Disputa

Eterno coringa, PMDB se rearranja entre Dilma, Aécio e Marina

De um lado, Michel Temer trabalha para costurar união em torno da presidenta. De outro, grupos alimentam a dúvida sobre apoio a PSDB, PSB ou PT e aguardam 'melhor momento' para definição

Valter Campanato/Agência Brasil

Caciques do PMDB deixam a todos de barba de molho com postura dúbia sobre o papel na disputa eleitoral

Brasília – Quando se fala no PMDB, há quase três décadas os parlamentares de outros partidos costumam colocar as barbas de molho. Primeiro, porque ninguém duvida que consiste numa legenda de peso. Peso pela bancada no Congresso, a segunda maior do país, e também por agregar quadros importantes na política nacional. Contudo existe a questão das divisões internas, ponto mais visado e desgastado na sigla. É este último quesito que, no momento, mexe com as preocupações e costuras políticas, uma vez que não se tem certeza, ainda, sobre para que lado a balança peemedebista vai pesar com mais intensidade no segundo turno destas eleições.

Para alguns, o partido tem caráter governista por natureza e não está preocupado em se manter numa posição, pois saberá aproximar-se de quem for vitorioso nas urnas, seja Dilma Rousseff (PT) seja outro candidato – situação admitida até mesmo pelo atual vice-presidente, Michel Temer. Já para outras correntes, os integrantes da legenda podem, antes disso, trabalhar como fiéis da balança, com condições de interferir e até ajudar a definir a vitória ou derrota dos candidatos à presidência, como uma espécie de carta coringa.

De qualquer forma, as preocupações já começam a fazer parte do jogo. Informações de parlamentares e de um ex-ministro da sigla são de que, enquanto o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, declarou que os socialistas já saíram em busca dos políticos dos peemedebistas que hoje estão no palanque de Aécio Neves (PSDB) para pedir apoio no segundo turno, Michel Temer deu início a rodadas de conversas com integrantes do PMDB de vários estados, para tentar manter a legenda o mais unida possível após o resultado da primeira rodada das eleições, em 5 de outubro.

A ideia de Temer é aglutinar o partido em torno da candidatura da presidenta Dilma Rousseff e tentar trazer de volta os peemedebistas que resolveram apoiar o candidato tucano. Nessa matemática, estão incluídos os trabalhos, nos estados, do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que tem grande chance de eleger Renan Calheiros Filho governador de Alagoas, e os senadores José Sarney (AP), Eduardo Braga (AM), que pode ser eleito governador amazonense, e Eunício Oliveira (CE), favorito nas pesquisas para o governo cearense.

“A expectativa de Temer é de que, como este ano o PMDB tende a fazer governadores de peso político, estes governantes ajudarão a aglutinar forças para a campanha da presidenta Dilma no segundo turno. Essa é a principal aposta dele, mas é preciso atuar como algodão entre cristais nessa negociação”, afirmou um deputado do partido, reconhecendo a dificuldade em reunir gregos e troianos dentro da legenda.

Interrogações

Conforme deixaram claro alguns peemedebistas, também há nomes que figuram como incógnitas nesse processo. Um deles, o atual presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), candidato ao governo do Rio Grande do Norte, deu várias declarações controversas nos últimos dias.

Durante programa de rádio em Natal, na última semana, Alves deixou clara a dubiedade com que atua: “Todo mundo sabe que meu apoio é na Dilma, mas se a Marina ganhar vai ser bom para nós também, porque a Wilma (Faria, candidata ao senado na chapa dele) é do PSB e tem ligações com a Marina. E o Aécio é um amigo fraterno”, colocou, num tom de informalidade que provocou risadas de correligionários, mas também suscitou críticas por parte de assessores de campanhas e foi explorado pelos adversários.

Nos bastidores, sabe-se que Alves sempre chamou atenção, durante conversas a portas fechadas, para o fato de que muitas das dificuldades encontradas pelas lideranças no Congresso Nacional na votação de matérias de interesse do governo eram culpa da própria Dilma Rousseff e da sua falta de diálogo com políticos de modo geral.

Da Bahia, Geddel Vieira Lima, ex-ministro do governo Lula, mas hoje candidato ao Senado pelo PMDB com o apoio dos tucanos, negou recentemente matéria veiculada no jornal O Estado de S. Paulo que o posicionou como o principal nome da legenda a articular o apoio de aecistas à campanha de Marina, no segundo turno. “Vamos nos posicionar na hora e no momento apropriados, mas não é verdade que já tomei qualquer decisão a respeito”, desconversou. Mesmo assim, as apostas neste sentido continuam. E, segundo tucanos baianos, as negociações são realizadas pelo seu irmão, o deputado Lúcio Vieira Lima (BA).

Pesos e medidas

A avaliação de velhos peemedebistas é de que pesos e medidas são fortes dos dois lados. Um grupo de aliados do partido acredita que, como os parlamentares possuem uma relação desgastada com o Palácio do Planalto hoje, não seria boa a escolha por apoio a Marina de imediato.

Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Alves, Calheiros e Temer ao lado de Dilma, durante convenção do PMDB: deputado e senador têm postura dúbia

“Marina Silva fala muito em nova política, em desgaste, em não querer os políticos que praticam o velho. Como ela vai governar desse jeito? E onde, nesse modelo que a candidata do PSB defende, podem se enquadrar os peemedebistas? Todos sabem que somos um partido grande, mas muito dividido”, desabafou um senador que integra a legenda e que, mesmo assim, acha que no momento certo o partido terá de tomar uma posição.

Por outro lado, existe o trabalho que é feito pelo candidato a vice na chapa da ex-senadora, Beto Albuquerque (PSB) que já afirmou que “ninguém governa sem o PMDB neste país”. Sem falar na insistência de uma terceira ala, que tem criticado abertamente, há anos, a presidenta Dilma Rousseff e a falta de apoio aos parlamentares.

“Já recebemos um sinal neste sentido e vamos aguardar o resultado das eleições, mas quero dizer que o PMDB não terá problemas em dar apoio a um governo dela (Marina Silva) e trabalhar pelo melhor para o Brasil no Congresso, integrando a base aliada”, afirmou o vice-líder do partido na Câmara, Danilo Forte, principal líder deste grupo, reiterando a cisão ainda maior da sigla.

Não se sabe, nesse xadrez político, onde se acomoda o atual líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Evangélico, mas ao mesmo tempo detestado por um grupo de marinistas, Cunha fez acirrada oposição ao Palácio do Planalto nos últimos quatro anos e não esconde de ninguém as ambições de, em 2015, disputar a presidência da Casa. Ele não se manifestou até agora sobre uma posição para o segundo turno.