Romário exagerar, a militância petista irá se afastar dele”, disse Lindberg, logo após a reunião. É verdade que, depois do “pacto”, Romário não mais foi visto fazendo críticas duras a Dilma ou ao PT em público. Em compensação, também é pouco visto ao lado de Lindberg. Com mais de 40% em todas as pesquisas, parece prescindir da ajuda da militância petista.

O efeito colateral desse desencontro político no seio da aliança foi o prolongamento da ausência de Dilma nas atividades de campanha de Lindberg. Após já ter estado ao lado de dois adversários do petista – Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Anthony Garotinho (PR) – em atos de rua, somente na última sexta-feira (12) Dilma fez, no município de São Gonçalo, segundo maior colégio eleitoral do Rio, o primeiro corpo-a-corpo com eleitores ao lado de Lindberg. O senador teria, segundo informa o integrante da coordenação da campanha petista, “ganhado pontos” com a presidenta ao recusar as investidas do PSB para que fizesse um ato com Romário e Marina.

Adversários

Adversário mais próximo a Romário na luta pela única cadeira em disputa este ano no Senado, o ex-prefeito Cesar Maia aparece na pesquisa Ibope com 21% das intenções de voto, seguido por Eduardo Serra (PCB), com 4%, e pelo ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi (PDT), que tem 3%. Candidato oficial de Dilma, Lupi apoia Pezão para o governo do Rio.

Único que parece em condições de protagonizar uma improvável reviravolta no quadro apresentado pelas pesquisas, Cesar Maia faz uma campanha de resistência após ter sido convencido a deixar a disputa pelo governo estadual em benefício da criação do movimento “Aezão”, aliança informal entre Pezão e Aécio Neves (PSDB) articulada por parte da direção do PMDB fluminense. Para dificultar mais, Cesar está em guerra com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) que, em agosto, chegou a cassar sua candidatura com base na Lei da Ficha Limpa. O candidato recorreu, mas a incerteza jurídica só contribuiu para afastar os muitos apoios e, principalmente, recursos financeiros para a campanha, que lhe foram prometidos pelos articuladores do frustrado “Aezão.”

Longe das primeiras posições, segundo as pesquisas, Carlos Lupi pretende aproveitar o apoio de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar uma improvável arrancada no último mês de campanha. O problema do candidato pedetista, no entanto, é que ele se tornou de forma peculiar vítima das intrincadas alianças fechadas para as eleições no Rio. Não pode ir às ruas com Dilma quando a presidenta está com Pezão, que apoia Cesar Maia, ou Garotinho, que apoia a deputada federal Liliam Sá (PR), que não soma nem 1% das intenções de voto nas pesquisas. Por Romário, tampouco pode se aproximar de Lindberg, embora já tenha dito que irá “aproveitar Lula” quando este estiver no Rio para fazer campanha.

O principal argumento do discurso de Lupi na propaganda da tevê é alertar o eleitor que Romário “passará somente dois anos no Senado”, pois pretenderia se candidatar à prefeitura do Rio em 2016. O ex-jogador, curiosamente, admite que seu “sonho” é um dia ser prefeito da cidade onde nasceu. Os eleitores parecem não se incomodar com a possibilidade de um mandato curto, como indicam as pesquisas. Na política, o ex-jogador de futebol dribla as críticas e queixas de aliados e adversários com a mesma frieza com que desmontava as zagas adversárias. Como nos campos, tem misturado talento, sorte e oportunismo para conseguir objetivos. Agora, tudo indica que está prestes a marcar mais um gol na ainda recente carreira política.

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