Ofensas

Em queda, Marina reúne apoiadores mais próximos e chama Dilma de mentirosa

Candidata do PSB justifica votações contra CPMF como parte do trâmite legislativo e acusa Dilma de não entender do tema: 'Come pela boca do marqueteiro'. Campanha se diz vítima de ataque na internet

Danilo Verpa/Folhapress

Evento em São Paulo serviu para que Marina buscasse responder a pergunta feita domingo por Dilma

São Paulo – Em evento com uma forte carga emotiva, a candidata à presidência da República Marina Silva, do PSB, fez fortes críticas hoje (30) à presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, durante um ato político na Lapa, zona oeste de São Paulo. Marina reuniu uma plateia formada por 400 apoiadores, entre os quais representantes de sua coalizão, empresários e sociedade civil, e mostrou postura agressiva contra sua principal adversária na disputa eleitoral.

O ato serviu para que Marina buscasse dar resposta a uma pergunta apresentada por Dilma durante debate exibido no último domingo pela Record. Na ocasião, a presidenta acusou a adversária de, como senadora, votar quatro vezes contra a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

A ex-senadora acusou Dilma de não entender o funcionamento das votações no Congresso. “Tenho certeza que tem gente que não vai entender que um processo legislativo, pra ser votado, passa por muitas etapas. Tem coisa que a gente vota no principal, e depois não vota nas emendas. Vota nas emendas, mas não vota no principal”, disse, sem explicitar o principal.

Em seguida, voltou a desqualificar a presidenta por não ter sido eleita para um cargo eletivo antes de assumir o Palácio do Planalto, em 2011. “Quem não foi nem vereadora e vira presidente do Brasil não entende isso. Come pela boca do marqueteiro, come pela boca do assessor!”, atacou, sob muitos aplausos dos seus apoiadores. Entre as figuras mais proeminentes de sua campanha estavam Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú, o deputado federal Roberto Freire, o presidente do PSB, Roberto Amaral, a coordenadora de campanha Luiza Erundina, o empresário Guilherme Leal, dono da Natura, e o candidato a vice-presidente pelo PSB, Beto Albuquerque.

“Não venha me chamar de mentirosa. Mentira é quem diz que não sabe que tinha roubo na Petrobras. Mentira é quem diz que não sabe o que está acontecendo na corrupção nesse país. Mentira é quem diz que ia fazer 6.000 creches e faz apenas 400! Eu decidi que não quero ganhar perdendo. Só quero ganhar ganhando”, continuou Marina, em um tom bem acima daquele que caracterizou sua campanha, desde que assumiu a condição de presidenciável substituindo Eduardo Campos, morto em 13 de agosto passado.

As críticas a Dilma não cessaram. “Em 500 anos de história, eu nunca pensei que uma mulher pudesse permitir fazer o que estão fazendo para destruir a biografia honrada de uma outra mulher”, disse Marina, após mencionar que, mesmo tendo sido derrotada pela petista nas eleições de 2010, havia celebrado “quando esse país a elegeu a primeira mulher presidente do Brasil”.

A cinco dias do primeiro turno eleitoral, Marina tem sofrido queda nas pesquisas de intenção de voto divulgadas por diversos institutos, ao mesmo tempo em que a presidenta Dilma e o candidato do PSDB, Aécio Neves, sobem, o que faz crescerem as esperanças entre os petistas de arrematar a eleição ainda em primeiro turno, enquanto que os tucanos esfregam as mãos para uma possibilidade mais concreta de tomarem o segundo lugar de Marina e alcançarem um segundo turno.

“Este país virou uma grande onda verde-amarela. É uma grande onda, eu sinto isso. E é por isso que o desespero está maior. É por isso que cada pessoa que está aqui deve sair com a convicção de que nós estamos no segundo turno! Escrevam isso. As forças que querem a polarização (entre PT e PSDB) estão fazendo de tudo para dizer que vai continuar entre os mesmos”, acredita.

Além de garantir que chegará ao segundo turno, Marina diz que a disputa será entre “a sociedade brasileira e eles.” “Eu sou o melhor pretexto que a sociedade tem para colocar as coisas no contexto da mudança da história, com a altura e a profundidade que os brasileiros merecem. Quem vai ganhar é a nova postura”, finalizou.

Hackers

Ao contrário do que era previsto, Marina Silva não concedeu entrevista coletiva ao fim do evento na capital paulista. Segundo sua assessoria, a candidata do PSB estava esgotada e sem condições de conversar por conta do estado de sua voz, precisando se preservar para o último debate presidencial, da Rede Globo, nesta quinta-feira (2).

Com isso, quem conversou com a imprensa foi Walter Feldman, coordenador da campanha marinista, que abriu a conversa com os jornalistas dizendo que o site da candidata do PSB sofreu um ataque de hackers na madrugada do último dia 12, mas só agora trazido à tona. De acordo com o ex-deputado federal, o ataque foi articulado por 1.365 computadores, que realizaram quatro milhões de acessos simultâneos ao site em 16 minutos, tirando do ar o site da campanha por cerca de cinco horas. “Nós estamos há mais de 15 dias investigando um ataque que sofremos no dia 12 de setembro. Um ataque articulado, organizado, e claramente planejado, em que derrubou nosso site por horas.”

Homem-forte da campanha de Marina, o ex-tucano disse que uma equipe conseguiu os IPs (Protocolo de Internet, na sigla em inglês, dado que pode localizar geograficamente usuários da rede) das máquinas no último domingo (28). Ele revelou apenas o de três computadores supostamente envolvidos. Segundo a campanha de Marina, um da Petrobras, próximo à sede central da empresa, no Rio de Janeiro, um da prefeitura gaúcha de Ivoti, governada pelo PSDB, e um da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), além de 11 computadores localizados próximos do Memorial JK, no Eixo Monumental, em Brasília. “Nós não avançamos nada, porque cabe agora uma investigação oficial por parte da Polícia Federal”, disse Feldman.

Feldman disse que a coligação de Marina entraria com um pedido de investigação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda na noite de hoje, com notificação de crime e pedido antecipado de apuração de provas. “Nós achamos que há mecanismos legais, que a campanha deveria se utilizar pra entregar junto ao TSE uma investigação prévia, mínima e adequada para sustentar a representação. Seria muito vago (dizer que) ‘ó, fomos atacados, não sabemos muito bem por quem’. Nos parecia necessário fundamentar a representação”, alega Feldman.

Apesar disso, e de dizer que não pode fazer nenhuma acusação sobre o envolvimento de partidos políticos, Feldman externou a visão de que foram utilizadas “estruturas de governo”. “Nós sabemos e queremos identificar como essas estruturas de governo foram utilizadas para fins criminosos.” Ele ressaltou que o dado mais importante é que o caso tipifica crime. “É estranho que tenha acontecido durante a madrugada, é claramente planejado e teve um custo. Então, nós queremos identificar os responsáveis, caracterizar o crime e pedir as punições adequadas.”

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