Apagão na educação

Governo Doria exclui alunos sem aviso e para de registrar casos de covid em escolas

Estudantes da rede estadual de São Paulo são excluídos do sistema on-line de ensino e das listas de chamada. Para deputada, medida “criminosa” impede direito à educação

Governo de São Paulo
Governo de São Paulo
Além de excluir os estudantes, o governo Doria parou de registrar os casos confirmados e as mortes causadas pela covid-19 nas unidades escolares

São Paulo –  Sob alegação que não comparecimento às aulas on-line ou presenciais, milhares de estudantes foram excluídos arbitrariamente das escolas da rede estadual pelo governo de João Doria (PSDB) na última semana. Na prática, alunos foram retirados das listas de chamada e , assim, ficaram sem acesso às plataformas de atividades remotas.

O governo Doria alega que as escolas analisaram a situação antes de classificar o não comparecimento de estudantes. Segundo a gestão estadual, esses estudantes não perderam a matrícula, mas precisariam solicitar o recadastramento. Por outro lado, professores ouvidos pela reportagem afirmam que não houve aviso nem diálogo e que a medida pode causar abandono escolar, que já é um desafio em meio à pandemia.

Uma professora que pediu para não ser identificada, por temer represálias, explica que a situação aconteceu em todo o estado. E que as escolas estão realizando busca ativa de estudantes e recadastrando aqueles que foram excluídos.

Medida “criminosa”

“Primeiro falaram que era um problema do sistema, que tinha dado (não comparecimento) para todo mundo que não tinha acessado o aplicativo e que o professor não tinha passado nota ou falta, como se o aluno nunca tivesse aparecido. Mas não foi o que aconteceu até o ano passado. Esses alunos continuaram até o final do ano e só no final do ano que alguns ficaram de recuperação e agora eles deram ‘n-com'”, explica a docente.

Para a deputada estadual, Maria Izabel de Azevedo Noronha – a professora Bebel (PT-SP), presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) – medida do governo Doria “é um crime contra os estudantes”.

“Primeiro que esses alunos não puderam acessar as aulas porque não tinham computadores ou banda larga, pois escola no estado de São Paulo está à la Dom João VI. Desde aquele tempo é o mesmo modelo de escola, atrasada, sem nenhum avanço tecnológico, prédios totalmente inadequados, sem segurança sanitária. E é papel do Estado fazer chamada ativa para que os alunos retornem, se tiverem condições, para o regime presencial. Ou, se não houver condições (sanitárias), no ensino remoto. Então, há uma omissão também, que acaba cometendo uma injustiça. E, o que é pior, retirando do estudante o direito à educação”, contesta a deputada estadual.

Apagão dos casos de covid

Além de excluir os estudantes, o governo Doria parou de registrar os casos confirmados e as mortes causadas pela covid-19 nas unidades escolares. Entre os dias 2 e 14 de agosto, quando as escolas passaram a poder receber até 100% dos estudantes, a gestão tucana registrou 1.288 casos prováveis de covid-19, mas não informa quantos foram confirmados ou se houve mortes.

Para Bebel, o governo Doria está sendo “irresponsável” com retomada das aulas. No início do ano, Doria e o secretário da educação, Rossieli Soares, garantiram que haveria transparência na divulgação dos dados de contaminação nas instituições. Mas somente dois relatórios foram divulgados e com metodologias de cálculo que distorciam a realidade, fazendo parecer que havia poucos casos nas escolas.

Entre 8 de fevereiro e 15 de março, primeiro período que as aulas voltaram este ano, foram confirmados 4.084 casos de covid-19, 24.345 suspeitos e 53 mortes, no entanto, à época, apenas 35% dos estudantes podiam frequentar as aulas.

Confira a reportagem na íntegra


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