Na fila da covid

Governo Covas promove testagem desorganizada e aglomera milhares de professores

Poucas unidades abertas e apenas dois dias para aplicar testes a cem mil professores levaram a filas quilométricas em CEUs da capital paulista

RBA
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Testagem de professores da rede municipal da educação mostra mais uma vez o descaso do governo Covas

São Paulo – Convocados para uma nova testagem de covid-19, milhares de professores da rede municipal de educação de São Paulo ficaram horas em filas e aglomerados na manhã de hoje (5), por falta de organização do governo do prefeito Bruno Covas (PSDB), que realiza um novo inquérito sorológico para estimar o potencial de contaminação pelo novo coronavírus entre os trabalhadores da educação. Com apenas dois dias para testar 100 mil trabalhadores e com apenas algumas unidades de ensino realizando a testagem, filas imensas se formaram e os professores reclamaram da falta de organização e do risco a que acabaram expostos pela gestão municipal. As aulas devem ser retomadas na próxima segunda-feira (12).

Segundo os trabalhadores, o governo Covas estimou realizar os testes em profissionais de 5 a 10 escolas por hora. No entanto, como a convocação foi geral, e só será realizada em dois dias, milhares de professores se dirigiram aos Centros Educacionais Unificados (CEU) definidos para a testagem. Em alguns locais, os testes sorológicos acabaram ainda pela manhã. Foram registradas filas e aglomerações nos CEUs Jardim Paulistano, Vila Formosa, Jaçanã, Vila da Paz, Vila Rubi, Campo Limpo, Feitiço da Vila, Aricanduva e Sapopemba.

“É insano”

“O governo Covas está tentando usar isso para forçar um retorno às aulas nas próximas semanas. Vai usar isso para dizer que não tem risco de contaminação, que os professores podem frequentar novamente as escolas. Só que isso vai causar ainda mais aglomeração, vai causar mais casos na rede de ensino. Não tem a menor condição de fazer um retorno das aulas na pior fase da pandemia. É insano”, disse uma professora que estava no CEU Vila Formosa e pediu para não ser identificada.

A docente lembrou que os casos de covid-19 nas escolas começar a subir logo depois do planejamento presencial obrigatório determinado tanto pelo governo Covas, como pelo governo de João Doria (PSDB). E que a realização de testagem em professores também foi feita no ano passado, mas que, como ação isolada, pouco serviu para evitar um caos de contaminações nas escolas.

“Nem precisou voltar as aulas efetivamente para que os casos começassem a acontecer. As escolas não têm condições, mas o prefeito acha que é suficiente dar uma máscara de pano, ter álcool em gel e limpar as mesas com paninho. Na maioria das escolas, as janelas das salas de aula não abrem”, protestou a professora. O governo Covas já autorizou a volta às aulas na capital paulista, dependendo apenas do fim da fase emergencial da quarentena.

Agravamento

As aulas foram retomadas em 15 de fevereiro desse ano. E suspensas novamente em 17 de março. Em apenas um mês de aulas, o governo Covas registrou 854 surtos de covid-19 nas escolas municipais. São considerados surtos os registros de dois ou mais casos simultâneos na mesma unidade de ensino.

Nas escolas estaduais, privadas e dos demais municípios, o governo Doria registrou 4.084 casos confirmados e 24.345 casos suspeitos de covid-19. O poder público estadual fala em 21 mortes e os trabalhadores apontam 53 óbitos entre professores e estudantes. Em ambas as redes, eram aceitos apenas 35% dos estudantes nas escolas.

O Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo (Sindsep) chamou a ação do governo Covas de “fila da covid-19” e recomendou que os profissionais não compareçam às escolas para não se expor ao risco de contaminação.

“A política de testagem deve estar atrelada ao controle da pandemia buscando desenvolver o isolamento social de quem estiver em suspeita ou confirmação positivada. Além disso, o teste precisa ser permanente ao invés de apenas em momentos específicos. Com todo este movimento midiático, o governo Covas tenta trazer para a opinião pública a falsa sensação de que está dando condições para a retomada das aulas presencias, garantindo a exigência do lobby dos empresários da educação: donos das escolas privadas e particulares”, criticou o Sindsep.