Constância

Campanha recicla motivos para voto em Marina e esquece que Brasil já tem presidenta

'40 motivos para votar em Marina Silva', disponível no site lançado hoje (22), repete razões de 2010: 'Será a primeira mulher a cuidar do Brasil'. Apoiadores dizem que ex-senadora atrai 'pessoas de bem'

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São Paulo – “Será a primeira mulher a cuidar do Brasil”. O 13º ponto das quarenta razões para o eleitor votar em Marina Silva, candidata à presidência pela coligação PSB-Rede, demonstra que nem tudo é novo no discurso da ex-senadora. Talvez movida pela sustentabilidade em primeiro lugar, a equipe da página oficial de campanha na internet simplesmente reciclou as 43 razões para votar nela, da campanha de 2010, fez algumas adaptações e acabou esquecendo que o Brasil já teve sua primeira presidenta da República, Dilma Rousseff, eleita naquele ano.

A página foi lançada hoje, após a oficialização da nova chapa, composta por Marina Silva e o deputado federal gaúcho Beto Albuquerque, do PSB. A equipe de campanha da candidata modificou o site algum tempo depois de publicar o texto antigo.

Os pontos atuais são praticamente os mesmos, apenas com a condensação de alguns e a mudança na sequência em que aparecem para que caibam no número de legenda do PSB, 40. Chama atenção o item 28, que diz que Marina Silva “atrai pessoas de bem”. O termo costuma ser ligado a pessoas de ideais conservadores, que se autointitulam “de bem” a fim de separar-se dos demais, sobretudo em referência à criminalidade, à moralidade e a questões religiosas.

Algumas razões também expõem a contradição entre o discurso de Marina e a realidade que a atividade política impõe. O número 39, que já existia em 2010, é muito claro ao definir que ela “aposta nos pequenos doadores”. Mas isso não parece um motivo para renegar os grandes. Tanto que em 2010 a construtora Andrade Gutierrez doou R$ 1 milhão para a campanha dela. E, nesta campanha, já foram R$ 800 mil.

Também neste ano, a coligação já recebeu doações de grandes empresas como JBS Friboi e Coopersucar (R$ 1 milhão cada), Arosuco (R$ 1,5 milhão), e os bancos Safra e Santander.

Além disso, uma das pessoas mais importantes da equipe de Marina é Maria Alice Setúbal – ou Neca Setúbal, para os íntimos –, herdeira do conglomerado financeiro Itaú/Unibanco. Ela é uma das coordenadoras da campanha e parceira da candidata desde a eleição de 2010. Naquela oportunidade, inclusive, o banco Itaú doou R$ 1 milhão para a campanha.

Algumas obviedades também estão colocadas nos 40 motivos, como o fato de Marina “dispensar o caixa dois” ou que “pratica a democracia”. Não poderia faltar o que diz que ela “propõe a verdadeira política”. Mas há alguns bastante complexos, como os que definem a candidata como “líder servidora” ou “sucessora”.

Este último explica que ela não representa oposição, nem continuidade, mas que “integra os avanços dos governos” de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mais à frente, os motivos destacam que Marina reconhece as conquistas da estabilidade econômica e dos avanços sociais.

A posição lembra a afirmativa do ex-prefeito de São Paulo e candidato ao Senado, Gilberto Kassab, quando da criação do seu atual partido, o PSD. “Nem de esquerda, direita ou centro”, disse ele, quando questionado sobre a linha ideológica da legenda.

Alguns itens, no entanto, são novos. Outros se perderam. Os estudantes não estavam incluídos em 2010. Nem a atenção com a “voz das ruas”. Mas, depois do junho de 2013, quando manifestações mobilizadas sobretudo por jovens ocorreram em todo o país, não podiam ficar de fora. Assim como não estão de fora de nenhum discurso, seja de direita, seja de esquerda. Já a proposta de uma “aposentadoria compatível com os recolhimentos feitos ao longo da vida”, foi excluída.