escolas inseguras

Professores tiveram 192% mais risco de pegar covid-19 com aulas presenciais em São Paulo

Monitoramento realizado em 299 escolas estaduais mostra que o governo Doria distorceu dados de covid-19 entre professores para atestar segurança das aulas

Roberto Parizotti
Roberto Parizotti
Política de volta às aulas em meio à pandemia, de Doria e Rossieli, levou à morte de dezenas de professores

São Paulo – Os professores da rede estadual paulista tiveram 192% mais risco de pegar covid-19 com a volta às aulas presenciais em presenciais em São Paulo, em relação ao conjunto da população paulista. É o que mostra estudo assinado por pesquisadores das universidades Federal do ABC (UFABC), Federal de São Paulo (Unifesp), Federal de São Carlos (UFSCar), da USP e do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), que acompanhou as incidências de covid-19 por 100 mil habitantes durante um mês em escolas da rede estadual. O monitoramento, realizado em 299 estabelecimentos, mostra que o governo João Doria (PSDB) distorceu dados para atestar segurança de aulas presenciais.

As 299 escolas monitoradas ficam nas cidades de Arujá, Caieiras, Cajamar, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da Rocha, Guarulhos, Hortolândia, Mairiporã, Osasco, Poá, Santa Isabel, Santo André, São Paulo e Sumaré. Nelas, estavam atuando 12.547 professores e 3.947 trabalhadores de outras áreas.

Atividades inseguras

Em 30 dias, foram registrados 326 casos confirmados de covid-19, sendo 283 em professores e 43 em outros trabalhadores. Isso significa que, no período, a incidência de novos casos nas escolas cresceu 138% entre os professores, em comparação a um crescimento de 81% na população de 25 a 59 anos do estado.

“Os resultados demonstram que as atividades presenciais nas escolas não eram seguras, assim como não são seguras neste momento. Infelizmente, a insistência do governo de São Paulo em propagar que as escolas são ambientes seguros em qualquer contexto levou, entre fevereiro e março, a uma exposição da comunidade escolar que poderia ter sido evitada”, afirma Leonardo Crochik (IFSP), um dos autores do estudo.

Só que não

O estudo também desmonta a versão do governo Doria de que a incidência de casos de covid-19 entre professores e estudantes, nas escolas, foi 33 vezes menor que na população em geral. Ocorre que a Comissão Médica da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) relacionou os 4.084 casos confirmados registrados na volta às aulas presenciais com o número total de estudantes matriculados em escolas públicas e privadas no estado de São Paulo: 9,95 milhões. Com isso, derrubou a incidência e afirmou que a segurança das escolas estaria “provada”.

No entanto, segundo decisão do próprio governo Doria, somente 35% dos estudantes podiam frequentar as aulas, cerca de 3,3 milhões. Mas somente 600 mil realmente retomaram as aulas presenciais entre 8 de fevereiro e 13 de março, segundo informou o próprio secretário da Educação, Rossieli Soares. Além disso, ao utilizar somente o número de estudantes no cálculo, a comissão escondeu os professores e demais trabalhadores da educação. O que torna o boletim do governo Doria incorreto e sua conclusão, falsa.

Incidência acumulada

Considerando os dados ajustados com o número real de estudantes, trabalhadores da educação e professores que retomaram as aulas presenciais, a incidência de covid-19 acumulada nas quatro semanas de aulas é 6.100% maior do que a incidência acumulada reportada no Boletim da Secretaria da Educação e da Comissão Médica da Educação. Ou seja, em vez de 36,9 casos de covid-19 para cada 100 mil habitantes, como anunciou o governo Doria, a volta às aulas presenciais teve 2.287,8 casos para cada 100 mil habitantes.

Quadro comparativo da incidência de casos de covid-19 nas escolas estaduais de São Paulo

Além dos mais de 4 mil casos confirmados, o governo Doria registrou 24.345 casos suspeitos de covid-19 nas escolas. No entanto, não há informações de quantos desses casos foram confirmados posteriormente. Também foi confirmada a morte de 21 pessoas pela covid-19, sendo 19 professores e trabalhadores da educação e dois estudantes. O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) contesta o número e diz que foram 67 mortes.

Nebuloso

Os pesquisadores também criticaram a falta de transparência do governo Doria e da Secretaria da Educação, que não permitem o acesso público aos dados de covid-19 nas escolas. Desde o início das aulas, apenas dois boletins foram apresentados, ambos com graves falhas na análise dos dados divulgados.

“O controle rígido sobre a divulgação de dados e o cerceamento do acesso à informação garantem que as posições da Seduc não sejam facilmente contraditadas por avaliadores independentes. Nem mesmo por grupos de pesquisa ou pela sociedade civil, interessada em debater a segurança sanitária nas escolas. Daí a importância de fazermos um monitoramento independente da situação das escolas”, destacou o também pesquisador Fernando Cássio.


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