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Marina apresenta programa de governo com discurso ambíguo sobre temas polêmicos

Candidata do PSB se compromete a preservar iniciativas importantes do governo de Dilma Rousseff, mas se esquiva sobre questões como fator previdenciário, reforma política e aborto

Marcelo S. Camargo/Frame /Folhapress

Resposta vaga: ‘Vamos introduzir os mecanismos para que o Brasil possa ser um lugar bom de se viver’

São Paulo – A apresentação do programa de governo da candidata do PSB à presidência da República, Marina Silva, na tarde de ontem (29), em São Paulo, foi marcada por promessas da candidata de manter as conquistas do atual governo, “mas melhorá-las e qualificá-las”, segundo o ex-deputado Maurício Rands, coordenador do programa de governo de Eduardo Campos que, após a morte do ex-governador de Pernambuco, divide a tarefa da coordenação com a madrinha e amiga de Marina, herdeira do banco Itaú, Neca Setúbal. O evento ocorreu horas antes da divulgação da pesquisa Datafolha que apontou empate entre a postulante do PSB e Dilma Rousseff em 34%, contra 15% do tucano Aécio Neves.

Programas importantes e emblemáticos do governo Dilma Rousseff, como o Bolsa Família, o Mais Médicos, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e uma política externa que valorize as relações Sul-Sul, particularmente com o Mercosul, foram os principais exemplos de iniciativas do atual governo a serem preservadas, citados pelos caciques da campanha de Marina no evento: além de Neca e Rands, o vice na chapa da candidata, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), e o presidente nacional do partido, Roberto Amaral.

“O que é bom nós vamos manter. O que está errado, vamos nos esforçar para corrigir. E vamos introduzir os mecanismos para que o Brasil possa ser um lugar bom de se viver”, explicou a candidata.

As propostas contidas no plano de governo de Marina Silva ou as declarações dos comandantes de sua campanha se baseiam no binômio sustentabilidade e justiça social, mas esbarram na ambiguidade e em respostas evasivas a questões concretas.

Perguntada, por exemplo, sobre se é a favor do fim do fator previdenciário, uma das principais bandeiras das centrais sindicais, Marina despistou. “Precisamos encontrar um caminho para que os aposentados não tenham que arcar com os custos do que não podem pagar”, disse. Mas ela não aponta o caminho.

O tema aborto teve resposta pouco objetiva, na entrevista coletiva de cerca de 45 minutos que a candidata concedeu após a apresentação do programa de governo. “Qualquer mudança (da lei) é uma atribuição do Congresso. Eu particularmente não sou favorável ao aborto, e o que está no nosso programa é o que já é previsto em lei”, disse Marina.

No Brasil, legalmente, o aborto é crime, exceto em três situações: quando há risco de vida para a mulher, quando a gravidez é resultado de estupro ou em casos de feto anencefálico, como determinou o Supremo Tribunal Federal em julgamento de 2012.

A postulante ao Palácio do Planalto, porém, garantiu que sua campanha e proposta de governo “têm compromisso com o estado laico”, e defendeu o direito da comunidade LGBT. Rands disse que Marina vai governar para todos os brasileiros. “Vamos defender os direitos da comunidade LGBT, inclusive o casamento civil.”

Política

Sobre política, Marina disse o que vem defendendo no horário eleitoral na TV e nas entrevistas. “O movimento que está colocado na sociedade hoje é maior que os nossos partidos.” Mencionou as manifestações de junho de 2013 para ilustrar a demanda da sociedade por mudança.

A candidata também continuou a usar a estratégia, até agora bem sucedida, de se colocar como uma alternativa à polarização entre PT e PSDB, que ocorre desde 1994 em eleições presidenciais. “O que nós queremos é unir o Brasil. O Brasil já não aguenta mais 20 anos de polarização.” Ela criticou “a velha política, a velhíssima política da oposição pela oposição”, e afirmou que “existem interesses maiores do que o nossos partidos”.

Mas, também quando o assunto é política, Marina não aponta para respostas concretas e qual seria a posição de um eventual governo seu sobre temas delicados. É o caso da reforma política. “Já existem muitas propostas feitas pela sociedade dentro do Congresso. Não quisemos ter a pretensão de apresentar um projeto de reforma política. Estamos colocando algumas ideias para o debate.” Citou o financiamento público de campanha, voto distrital e distrital misto como “temas colocados para o debate” e lembrou que as candidaturas avulsas são uma ideia que a Rede Sustentabilidade defende em seu programa.

Na exposição sobre o plano de governo, defendeu princípios vagos como “democracia democratizada”. “Se o nosso princípio é o da democracia, temos que viabilizar uma prática respeitando o Congresso, mas o Congresso sendo melhorado pela sociedade.”

A candidata do PSB propõe “iniciar um novo ciclo no Brasil, em que a agenda não precisa mudar” em decorrência da alternância de poder ou do partido que governa.

Ela voltou a afirmar que, se for eleita, não pretende disputar um segundo mandato. “Se ganharmos o governo, estou assumindo o compromisso de que será apenas esse mandato, porque na democracia é preciso haver a alternância de poder.”

Marina Silva comentou as declarações do vice-presidente da República, Michel Temer, ontem, em Porto Alegre. Temer afirmou considerar “autoritária” a visão da candidata de governar acima dos partidos políticos. “É preciso ter muito cuidado com essas pregações referentes a governar com pessoas e não com instituições”, declarou Temer. “Porque nós levamos muito tempo para ter instituições sólidas no nosso país. Essa visão é um pouco autoritária”, disse o vice-presidente peemedebista de Dilma Rousseff.

“Não pode ser chamado de autoritário quem chama a sociedade para fazer um programa de governo. Talvez autoritário seja imaginar que apenas se pode governar com os partidos, sozinhos”, respondeu Marina na entrevista aos jornalistas.

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