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Candidatos ao governo do Rio traçam estratégias para reta final

Nos bastidores, apoiadores de Pezão o veem reeleito, enquanto Garotinho aposta que segundo turno desmontará favoritismo. Lindberg fala em rejeição de adversário para avançar, e Crivella projeta surpresa

Fernando Maia/Campanha Pezão/FotosPúblicas

Governador Pezão tem orçamento folgado e mais tempo de TV no primeiro turno como apostas para consolidar liderança

Rio de Janeiro – A pouco mais de uma semana das eleições, os quatro principais candidatos ao governo do Rio de Janeiro já traçaram suas estratégias para tentar garantir lugar no segundo turno. De acordo com as pesquisas de intenção de voto, esta segunda rodada parece inevitável, em uma disputa que permanece indefinida e tem tudo para ser decidida voto a voto em 5 de outubro.

Embalado por um crescimento constante nas duas últimas semanas e tendo à sua disposição mais recursos financeiros que os adversários, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que tenta a reeleição, procura manter e aprofundar a tendência atual que o favorece. Seu principal adversário até aqui, Anthony Garotinho (PR), segue caminho inverso e tem como meta imediata estancar a queda registrada pelas pesquisas. Mais atrás, Marcelo Crivella (PRB) e Lindberg Farias (PT) jogam suas últimas cartadas para tentar decolar às vésperas da eleição e chegar ao segundo turno.

No comando de campanha do PMDB é grande a convicção de que Pezão, em alta, marcha para a reeleição, e a orientação, por enquanto, é manter a calma e também as atividades diárias do governador nos principais bolsões de voto do estado. Com gastos efetuados de R$ 13,6 milhões, divulgados em setembro na segunda prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e estimativa total de gastos de R$ 85 milhões, o peemedebista é, de longe, o candidato ao governo com mais material de campanha – panfletos, cartazes, adesivos – espalhado pelas ruas da capital. Essa diferença, aliada aos mais de 11 minutos de propaganda eleitoral gratuita na televisão, pode explicar o crescimento sustentado nas pesquisas.

Outra razão é o fato de o candidato do PMDB ter conseguido a proeza política de se associar de forma simultânea às três principais candidaturas à Presidência da República. Oficialmente aliado da presidenta Dilma Rousseff (PT), ao lado de quem apareceu diversas vezes nos últimos dois meses, Pezão aproveitou nas primeiras semanas de campanha o movimento “Aezão”, organizado pelo presidente regional do partido, Jorge Picciani, para que o PMDB apoiasse Aécio Neves (PSDB). Quando a candidatura presidencial tucana murchou, o governador ainda viu surgir um novo movimento, desta vez o “Marinão”, que, capitaneado por dissidentes do PV, pede votos para Pezão e Marina Silva (PSB).

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Garotinho, que liderava pesquisas, tem alta rejeição, mas avalia que no segundo turno será possível mudar

“Não posso controlar os partidos que me apoiam e defendem outros nomes para a presidência. Eu estou com a Dilma, mas tem gente que me apoia e vota na Marina, no Aécio ou no Pastor Everaldo”, afirma Pezão. O governador se diz “muito animado” com a campanha: “Estou satisfeito. Diziam que eu teria 10% dos votos, lembra? Mas, vamos seguir trabalhando, não tem nada ganho.” Curiosamente, o ex-governador Sérgio Cabral, principal aliado de Pezão e patrono de sua candidatura, é figura até aqui ausente da campanha do PMDB nas ruas ou na tevê: “Quem tem que aparecer sou eu, que sou candidato”, comenta Pezão, negando que Cabral esteja sendo “escondido” pelo partido.

Sem material

Se não faltam recursos ao candidato do PMDB, o mesmo não se pode dizer de seus adversários. O petista Lindberg Farias, apesar da previsão inicial de R$ 60 milhões, só havia arrecadado, de acordo com a segunda parcial do TSE, R$ 3,5 milhões: “Nossos gastos já ultrapassam os R$ 5 milhões. A verdade é que o dinheiro não apareceu e muita coisa não funcionou. O primeiro grande lote de material conjunto da Dilma com o Lindberg, por exemplo, só chegou ao diretório regional do partido na segunda-feira (22), a duas semanas da eleição. Isso dificultou tudo”, diz um dirigente do PT que pede para não ser identificado. Outra dificuldade de Lindberg apontada pelo petista é o fato de Romário, candidato ao Senado pelo PSB na chapa do PT, não ter ajudado o aliado: “Fomos enganados”, resume.

A estratégia de Lindberg para decolar na reta final é apostar na alta rejeição a Garotinho (39%) para promover uma onda de voto útil que o coloque no segundo turno contra Pezão. “Acho que a eleição está em aberto. Daqui até o dia 5, toda a militância do PT, do PCdoB, do PV e do PSB irá para as ruas para trabalhar por uma segunda onda de voto útil que me faça ultrapassar Garotinho”, diz o candidato petista, ressaltando que cenário semelhante se deu nas eleições para prefeito do Rio em 2008, quando Eduardo Paes e depois Fernando Gabeira ultrapassaram Marcelo Crivella a poucos dias do pleito.

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Com menos recursos, menos de R$ 1 milhão, Crivella figura na terceira posição e aposta em mudança de última hora

Nenhum outro candidato parece sofrer mais com a falta de recursos do que Crivella, que projetou R$ 15 milhões em sua declaração ao TSE, mas até agora arrecadou somente R$ 787,5 mil, sendo R$ 300 mil de única empresa, a HTR Óleo e Gás. A estratégia do PRB agora é concentrar esforços nas regiões onde o candidato tem maior aceitação: “Nos próximos dias Crivella fará corpo a corpo com eleitores da Baixada Fluminense e de São Gonçalo, onde ele foi o candidato mais votado para senador em 2010. Ele vai intensificar ainda mais o seu contato com o povo nesta reta final de campanha e vamos ao segundo turno. O Crivella será a grande surpresa desta eleição”, diz Isaías Zavarise, coordenador-geral da campanha.

Ajuda do Senhor

Já Garotinho projetou gastos de R$ 25 milhões junto ao TSE, mas somente arrecadou R$ 2,2 milhões até agora. No comando de campanha do PR, a ordem é superar a carência de recursos e aproveitar os últimos dias antes do pleito para fortalecer o candidato junto ao eleitorado evangélico e também nas regiões da Baixada e do Norte Fluminense, onde historicamente Garotinho tem muitos votos. Essa estratégia, na visão do partido, garantirá sua ida ao segundo turno.

Em seu blog, Garotinho convoca os apoiadores para ajudá-lo a reverter “desvantagens como o tempo de televisão (Pezão com quatro vezes mais), a máquina milionária e os 1.800 candidatos da coligação liderada pelo PMDB, além, é claro, da manipulação das pesquisas”. Apesar da alta taxa de rejeição à sua candidatura, Garotinho aposta na vitória sobre Pezão: “No segundo turno o cenário vai mudar radicalmente com o tempo igual de televisão para os dois candidatos. Finalmente teremos tempo para mostrar quem realmente é Pezão (…). Muita gente que hoje não relaciona Pezão a Cabral vai saber a verdade”, diz, além de citar a Bíblia: “Até aqui nos ajudou o Senhor”.

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Lindberg angariou menos recursos que o esperado e tem dificuldades para fazer avançar sua campanha