Grau máximo

Professores da UFRJ apoiam renúncia de pesquisadores da Capes

De 29 de novembro até ontem (7), 114 pesquisadores renunciaram a seus cargos no órgão responsável pela pós-graduação no país. Eles discordam da gestão, que prioriza avaliação de cursos a distância

Twitter/Claudia Toledo
Twitter/Claudia Toledo
A presidenta da Capes, com Bolsonaro e Milton Ribeiro, era reitora de universidade com foco em educação a distância, que ela parece querer beneficiar

São Paulo – A renúncia de um total de 114 assessores que atuam nos comitês assessores da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), recebeu apoio formal de 55 professores eméritos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A fundação sofre com renúncias desde o fim de novembro. Na noite desta terça-feira (7), um novo grupo de 34 pesquisadores – três coordenadores e 31 consultores da área de Engenharia – renunciou às atividades relacionadas ao órgão do governo federal responsável pela pós-graduação no país.

Nesta quarta-feira (8), grupo de professores agraciados com honrarias pela UFRJ por seu trabalho no ensino, pesquisa ou extensão, divulgou carta aberta em que presta solidariedade aos 114 coordenadores e consultores da Capes que renunciaram às suas funções. Todos alegam não encontrarem condições, neste momento, de avaliar os programas de pós-graduação das universidades brasileiras com a qualidade necessária para o desenvolvimento da pesquisa e ciência no Brasil.

Na carta aberta, os professores da UFRJ destacam a coragem dos integrantes dos comitês assessores nas áreas de Química, Matemática/Probabilidade e Estatística, Astronomia-Física e Engenharias III de se demitirem coletivamente devido à falta de compromisso da instituição tanto com a avaliação quadrienal quanto com a elaboração do necessário Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG 2021-2030).

“Acrescenta-se a isso a urgência, inexplicada e seguramente desnecessária, em liberar a submissão de propostas de pós-graduação stricto sensu de ensino a distância (EaD), sem antes proceder a uma cuidadosa análise e sem nem mesmo dar a palavra aos atuais programas de pós-graduação”, dizem, em trecho da carta.

Desmonte

Os professores destacam ainda o processo de desconstrução da Capes. “O sistema de avaliação da pós-graduação brasileira, fator de contínuo aperfeiçoamento de nossos programas de pós-graduação, vem sendo desconstruído, sistemática e intencionalmente pelo governo de Jair Bolsonaro.

Orçamentos irrisórios e tentativas constantes de desprestigiar institutos de pesquisa de reconhecido mérito, nacional e internacional, têm provocado uma crescente evasão para o exterior de brilhantes jovens pesquisadores, o que comprometerá o futuro da ciência nacional”.

A renúncia coletiva, um mês após a entrega de dezenas de cargos no Inep, outro órgão do MEC, foi devido à falta de respaldo institucional ao trabalho dos pesquisadores. Além de não divulgar os resultados da avaliação quadrienal, o que inutiliza o trabalho realizado pela equipe, a gestão teria passado a priorizar a avaliação de novos cursos, em especial na modalidade de ensino à distância.

Desde abril a Capes é presidida pela professora de Direito Claudia Mansani Queda de Toledo, até então reitora do Centro Universitário de Bauru, no qual o ministro Milton Ribeiro se graduou. Ela é especialista em Educação a Distância pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), no Paraná. Seu currículo Lattes não mostra informações sobre experiência em avaliação da pós-graduação.


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