Retorno em dúvida

Medo, incerteza e insegurança marcam primeiro dia da volta às aulas em São Paulo

Retomada das atividades presenciais teve início nesta segunda. Mas a insegurança e a ausência de distanciamento estão entre as principais preocupações. No ABC, sindicato denuncia escolas que estão tornando ensino presencial obrigatório

ABRAFI
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"As escolas podem receber os alunos, mas não é obrigatório", destaca o Sinpro-ABC. Especialistas cobram cuidados com a higiene e distanciamento para reduzir riscos de infecção

São Paulo – Medos, incertezas, falta de segurança e muitas preocupações foram alguns dos sentimentos vivenciados nesta segunda-feira (2) por pais e profissionais de ensino da região do ABC, na Grande São Paulo. O repórter Cosmo Silva, da Rádio Brasil Atual, acompanhou a volta às aulas, autorizada pelo estado de São Paulo, com até 100% da capacidade, tanto no sistema público quanto no privado, em meio à pandemia de covid-19.

O governo João Doria (PSDB) alega que a diminuição de casos de internação e de mortes permitiu a volta das aulas presenciais. No entanto, essa opinião não é compartilhada pela comunidade escolar. Pai de uma aluna de 14 anos na rede estadual de ensino em São Bernardo, Flávio Campos diz que as preocupações vão além da vacinação. Ele comenta que as escolas não estão preparadas e que não vai permitir que a filha volte às aulas presenciais.

“A primeira (questão) é a preocupação com a estrutura escolar. Antes do período de pandemia, ela já tinha que levar papel higiênico de casa para poder usar os banheiros. E não têm segurança de que a escola será higienizada, e nem tão pouco que a distância será respeitada pelos alunos. Porque mais de um ano sem se verem é inevitável o contato físico como abraço, aperto de mão, beijo entre os colegas. Será algo inevitável em um primeiro momento. Isso aumenta a possibilidade de contágio, não tem segurança. Não quero minha filha morta. Prefiro que ela perca um ano escolar e depois ela recupera isso do que ela não ter mais como recuperar a vida”, relatou à reportagem. 

Retorno sem garantia

Mãe de um aluno do ensino fundamental da rede pública, Valéria de Souza também se disse preocupada com a retomada. Porém, ponderou que a volta presencial à sala de aula é importante para o aprendizado das crianças. Mas cobrou atenção quanto aos cuidados de higiene e distanciamento. “Precisamos tentar essa retomada para que as crianças não sejam punidas no futuro em relação ao aprendizado e ao senso coletivo”, afirmou. 

Apesar da importância, o professor e presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de São Bernardo, Dinailton Cerqueira, explica que, sem a imunização completa de toda a comunidade escolar, o retorno presencial é prematuro. Ele afirma que as autoridades não deram nenhuma garantia de que as pessoas não irão adoecer em decorrência da covid-19. “É precipitada a retomada e o segundo ponto que tememos é a contaminação das crianças. Porque mesmo as pessoas imunizadas, sabemos do risco que tem delas transportarem o vírus e passar para as pessoas que não estão imunizadas. As crianças ainda não têm imunizante que garanta segurança na saúde”, destaca. 

Risco de infecção continua

Pesquisa do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp) mostrou que, em média, cerca de 80% dos pais, professores e estudantes têm medo de contrair a covid com a volta às aulas presenciais. 

A presidenta do Sindicato dos Professores da Rede Privada de São André, São Bernardo e São Caetano (Sinpro-ABC), Edilene Arjoni, denuncia também que, com a retomada das aulas presenciais, o ensino a distância vem sofrendo ameaças em algumas escolas. A dirigente reforça, contudo, que o retorno físico às escolas não é uma obrigatoriedade.  “Tem escola dizendo que é obrigatório a presença do aluno, o ensino presencial nesse momento e os alunos têm que ir. Só não vai quem tiver atestado médico. Isso não é verdade, não existe obrigatoriedade. As escolas podem receber os alunos, mas não é obrigatório. Então as famílias que tiverem consciência do perigo, não precisam, não são obrigadas a mandar seus filhos para a aula presencial. Tem que continuar com o ensino híbrido, remoto, mesmo tendo alunos presenciais. Porque tem escola que não quer ter o custo das duas atividades e diz que é obrigatório, mas não é verdade”, garante. 

Edilene completa que os riscos de contaminação continuam existindo. “Nossa preocupação vai nesse sentido, como garantir a segurança das escolas, de toda a comunidade escolar, alunos, famílias, professores e funcionários, como garantir o distanciamento, o cumprimento de fato do protocolo. O risco e as variantes existem”. A Secretaria estadual de Educação divulgou nesta segunda que pelo menos 68 cidades editaram decretos proibindo o retorno presencial das aulas. 

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