São Paulo

Em encontro com artistas, Marina não se compromete com orçamento para a cultura

Candidata preferiu não definir vinculação para setor, que hoje recebe apenas 0,1% das receitas brutas da União. Movimentos pedem 2%. 'Só nos comprometemos com a saúde'

futura press/folhapress

Candidata reuniu 500 pessoas ligadas à literatura, música, teatro, circo, dança, cinema, na Casa das Caldeiras

São Paulo – Em encontro com artistas hoje (15) em São Paulo, a candidata do PSB à presidência da República, Marina Silva, não quis se comprometer com orçamento fixo para a cultura no país. “Vamos ampliar progressivamente os recursos”, prometeu a ex-ministra. “Não vamos colocar percentual. Nos comprometemos apenas com os 10% para a saúde.”

O orçamento destinado ao ministério atualmente chefiado por Marta Suplicy para o exercício de 2014 é de aproximadamente R$ 3 bilhões, cerca de 0,1% das receitas brutas da União: R$ 2,4 trilhões. Os movimentos sociais da cultura exigem uma fatia de 2%. “Os demais ministérios, com exceção da Educação, que já estava aprovado, estão em avaliação”, emendou Marina, ao dizer que há “muitos pedidos” de vinculação orçamentária.

A ex-ministra do Meio Ambiente defendeu ainda a “liberdade de expressão” como pré-requisito para o desenvolvimento da cultura no país. “Não há possibilidade de criação com qualquer forma de dirigismo. Isso é o empobrecimento da cultura”, anotou. Minutos antes, a candidata fora questionada sobre sua posição em relação à censura prévia, sobretudo de biografias, apoiada por um dos entusiastas de sua candidatura, Caetano Veloso.

Marina Silva participou de encontro com artistas em São Paulo, evento que terá uma segunda versão na quarta-feira (17) no Rio de Janeiro. Cerca de 500 pessoas ligadas à literatura, música, teatro, circo, dança, cinema, entre outras manifestações culturais, se deslocaram até a Casa das Caldeiras, na zona oeste da capital, para fazer algumas propostas à candidata – e também para escutá-la.

Nem todos, porém, manifestaram apoio à sua candidatura. Luiz Schwarcz, fundador da editora Companhia das Letras, por exemplo, se declarou “indeciso” ao apresentar algumas demandas para o setor editorial. “Vim mais para ouvir”, revelou. Mas a maioria estava para prestigiar Marina Silva. Entre eles, o cinesta Fernando Meirelles, que já deu entrevistas manifestando apoio à ex-ministra.

“Talvez nem seja preciso mexer no cinema”, ponderou o diretor do filme Cidade de Deus, indicado ao Oscar, apontando que a indústria do audiovisual brasileiro movimentou R$ 42 bilhões em 2012. “De 1993 pra cá, graças a algumas leis, experimentamos um crescimento impressionante. Está tudo certo, tudo caminhando. Basta apenas desburocratizar.”

O cantor Xis sustentou que a periferia é que pode salvar a cultura brasileira – e ser salva por ela. “O hip hop me salvou”, disse, ao lamentar que a juventude das “quebradas” esteja ouvindo apenas funk hoje em dia. “A letra do funk é chula porque a molecada não está na escola. Se der oportunidade para um pichador, ele não vai pichar, vai fazer grafite.”

“Marina pode nos fazer sonhar de novo”, declarou Dinho Ouro Preto, que, no ano passado, após a onda de manifestações, virou “hit” na internet ao vestir nariz vermelho durante show no Rock In Rio – e dizer que “o pessoal” de Brasília olha para os cidadãos como se fossem palhaços. “Vejo uma descrença generalizada dos jovens com os políticos.”

Caetano Veloso e Arnaldo Antunes, ex-Titãs, não compareceram, mas gravaram depoimentos. Gilberto Gil, que também já declarou apoio à sua ex-colega de Esplanada durante o governo Lula, tampouco marcou presença. Marina, no entanto, manteria uma reunião exclusiva com o ex-ministro da Cultura hoje à noite.