Defesa do ensino

Estudantes vão às ruas pelo ‘direito de entrar, permanecer e se formar nas universidades’

Em manifestações encabeçadas pela UNE, Ubes e a ANPG, juventude repudia o que chama de “despreparo e elitismo” do ministro da Educação e protesta contra os cortes no setor

Une/Reprodução/Twitter
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"Defender a educação é defender o futuro. É proteger gerações, fortalecer sonhos e o desenvolvimento de um país!", afirma a presidenta da Ubes, Rozana Barroso

São Paulo – Em defesa da educação e contra o governo de Jair Bolsonaro, jovens voltam a ocupar as ruas com manifestações nacionais nesta quarta-feira (11), Dia do Estudante. Em atos convocados pela União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e a Associação Nacional de Pós-Graduados (ANPG), os protestos chamam a atenção para os cortes no orçamento da área e promovem uma campanha contra a evasão escolar, a desesperança, a fome e o subemprego, sintetizada no lema “Vida, Pão, Vacina e Educação”. 

Durante a manhã desta quarta, os estudantes já protestavam e ocupavam uma das faixas na Avenida Paulista, na altura do Masp, com faixas, cartazes e palavras de ordem contra o governo federal.

Em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, os manifestantes realizaram uma aula pública nas ruas para a população. Já em Natal, nas primeiras horas de hoje, movimentos bloquearam a BR 101 em defesa da educação e pelo “Fora Bolsonaro”.

Em Brasília, os estudantes também trocaram o nome da Ponte Costa e Silva, que homenageia o ditador e marechal do Exército responsável pela instituição do Ato Institucional número 5 (AI-5), pelo do líder estudantil Honestino Guimarães, que lutou em defesa da democracia à frente da UNE. Nas redes sociais, estudantes e apoiadores também protestam usando as hashtags #DiadoEstudante e #ForaBolsonaro.

Repúdio às declarações do ministro

Na linha de frente pelo “Fora Bolsonaro”, as manifestações pelo país já estavam previstas no calendário de lutas, que segue pelo mês de agosto com a greve dos servidores das três esferas no próximo dia 18 e com protestos contra o governo em 7 de setembro. Mas os atos acabaram ganhando ainda mais urgência diante das declarações do ministro da Educação, Milton Ribeiro, que defendeu nesta segunda (9) que as “as universidades brasileiras deveriam ser para poucos”.

Em entrevista à TV Brasil, Ribeiro, que desconhecia a existência de 38 institutos federais quando assumiu a pasta, defendeu que o país deveria priorizar este tipo de ensino que forma técnicos. Segundo ele, esta modalidade será “a grande vedete” no futuro porque “tem muito engenheiro , advogado, dirigindo Uber porque não consegue a colocação devida, mas se fosse técnico em informática, estaria empregado porque há demanda muito grande”. 

A fala teve uma ampla repercussão negativa, embora, de acordo com a ex-deputada federal Manuela D’Ávila, “confirme o que sempre soubemos sobre o governo (Bolsonaro). “O que eles querem é que a educação e as universidade sejam para poucos”, postou. “Ou seja, pobres, filhos de empregadas, de porteiros, não devem estar na universidade”, completou o economista e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Uallace Moreira, pelo Twitter. 

Elitismo e despreparo

As deputadas federais Erika Kokay (PT-DF) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) também apontaram que a defesa do ministro expõe “uma visão elitista de que a maioria do povo não precisa de formação acadêmica, apenas de um emprego sem direitos”, tuitou Erika. “É a síntese do velho pensamento burguês que paira nesse governo: educação para as elites e chão de fábrica para os pobres. Esse governo tem ódio à ascensão social”, acrescentou a presidenta nacional do partido.

Entre as entidades estudantis, várias observaram a relação entre a visão do ministro e os retrocessos na educação. “Nós sabemos que não é por acaso que as vagas do Prouni (Programa Universidade para Todos) diminuíram em um terço e que esse seja o Enem com o menor número de inscritos da história. Os cortes de quase R$ 2 bilhões no orçamento da educação, a intervenção ideológica nas universidades, os ataques às cotas, não são coincidência”, destacou a estudante de Direito e presidenta da UNE Bruna Brelaz.

