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Em São Paulo, Marina admite que ‘não existe novo do novo’

Em visita à Faculdade de Medicina da USP, candidata do PSB diz que irá conseguir recursos para aumentar investimento em saúde mesmo sem criar novos impostos, com eficiência e diminuindo 'máquina pública'

Nelson Antoine/Frame/Folhapress

Marina é recebida por Cerri na Faculdade de Medicina. ‘Não vamos desistir do Brasil’, diz diretor

São Paulo – A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, que se considera representante de uma nova maneira de fazer política no país, reconheceu hoje (3) em São Paulo que não existe “novo do novo”.

Em palestra na Faculdade de Medicina da USP, na zona oeste da capital, a ex-ministra explicou que a mudança que propõe – e que diz ter ouvido nas ruas durante as manifestações de junho do ano passado – “não é uma mudança nos velhos padrões, em que você acha que vai criar o novo do novo do novo”. “Não existe o novo do novo”, pontuou Marina. “Tudo que você cria é em cima de algo que é preservado.”

Como vem ressaltando desde o início da campanha, a candidata deseja preservar e aperfeiçoar o tripé macroeconômico – controle da inflação, superavit primário e câmbio flutuante –, que enxerga como legado positivo dos governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ao mesmo tempo, deseja manter os “ganhos da política social” trazidos pelas administrações do PT.

“Ainda bem que trocamos a caridade e o assistencialismo pela transferência de renda, que dá dignidade às pessoas e ajuda a aquecer a economia local”, avaliou Marina, reafirmando a necessidade de efetuar ajustes no Bolsa Família. “Vamos assistindo os mais vulneráveis, mas ao mesmo tempo temos que prover meios para que as pessoas possam ter inclusão produtiva.”

Saúde

Marina foi recebida na Faculdade de Medicina da USP por seu diretor, Giovanni Guido Cerri, ex-secretário estadual de Saúde de São Paulo na gestão Geraldo Alckmin (PSDB) entre 2011 e 2013, e pelo presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso, que declarou “apoio total” à candidatura da ex-ministra.

Cerri, ao entregar à candidata do PSB um conjunto de propostas para o setor, se valeu do bordão “Não vamos desistir do Brasil”, frase que vem sendo usada para recordar Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e presidenciável morto em acidente aéreo no último dia 13.

Figurões da USP e AMB se colocaram radicalmente contra o programa Mais Médicos, implementado pela candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) para levar profissionais da saúde aos rincões do país e às periferias das grandes cidades. Marina, porém, não vê a iniciativa com maus olhos.

“O Mais Médicos ajuda em função da deficiência no serviço de saúde. É um complemento que deve ser apoiado, não uma solução definitiva”, ressalvou a candidata, ela mesmo vítima da ausência de médicos em regiões afastadas. “A população precisa ser atendida e há lugares que não têm atendimento. Mas devemos trabalhar para que o Brasil possa prover a quantidade de médicos necessária para atender sua população.”

Questionada pela RBA sobre suas posições em relação à pesquisa com células-tronco, ao uso medicinal da maconha e à legalização do aborto como política de saúde pública contra mortalidade de adolescentes grávidas, Marina utilizou um artifício que vem empregando diante de questões que incomodam eleitores evangélicos.

“Sempre defendi um debate que considere aspectos éticos, filosóficos e morais em relação à pesquisa científica”, afirmou, sem tomar posição. “O aborto será sempre agressivo para a mãe, que sofre consequências físicas e emocionais. É preciso muito mais evitar que as mulheres tenham necessidade (de fazer aborto) por falta de atendimento de saúde durante a gravidez, por falta de educação sexual ou planejamento familiar.”

Marina resume que, caso seja eleita, defenderá o que está na lei – e deixará que deputados e senadores resolvam o resto. “A legislação deve ser cumprida. O que não está estabelecido na lei, não depende do Executivo. É uma decisão do Congresso.”

Marina, que lembrou sua promessa de investir 10% da receita bruta da União no sistema de saúde, foi questionada pela RBA sobre se tentaria criar ou aumentar impostos para garantir os recursos. Em 2007, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quis aprovar no Congresso a manutenção da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) como forma de assegurar orçamento para a saúde, mas os parlamentares extinguiram o tributo.

A candidata do PSB rejeitou a ideia de recorrer a impostos para cumprir sua promessa. “Vamos conseguir recursos para saúde aumentando eficiência dos gastos públicos, fazendo nosso país voltar a crescer, diminuindo o tamanho da máquina pública”, explica. “Diminuindo os juros, o Brasil vai conseguir, sim, ter o espaço fiscal necessário para investir 10% para saúde e 10% para educação, que terá suporte do pré-sal.”