Eleições 2014

Em cenário de divisão, chapa Marina-Albuquerque é formalizada

Coordenadores principais serão nomes da confiança da ex-senadora; secretário-geral do PSB diz que não estará 'em hipótese alguma' na campanha e vice já tem 'incêndios para apagar'

Valter Campanato/Abr

Marina disse ao presidente da sigla, Roberto Amaral, que vai colaborar para ‘erguer’ PSB, mas já garantiu liberdade de deixar o partido se eleita

Brasília – Depois de quase sete horas de muitas conversas e reuniões isoladas, integrantes do PSB formalizaram, finalmente, na Executiva Nacional do partido, os nomes da ex-senadora Marina Silva e do líder da legenda na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), como candidatos a presidência e a vice na chapa que disputará as eleições depois da morte de Eduardo Campos. O anúncio, feito na noite desta quarta-feira (20), foi marcado pelo clima de expectativa e dúvida sobre a manutenção dos acordos internos que definiram a situação das coligações feitas anteriormente nos 14 estados para apoio à candidatura pessebista.

Com a nova chapa, mudam também os nomes dos principais coordenadores da campanha e algumas diretrizes de financiamentos. O novo coordenador-executivo passa a ser o deputado Walter Feldman (PSB-SP). E o coordenador financeiro será Bazileu Margarido, nome ligado a Marina. Já Carlos Siqueira, secretário-geral e militante histórico do PSB, disse, após desentendimento pessoal com a candidata à presidência, que não está e não estará “em hipótese alguma” na campanha da ex-senadora.

Ambos vinham trabalhando na assessoria pessoal da ex-senadora na campanha. Também ficaram definidos novos critérios para doações de empresas. Marina Silva e equipe impuseram, como condição para substituir Campos, que não sejam aceitos financiamentos da indústria de tabaco, armamento, bebida alcoólica e grandes representantes do setor agropecuário.

A ex-senadora afirmou, durante o evento, que tem responsabilidades com o partido, por ter compromisso assumido no ano passado com Campos. “Temos responsabilidades já assumidas, construídas ombro a ombro, noite e madrugadas adentro sob a liderança de Eduardo. Recebi, de uma forma muito afetuosa, uma carta, que eu chamo de carta-inventário, onde o presidente Roberto Amaral (presidente do PSB) me diz qual é o significado da luta, da trajetória desse partido e que, agora, juntos, temos a responsabilidade de ajudá-lo a se erguer após a perda irreparável que sofreu”, ressaltou. No entanto, é sabido, também, que o próprio Amaral já precisou garantir à candidata que, caso eleita, ela estará livre para sair do PSB e ir para o Rede Sustentabilidade, sigla que Marina ainda não conseguiu legalizar.

Já o deputado Beto Albuquerque colocou que a chapa recebeu aprovação unânime da executiva, numa espécie de explicação sobre o fato de terem sido realizados tantos encontros prévios. “Estou aqui para fazer o que o Eduardo me disse ao longo desses 20 anos, que nunca podemos deixar nada pela metade. Eu e Marina não vamos deixar pela metade o legado de Eduardo”, apontou. A formalização dos dois nomes foi consolidada com ambos destacando a frase dita pelo ex-governador de Pernambuco durante entrevista na véspera do acidente que o vitimou: “Não vamos desistir do Brasil.”

Queriam um pernambucano

O nome de Beto Albuquerque, segundo informações de bastidores, teve o apoio da família de Eduardo Campos, mas gerou insatisfação nos integrantes do diretório estadual do PSB em Pernambuco, que gostariam que o vice fosse alguém do estado do ex-governador. Vários nomes foram avaliados, como os da viúva de Campos, Renata Campos, do ex-deputado federal Maurício Rands, e do ex-ministro, Fernando Bezerra Coelho.

Também foi muito discutida a forma como serão realizados os acordos nos estados. Ficou acertado que a eleição continua da maneira como vinha seguindo antes da morte do ex-governador. Marina Silva vai cumprir com os compromissos que tinha aceitado com Campos, mas, aos locais onde já não iria, ela manterá a posição. Os contatos e participações em palanques nestes locais serão tarefa única de Beto Albuquerque.

O acordo provocou irritação entre alguns socialistas, mas, terminou aceito. O deputado Marcio França (SP), candidato a vice-governado em São Paulo na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a declarar, numa das vezes em que falou à mídia, que Marina Silva é candidata da Rede e não do PSB. “Ela é uma candidata da Rede como o apoio do PSB. Faz parte”, acentuou.

Ficou definido, ainda, que caso a candidata ganhe a eleição, ela está liberada para sair do partido, uma vez que se sabe que Marina Silva tenta formalizar a Rede Sustentabilidade como partido junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após o término das eleições.

Já com crise

Uma das primeiras missões que Albuquerque tem pela frente após a formalização da chapa, segundo alguns parlamentares, é negociar que o apoio do PMDB do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso do Sul, prometido ao PSB quando Eduardo Campos era o candidato, seja mantido.

A possível cisão foi colocada pelo deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) e chegou aos integrantes da executiva do PSB durante a reunião. Moreira declarou que correligionários defendem o agronegócio e “se a ex-senadora Marina Silva insistir naquele discurso estreito do ambientalismo, não teremos outra alternativa senão apoiar Aécio Neves.”

A fala levou preocupação entre os socialistas, sobretudo porque, na mesma linha, o deputado Osmar Terra (PMDB-RS) disse que a candidata terá de se comprometer com o discurso moderado de Campos e deixar de lado posturas radicais. “Caso haja mudança de rumo, vamos reavaliar nosso apoio”, salientou.

No Mato Grosso do Sul, Nelsinho Trad (PMDB-MS), que é candidato ao governo estadual, foi outro político a afirmar que não apoiará a ex-senadora.

Com esse cenário, o novo candidato a vice, Beto Albuquerque, mal teve o nome formalizado e já viaja nesta quinta-feira (21) para os dois estados, na tentativa de resolver os impasses.

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