Corrida

Menos de um dia após enterro, viúva de Campos se coloca à disposição do PSB

Renata discursa a militantes recordando frase de ex-governador. Advogados analisam se fato de ocupar cargo público é impeditivo. Reunião para definir vice de Marina está marcada para esta terça

Carlos Ezequiel Vannoni/Ag. JCM/Fotoarena/Folhapress

Ao lado de candidatos, Renata foi a ato político agendado antes da morte de Campos

Recife – A família do presidenciável Eduardo Campos, morto na última semana, mudou o tom do discurso sobre os rumos da chapa presidencial do PSB nas últimas horas. Ontem, durante o velório do ex-governador, o irmão Antônio Campos chamou a imprensa e comunicou que Renata Campos não aceitaria ser candidata a vice-presidência na chapa encabeçada por Marina Silva.

Hoje, porém, Renata deu a entender que pode voltar atrás. Ela convocou um encontro com líderes e militantes dos partidos da Frente Popular de Pernambuco, pediu apoio para dar continuidade ao projeto do marido e, embora sem qualquer referência a uma possível candidatura, disse que se colocava à disposição do PSB.

Um pouco antes, o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, ressaltou que ela pode ser o que quiser, contanto que demonstre interesse pela candidatura, diante da tragédia familiar pela qual passou. E reiterou que a ex-primeira dama pernambucana tem toda a representatividade dentro da legenda para assumir tal posição. O cunhado, Antônio Campos, também recuou e declarou que, “caso Renata resolva ser a vice-candidata, a família está totalmente pronta para apoiá-la”.

São grandes, por conta disso, as rodas de aposta e conversas entre as lideranças políticas coligadas aos socialistas sobre a possibilidade ou não de a ex-primeira dama de Pernambuco sair candidata. Inicialmente, ela é impedida pela justiça eleitoral, pelo fato de não ter se desvinculado do cargo de auditora pública do Tribunal de Contas do Estado (TCE) alguns meses atrás.

Ocorre que, mesmo sem ter pedido essa autorização, Renata já está desligada do cargo há mais de quatro anos. É essa possibilidade – a abertura de uma brecha na lei eleitoral – que está sendo analisada por vários juristas convocados pelo partido em Brasília, segundo informações do diretório estadual dos socialistas em Pernambuco.

A ex-primeira dama pernambucana, que vinha se mantendo avessa a entrevistas e evitou falar até agora, afirmou que a família “não vai desistir do Brasil”, frase repetida várias vezes por Eduardo Campos e que vem sendo transformada em mote da campanha do PSB. Ao lado dos cinco filhos, ela ainda enfatizou: “Fica tranquilo, Dudu, teremos a sua coragem para mudar o Brasil. Não desistiremos do Brasil. É aqui que cuidaremos dos nossos filhos”, em meio a aplausos e gritos de “força, Renata”.

‘Sem tristeza’

O evento, que contou com a participação de aproximadamente 3 mil pessoas, foi realizado na casa de recepções Blue Angel, na zona norte do Recife, e tinha sido programado desde a semana passada por Campos com o objetivo de comemorar o aniversário de Renata.

Após o acidente se pensou que seria cancelado, mas foi a própria ex-primeira dama que decidiu mantê-lo, e mandou avisar aos correligionários que, em vez de comemorações pela data, gostaria de marcar o dia para fazer uma homenagem pessoal ao marido recém-falecido.

O encontro também foi marcado pela presença de lideranças expressivas nacionais e do estado, que permaneceram em Recife após o funeral e aproveitaram para fazer discursos em homenagem a Eduardo Campos – como o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), o deputado Miro Teixeira (PTB-RJ) e o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral.

Numa carta que leu, escrita por ela própria, Renata afirmou: “Depois da tragédia, lembro que perguntaram: ‘O que faremos?’ Mantém tudo como ele queria! Como participei a vida toda, não terá diferença nessa. Tenho a sensação que tenho de participar por dois. Foi da vontade dele de eleger Paulo, Raul e Fernando”, referindo-se ao candidato ao governo de Pernambuco pelo partido, Paulo Câmara, e os candidatos ao senado Raul Henry (PMDB) e Fernando Bezerra Coelho (PSB) – este último, ministro da Integração Nacional até o rompimento da legenda com o governo Dilma.

De acordo com o presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, a reunião teve o objetivo de dar início à terceira etapa da campanha, no sentido de convocar a militância e apresentar propostas de governo. Guedes acrescentou que a campanha nacional, embora encabeçada por outro nome – muito provavelmente o de Marina Silva –, não deixará de mostrar o legado do ex-governador e dos pontos positivos da sua gestão no governo e Pernambuco.

Nome na terça-feira

As informações divulgadas nas últimas horas são de que a escolha do candidato a vice na chapa de Marina Silva será consolidada durante reunião agendada para a noite de amanhã, em Brasília, após a realização da missa de sétimo dia do ex-governador. Na manhã do dia seguinte este nome será levado para a reunião do diretório nacional do PSB.

Além de Renata Campos, os nomes mencionados ao longo do dia como mais cogitados passam pelos deputados Júlio Delgado (MS), o ex-deputado Maurício Rands (PE) e a deputada Luiza Erundina (PSB-SP). Erundina chegou a comunicar, em São Paulo, que seu nome está à disposição do PSB. “Estou propondo uma agenda mais à esquerda, uma posição menos ambígua em alguns temas como distribuição de renda, reforma tributária e democratização dos meios de comunicação”, ressaltou, durante entrevista à Agência EFE.

Prefeita de São Paulo pelo PT de 1989 a 1993, Erundina, de 80 anos, é um dos quadros mais representativos do PSB, que anunciará na quarta-feira quem será o candidato da chapa após a morte de Eduardo Campos em um desastre aéreo.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Datafolha e divulgada hoje, Marina Silva aparece com 21% dos votos, ante 20% de Aécio Neves, do PSDB, e 36% de Dilma Rousseff, do PT.

“Acho que a pesquisa é um reflexo da comoção da consciência coletiva do povo brasileiro. Eduardo Campos também pensava que ia subir nas pesquisas com o início dos debates presidenciais”, afirmou Erundina.

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