Em recado ao ministro, Bruna ressaltou, contudo, que “quem sustenta a universidade é o povo”. “Vocês não vão roubar os nossos sonhos”, disse, em um vídeo publicado em suas redes sociais. 

Defesa do ensino

A UNE, que completa 84 anos também neste dia 11 de agosto, destaca que na pauta de reivindicação dos atos de hoje está a defesa da política de cotas, que completa 10 anos no próximo ano. Na entrevista com o titular do MEC, a legislação também foi atacada por Ribeiro, que classificou as vagas destinadas nas universidade como “uma metade” que vai para as cotas e outra parte que vai para “os alunos melhor preparados”.

“Os pais desses meninos tidos como ‘filhinhos de papai’ são aqueles que pagam os impostos do Brasil, que sustentam bem ou mal a universidade pública. Não podem ser penalizados”, justificou. A União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes) rebate o ministro em nota, ressaltando que “a verdade, é que os pais mais pobres, e jovens, trabalham duro para pagar os impostos e por comida na mesa de casa. E são esses também que vivem à margem da sociedade, mas não desistem do seu futuro, e acreditam na educação como o caminho para a realização dos seus sonhos”.

Isenções do Enem

As manifestações neste Dia dos Estudante também saem em defesa da autonomia das universidades federais e contra o processo de intervenção do governo, que tem ignorado os mais bem votados da lista tríplice para fazer a escolha de aliados ao cargo de reitor. “Trata-se de respeitar a decisão da comunidade acadêmica nas universidades. Quem está fazendo opções ideológicas ao não indicar os mais votados da lista tríplice é o governo fascista de Bolsonaro. Querem controlar o pensamento crítico e impedir o avanço da ciência!”, contestou a historiadora e presidenta da ANPG, Flávia Calé. 

As entidades estudantis, a Educafro, a Frente Antirracista, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e nove partidos políticos ajuizaram ontem uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar a regra do MEC que negou inscrições no Enem com isenção aos estudantes que não puderam comparecer ao exame no ano passado por conta da covid-19. De acordo com as organizações, são pelo menos 3,2 milhões de participantes na prova deste ano sem isenção. De acordo com as entidades, muitos podem ser sido prejudicados pela decisão do MEC, o que também explica que o Enem deste ano tenha recebido o menor número de inscritos desde 2005.

“Defender a educação é defender o futuro. É proteger gerações, fortalecer sonhos e o desenvolvimento de um país!”, afirma a presidenta da Ubes, Rozana Barroso. 

Os atos em defesa da educação e contra o governo Bolsonaro seguem ao longo de todo o dia.

Confira as demais manifestações programadas

SUDESTE

  • SP: SP, Teatro Municipal, às 17h
  • RJ: Rio de Janeiro, Largo da Carioca, às17h
  • MG: BH, Praça Sete, às 15h, panfletagem e distribuição de PFF2
  • Viçosa, às 17h, aula aberta
  • Juiz de Fora, às 14h, Parque Halfeld, panfletagem em frente ao Banco do Brasil
  • Contagem, 19h, online no canal do YouTube da Prefeitura

NORDESTE

  • RN: Natal, às 14h, Praça Cívica, Aula Pública.
  • Natal, ás 19h, Sede da UEE, Sessão Solene do Dia do Estudante da Câmara Municipal de Natal
  • BA: Salvador –  ás 13h30 – Praça da Piedade
  • CE: Fortaleza – Praça da Gentilândia – às 15h

SUL

  • RS: Porto Alegre, ás 18h, Esquina Democrática
  • Caxias do Sul, às 17:30, Praça Dante Aligheri
  • PR: Curitiba, às 18h30 – Praça Santos Andrade
  • Foz do Iguaçu, às 17h – Terminal do Transporte Urbano (TTU)

NORTE

  • AM: Manaus – às 15:30 – Praça da Matriz: Ciência na Rua
  • PA: Belém,  às8h, Escadinhas das Docas (Panfletagem e falas)

CENTRO-OESTE

  • GO: Goiânia – ás 16h – Praça do Bandeirante
  • DF: Brasília – às 16h – ato em frente ao Ministério da Educação.
  • Panfletagem na Rodoviária do Plano Piloto, às 8h