Entrevista

No Jornal Nacional, pastor-candidato não explica contradição ideológica

Pastor Everaldo, do PSC, apresenta-se como 'vitorioso' da iniciativa individual, diz que qualquer um pode ser presidente, promete Estado gerido como empresa, prega venda da Petrobras e veta temas morais

Globo

Everaldo diz que pode governar o Brasil porque, ainda que sem experiência, estará cercado de assessores

São Paulo – O candidato do PSC à Presidência da República, Pastor Everaldo, teve dificuldades durante entrevista concedida hoje (19) ao Jornal Nacional para explicar como seu partido deixou a base de apoio a Dilma Rousseff (PT) e passou a encampar uma agenda ultraliberal para a economia. O religioso titubeou também frente às perguntas sobre a falta de experiência no exercício da política institucional, mas conseguiu nos últimos minutos apresentar os dois temas centrais que vem trabalhando nas últimas semanas: a defesa da privatização geral das empresas estatais e a oposição a qualquer avanço em questões morais.

Questionado sobre o fato de o PSC haver deixado oficialmente o governo Dilma apenas neste ano, Everaldo disse que a decisão pela candidatura própria estava tomada em janeiro de 2011. Porém, acabou novamente interpelado sobre suposta contradição entre a agenda liberal que defende e o fato de ter sido, ao longo da carreira, aliado de Leonel Brizola, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, políticos que, na visão do apresentador William Bonner, são representantes de uma política econômica “esquerdizante” e de simpatia “socialista”.

“Minha ideologia foi a mesma. Sempre pensei dessa maneira porque minha vida é dessa maneira. Acredito no empreendedorismo”, disse o pastor, que já no começo da entrevista apresentara sua trajetória, autointitulada “vitoriosa”, de garoto pobre de favela no Rio de Janeiro a empreendedor, passando por office boy e estudante de escola pública.

Indagado por Patrícia Poeta, Everaldo negou a ideia de que o PSC deixou o governo por ter ficado insatisfeito na divisão de cargos. “Não ficamos decepcionados. Ficamos decepcionados pela maneira como foi formado o governo, que contrariou os princípios que nós defendemos”, afirmou, introduzindo mais uma vez tema recorrente em sua fala: a defesa da família, questão que trataria de detalhar no final da conversa, ao dizer que acredita exclusivamente no casamento entre homem e mulher, na defesa da vida desde a concepção e na oposição à legalização das drogas.

No campo econômico, o pastor voltou a expor a ideia do Estado mínimo. “Vou reduzir o número de ministérios de 39 para 20, vou passar para o setor privado todas as empresas públicas que são alvo de corrupção”, disse. “Vou privatizar a Petrobras. A Petrobras, que foi orgulho nacional, é hoje foco de corrupção.”

O candidato rejeitou privatizar apenas Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal por representarem segurança do sistema financeiro e expôs a visão de que a venda de empresas públicas garantirá aos cidadãos pagar menos impostos, direcionando estes recursos ao setor privado.

Um dos questionamentos centrais da conversa girou em torno da inexperiência de Everaldo, que nunca exerceu cargo eletivo. “Não se trata de uma aventura?”, questionou a apresentadora.

“Aprendi na minha vida a trabalhar em equipe. Fui servente de pedreiro. Quando preciso pintar uma parede, chamo um pintor. Um líder precisa saber do que o país precisa e chamar os melhores quadros”, respondeu Everaldo, expondo a visão de que a única diferença entre a administração privada e a gestão do Estado é que a primeira trabalha com base em meritocracia.

“Qualquer um poderia ser presidente da República?”, voltou a perguntar a apresentadora.

“Acredito que sim”, respondeu Everaldo. O pastor da Assembleia de Deus aparece até aqui com 3% ou 4% das intenções de voto, segundo as principais sondagens.

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