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Debate: Dilma tenta mostrar contradições de Marina, mas não aborda questões-chave

Presidenta diz que sem Congresso é impossível ter governo estável e que candidata do PSB não responde de onde virão recursos para promessas. Avião e programa de governo ficam de fora

Ichiro Guerra/Campanha Dilma

Dilma trabalhou para expor perguntas sem resposta de Marina: governabilidade e recursos

São Paulo – O avanço na corrida eleitoral e a definição de papéis dos principais candidatos na disputa pelo Palácio do Planalto poderia ter elevado o nível do debate realizado hoje (1º) no SBT. Não foi o que se viu: o segundo encontro entre sete dos 11 postulantes à Presidência da República teve uma queda sensível na qualidade da conversa e a falta de surpresas certamente ajudou a tornar o evento mais monótono que o realizado pela Band na semana anterior.

O crescimento de Marina Silva (PSB) nas pesquisas ajudou a definir uma nova configuração no debate. Se antes Aécio Neves (PSDB) tinha condições de buscar protagonismo, desta vez acabou excluído pela polarização clara entre a ex-senadora e a presidenta Dilma Rousseff (PT), que por duas vezes buscou a oponente em perguntas que tentavam mostrar contradições e fragilidades da candidatura da pessebista: promessas feitas sem recursos correspondentes e pré-sal.

O debate parecia tomar rumo alvissareiro logo de início, quando Dilma, a primeira a perguntar, questionou Marina sobre o tamanho de algumas das promessas: R$ 140 bilhões em orçamento. “Como isso é compatível com a ideia de cortar impostos?”, questionou a petista, ouvindo do outro lado as já tradicionais evasivas que evocam a nova política.

A candidata do PSB disse que a primeira questão será combater o desperdício nos gastos públicos. “A sociedade paga muito alto para que as escolhas que são feitas sejam sempre feitas na direção errada”, disse, acrescentando que ninguém questiona de onde virão os recursos para subsidiar juros aos bancos, mas todos perguntam de onde sairá o dinheiro que aumentará investimentos em saúde e educação.

A resposta de Dilma retomou o tom usado durante entrevistas dadas nos últimos dias, tentando demonstrar o que considera promessas vazias de Marina. “A senhora falou, falou, mas não responde à pergunta de onde vem o dinheiro. Quem governa tem de dizer de onde vem o dinheiro. Não basta prometer e prometer.”

Dilma não chegou a abordar o caso do avião que era utilizado por Eduardo Campos, que encabeçava a chapa do PSB até o acidente ocorrido no último dia 13. O Ministério Público investiga se a aeronave foi comprada com recursos de caixa dois, em uma transferência de R$ 1,7 milhão que não foi informada à Justiça Eleitoral.

Marina trabalhou sobre a ideia de que Dilma fracassou e não consegue admitir os erros do governoOutra questão que ficou de fora do rol de perguntas da presidenta foram as mudanças no programa de governo de Marina. Lançado na última sexta-feira, o documento já sofreu alterações na parte sobre energia nuclear, em que a candidata do PSB reprovou o apoio a essa fonte, e na temática LGBT, em que rapidamente foi retirado o trecho que dizia respeito ao apoio ao casamento homoafetivo. A esse respeito a candidata do PSB foi questionada apenas pela candidata do Psol, Luciana Genro, e se saiu com a versão de que se tratou de um erro da equipe que fez a diagramação do projeto.

As duas candidatas mais bem colocadas na pesquisa voltariam a ter um embate direto quando Marina expôs a Dilma o mesmo diagnóstico de Aécio sobre a economia, considerando que há inflação alta e baixo crescimento, o que levará a desemprego. A petista respondeu ponderando que a perda de fôlego da economia é momentânea e que não existe recessão, como aventam economistas próximos aos candidatos do PSB e do PSDB.

Ela afirmou ainda que há uma contradição clara entre uma política econômica que se atrela a grupos interessados em arrocho salarial e aumento do desemprego, e uma política social que prevê aumento de investimentos. Na última semana, passou a ser abordada com mais espaço a conexão entre Marina e a banqueira Neca Setúbal, dona do Itaú e coordenadora da campanha, e os economistas Eduardo Giannetti e Lara Resende, ligados ao pensamento econômico liberal parecido ao que guia Armínio Fraga, guru de Aécio.

Dilma apostou também em atacar a ideia de Marina de “governar com os bons”, sem explicar como lidará com a formação de maioria no Legislativo. “Quero dizer que eu apostei na governabilidade. Nunca negociei contra os interesses do Brasil. Ganhei muitas e perdi algumas. Sem negociação com o Congresso não é possível garantir um governo estável. Não somos os presidentes que escolhem os bons. Quem escolhe os bons é o povo brasileiro.”

Dilma buscou ainda confrontar a ideia de autonomia do Banco Central, sem, no entanto, explicar que essa é a proposta defendida por Marina. A candidata do PSB encampa a ideia de que presidente e diretores do Banco Central devem ter mandato fixo, sem que o presidente da República possa demiti-los, e que o exercício de regulação financeira seja totalmente independente do governo. Na visão de críticos da proposta, trata-se de dar total autonomia ao mercado para que opere em benefício de lucros, retirando de administrações eleitas pelo voto a possibilidade de intervenção na política econômica.

Pano de fundo

Relegado a segundo plano, o terceiro colocado nas pesquisas, Aécio Neves, buscou o embate mais com Dilma que com Marina e seguiu preso a questões econômicas, especialmente à ideia de mostrar que a petista, ao longo de quatro anos, permitiu que houvesse inflação alta e baixo crescimento. “Os tão alardeados empregos estão indo embora. Essa é a realidade. País que não cresce não gera empregos. Infelizmente, essa é a herança perversa desse governo que fracassou na economia, na gestão do Estado.”

O tucano teve direito a um momento de protagonismo, quando perguntou a Dilma sobre repasses de recursos federais e apontou a presidenta como culpada por alguns dos problemas de Minas Gerais, que ele governou de 2003 a 2010. “Candidato, sua memória é tão fraca que, no caso do transporte público, o senhor esquece que temos parceria com o governo estadual em todas as obras de mobilidade urbana que têm em Minas Gerais”, afirmou a petista.

Aécio, claramente relegado a segundo plano, tentou polarização com Dilma e fez poucas críticas diretas a Marina

Entre os demais candidatos, Luciana Genro buscou elencar contradições da adversária do PSB em questões morais e econômicas (“Pelo que vi no teu programa tua receita é a mesma dos tucanos”), e novamente igualou Dilma, Aécio e Marina, agora chamados de “três irmãos siameses.”

Levy Fidélix (PRTB) voltou a citar que duas das principais companhias de Marina, Neca Setúbal, que é uma das coordenadoras da campanha da pessebista, e o empresário Guilherme Leal são ligados a empresas acusadas de sonegação pela Receita Federal. A primeira é herdeira do banco Itaú e o segundo é dono da Natura.

Eduardo Jorge (PV) apostou na necessidade de redução dos juros básicos e no debate sobre a legalização do aborto. Na contramão da ampliação dos direitos civis, Pastor Everaldo (PSC) expôs mais uma vez que tem dificuldades a temas que fujam da alçada moral e da redução do tamanho do Estado, retomando exortações sobre o papel da família e a necessidade de privatização de empresas públicas.

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