Educação interligada

Aulas presenciais também dependem de acesso à internet, diz especialista

Presidente do Conselho Nacional de Educação, Maria Helena Guimarães Castro cobra investimento urgente do governo em conectividade. “Senão Brasil ficará para trás”

Arquivo EBC
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Educação não pode esperar correção de infraestrutura para que tenha acesso à internet

Sao Paulo – Uma possível volta das aulas presenciais em todas as escolas no país não torna a conectividade indispensável, segundo a presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Maria Helena Guimarães Castro. Em participação em debate realizado nesta quinta-feira (5) pelo Ministério da Educação (MEC) para discutir os impactos da pandemia na educação, a especialista tocou em temas sensíveis ao governo de Jair Bolsonaro. Entre eles, o retorno imediato às escolas em todo o país, em meio à pandemia de covid, e a decisão de não investir na conectividade para todos os alunos e professores.

“Sei que não se trata de uma ação feita de um dia pro outro. Mas para termos a conectividade no Brasil todo, de todas as escolas, de todos os estados e municípios, é preciso ter um ‘plano de voo’. E é isso que está faltando. Precisamos de um plano de curtíssimo prazo, e de curto e longo prazos, para de fato chegarmos a 2028, a 2030, com o Brasil todo conectado. Senão vamos mesmo ficar todos para pra trás”, disse Maria Helena.

Com um currículo que inclui atuações como secretária executiva do Ministério de Educação, presidenta do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), secretária nacional de Ensino Superior do MEC, membro do Comitê Diretivo da Unesco e secretária de Educação do Estado de São Paulo, entre outros, ela sabe que há pressa. Mas não só para o retorno presencial.

Aulas presenciais

No último dia 20, o ministro Milton Ribeiro falou em rede nacional, pedindo “apoio das famílias” para o retorno às aulas presenciais. Dias depois, um programa da rádio Joven Pan, de São Paulo, tentou vender aos ouvintes a propaganda do governo, acrescentando críticas aos profissionais da educação contrários ao retorno às aulas presenciais e favoráveis à expansão da conectividade.

À imprensa e parlamentares, o ministro tem afirmado que o MEC nunca foi contra a conexão nas escolas. Mas que ampliar o acesso à internet de estudantes e professores da rede pública de ensino contraria a Emenda do Teto de Gastos. “Entendo que tem muitas escolas que apresentam problemas de infraestrutura graves, sem sanitários, mas não podemos fazer uma coisa primeira e outra depois. Teremos de fazer tudo ao mesmo tempo, senão a educação brasileira vai ficar de fato para trás”, reforçou a educadora.

Na sua avaliação, a conectividade é essencial para o avanço das atividades complementares, tanto remotas como presenciais, de apoio às escolas, aos alunos e inclusive preparação de professores para uso de tecnologias.

Grande desafio

A dirigente do CNE também tocou em outro ponto importante para o presidente Jair Bolsonaro, seu ministro da Educação Milton Ribeiro e seus apoiadores: o chamado homeschooling – ou educação domiciliar, pauta levada à condição de prioritária pelo Planalto e que tramita no Congresso. “O grande desafio agora é entender que a escola é o lugar mais seguro que tem para criança. Mais que o shopping, que a rua, o bar, enfim. Mais seguro até que, pra crianças que ficam sozinhas nos seus domicílios tomando conta de irmãozinhos e muitas vezes até correndo riscos. A escola é sim o lugar mais seguro que tem”, disse Maria Helena.

Além da segurança, há o aspecto propriamente pedagógico, segundo ela. “A pandemia mostrou que a educação remota não deu conta. Pesquisas mostram que os pais têm enorme dificuldade de fazer a mediação pedagógica que só o professor consegue fazer. Ao contrário do que pensam algumas pessoas que defendem a educação domiciliar, a modalidade só se aplica a casos muito excepcionais, de crianças que de fato não podem frequentar a escola.

O debate inicial do MEC, que pretende discutir os efeitos da pandemia sobre a educação, é mais uma tentativa do governo para que profissionais, professores e alunos voltem à escola.

Redação: Cida de Oliveira – Edição: Fábio M.Michel