Na Band

Sem Alckmin, debate entre candidatos em São Paulo tem roteiro óbvio

Skaf aposta em pauta conservadora e ataques ao governador, criticado também por Padilha, que reitera conexão com Lula e Dilma. Demais candidatos apostam em martelar pontos específicos

Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress

Enquanto Skaf repisou pauta conservadora, Padilha se opôs à redução da maioridade penal

São Paulo – Um debate eleitoral às dez da noite de um sábado não é tarefa para os fracos. Sem a presença de um dos protagonistas, então, e com duas horas e vinte de duração, vira uma missão inglória. O primeiro encontro entre os candidatos ao governo de São Paulo teve roteiro previsível, com críticas ao ausente governador Geraldo Alckmin (PSDB), internado com infecção intestinal, e a reiteração de propostas já apresentadas nos programas do horário eleitoral.

Principais adversários do tucano, Paulo Skaf (PMDB) e Alexandre Padilha (PT) evitaram enfrentamentos entre si, apesar dos esforços da anfitriã Band, e tiveram duas horas para elencar críticas ao governador. Entre os candidatos de pior colocação na pesquisa, no geral ocorreu a defesa de um ponto de pauta específico, retomado a cada pergunta.

Padilha aproveitou o início do debate para reforçar o tom que vem adotando no programa eleitoral, apresentando-se como um administrador experiente pelos dez anos de presença nos governos Lula e Dilma. “Vou criar o Agiliza São Paulo para realizar o que quatro anos atrás o governador, neste debate, prometeu.”

Já Skaf, ao longo de todo o encontro, apostou sempre que pôde na questão da segurança, contando para isso com a ajuda da emissora, que por duas vezes lhe encaminhou pergunta sobre o tema. “Quatro mulheres serão estupradas, três pessoas serão mortas e 750 pessoas serão assaltadas”, vaticinou ao início do debate. Em linhas gerais, o candidato do PMDB adotou pauta conservadora ao estilo de Alckmin, que tem na agenda de repressão uma questão central, mas fez questão de expor a visão de que o tucano não tem controle sobre a situação. “Como governador eu estarei muito próximo à minha polícia. Eu comandarei a polícia.”

Em quatro momentos os jornalistas da Band tentaram confrontar Padilha e Skaf. Via de regra, os dois evitaram comentar respostas um do outro. Em apenas um momento houve uma discordância clara: quando a pergunta foi sobre redução da maioridade penal. “Sou a favor da redução da maioridade penal. Quem tem direitos tem deveres também”, disse o peemedebista, avaliando, porém, que em longo prazo vê a educação como caminho para resolver o problema.

Já Padilha afirmou não ver necessidade de mudar os mecanismos já existentes para garantir privação de liberdade a jovens que cometam infrações. Ele criticou o fato de, em ano eleitoral, Alckmin pressionar o Congresso para aprovar projeto encaminhado pelo governador para aumentar de três para oito anos o tempo máximo de internação. “A medida de reduzir para 16 anos vai fazer com que os donos do crime comecem a aliciar jovens de 12, 14 anos”, disse o petista. “Quero ser o governador que vai cuidar dos jovens, que vai dar oportunidades para os jovens.”

Fraquezas de Alckmin

A corrupção no Metrô, que poderia ser um tema central no debate, foi abordada apenas uma vez. Padilha, questionado pelo candidato do PV, Gilberto Natalini, a respeito de desvios ocorridos no governo federal, se comprometeu a criar uma controladoria nos moldes da aberta por Luiz Inácio Lula da Silva. “A principal postura que um partido tem que ter é não deixar a corrupção ficar debaixo do tapete. É apurar, punir quem tem que ser punido”, afirmou. “O que mais impressiona a todos nós, paulistas, é que não só conviveram com esse escândalo como um dos envolvidos se tornou conselheiro do tribunal de contas do estado.”

Praticamente todos os candidatos recordaram do governador ao falar sobre a falta d’água em São Paulo. A visão em comum é de que, embora o estado passe por uma seca histórica, o principal problema é de gestão. Alguns dos postulantes ao Executivo paulista recordaram que Alckmin já esteve por dez anos no cargo e que havia previsão de esgotamento do sistema hídrico estadual.

Laércio Benko, do PHS, repisou o fato de a Sabesp ser hoje uma empresa com ações na bolsa, fazendo com que esteja submetida aos interesses de acionistas. “Você fica sem água enquanto tem gente ganhando bilhões em lucro na bolsa. É uma política equivocada de achar que água é para ganhar dinheiro.”

Repetições

Benko trabalhou desde o início com a ideia de que é o único representante da “nova política”. Sempre que pôde, citou Marina Silva, Eduardo Campos e a Rede Sustentabilidade para afirmar que é hora de trazer São Paulo ao século 21. Sua principal proposta durante o debate foi a redução do número de secretarias, de 25 para quatro: Gestão Pública, Segurança Pública, Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida. “Tenho absoluta certeza de que o estado de São Paulo merece muito mais do que vem tendo nos últimos vinte anos.”

Natalini também colocou a redução do tamanho do Estado como tema central e escolheu a corrupção como principal problema do país. “Comandar o estado de São Paulo com propostas para todas as áreas. Nosso programa de governo contempla todas as áreas de administração. Pretendemos reduzir a máquina de 25 para 16 secretarias e cortar cinco mil cargos públicos.”

Já Walter Ciglioni, candidato do PRTB, trouxe para cada pergunta a questão da criação de um banco do estado de São Paulo e a necessidade de renegociar a dívida com a União. “Com o banco do estado de São Paulo podemos refinanciar as secretarias. Conseguiremos colocar o governo nos trilhos.”

Reforma política

Apenas dois candidatos apresentaram opinião a favor de uma reforma política que dê fim ao financiamento privado de campanha: Padilha e Gilberto Maringoni (Psol). O tema é central para movimentos da sociedade civil, que entre 1º e 7 de setembro realizarão um plebiscito em todo o país para perguntar a respeito da convocação de uma assembleia constituinte exclusiva para tratar deste tema.

“O grande problema nosso é o financiamento de campanha e a distribuição de tempo na televisão. Enquanto a gente tiver o peso das empresas privadas nas campanhas e depois essas empresas vão fazer obra para o governador ou o prefeito, vamos ter essa disparidade”, disse Maringoni.