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Professores de São Paulo discordam de volta às aulas com até 100% dos estudantes antes de concluir vacinação

Maior parte dos profissionais da educação só vai receber a primeira dose da vacina contra a covid-19 poucos dias antes da volta às aulas

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Bebel considera proposta de Doria para volta às aulas para até 100% dos estudantes muito preocupante

São Paulo – O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) considerou de “enorme preocupação” o anúncio feito ontem (16), pelo governador João Doria (PSDB), que a volta às aulas em agosto pode ter até 100% dos estudantes, dependendo das condições de cada escola. “Mais do que ninguém, sabemos que o local de aprendizagem é, por excelência, a sala de aula. Sabemos também que em algum momento haverá o retorno às aulas presenciais. Entretanto, isso deve se dar com a vacinação completa dos profissionais da educação e com a adoção de todas as condições sanitárias para o controle da pandemia”, disse a presidenta da Apeoesp, a deputada estadual Professora Bebel (PT).

Segundo o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, o plano de volta às aulas será elaborado por unidade escolar, de acordo com a estrutura da escola e o número de estudantes matriculados. “Se uma escola com capacidade para 3 mil, mas que tem 300 estudantes, ela pode receber 100% dos estudantes, mantendo 1 metro de distanciamento. Se isso não for possível, ela vai manter o rodízio. E, durante o mês de agosto ainda não será obrigatória a volta às aulas presenciais”, afirmou.

O principal ponto para mensurar o número de alunos para a volta às aulas será manter o distanciamento de um metro entre os estudantes. Mesmo assim, a volta será opcional, ao menos em agosto. No entanto, Doria e Soares desconsideraram que a vacinação dos profissionais da educação, cuja maioria terá recebido apenas a primeira dose da vacina contra a covid-19 antes da retomada das aulas. A vacinação de 440 mil profissionais rede pública de educação de São Paulo começou na segunda semana de junho.

Prazos e testes

“Em agosto não estará completa a imunização de todos os profissionais da educação com a segunda dose, pois são variadas as vacinas aplicadas. Se, no caso da CoronaVac, o intervalo entre a primeira e a segunda dose é de 15 a 28 dias, no caso da Pfizer e da AstraZeneca, por exemplo, esse intervalo é de três meses. Devemos considerar ainda que estudos apontam que a imunização completa se dá 15 dias após a aplicação da segunda dose”, defendeu Bebel.

O secretário disse ainda que vai distribuir 3 milhões de testes para monitorar a situação da pandemia de covid-19 nas escolas com a volta às aulas. Segundo ele, serão testados todos os casos sintomáticos e os envolvidos na ocorrência de dois ou mais casos com vínculo epidemiológico. Soares destacou a urgência em garantir a volta às aulas em São Paulo com o maior número de estudantes possível, citando um estudo que prevê evasão escolar de até 35% dos estudantes paulistas, em razão da pandemia. O governo Doria estima que serão necessários 11 anos para recuperar o déficit de aprendizagem dos alunos.

Inseguro

Para os professores, porém, a proposta deve fracassar. “Sem ouvir pais, estudantes, professores e demais profissionais da educação, esse retorno pode ser um tiro no pé. Os pais precisam ter segurança de que seus filhos não serão contaminados, os estudantes têm que estar convencidos de que a volta às escolas públicas é segura, os professores e demais profissionais devem ter todos sua segunda dose da vacina para que o retorno às aulas presenciais possa se dar de forma segura e não seja apenas um anúncio”, concluiu Bebel.

Neste ano, a primeira tentativa de volta às aulas presenciais em São Paulo foi em 8 de fevereiro, mas com o agravamento da pandemia acabaram suspensas novamente em 15 de março. Nesse período, a Secretaria da Educação registrou 4.084 casos confirmados de covid-19, 24.345 casos suspeitos e 19 mortes.

Na cidade de São Paulo, a rede municipal registrou 854 surtos de covid-19 (quando são registrados dois ou mais casos no mesmo local) no mesmo período. A Apeoesp registra 51 profissionais da educação e dois estudantes mortos pela covid-19 no período.