São Paulo

Professores sobre decreto de Doria para forçar volta às aulas em semana com 4.336 mortes: ‘escárnio’

Para Apeoesp, com decreto que inclui a educação básica como atividade essencial, governo Doria quer manter aulas presenciais no pior momento da pandemia

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Bebel considera proposta de Doria para volta às aulas para até 100% dos estudantes muito preocupante

São Paulo – Os professores paulistas consideraram um “escárnio” o decreto do governador paulista, João Doria (PSDB), que tornou a educação básica um serviço essencial, com o objetivo de forçar a volta às aulas em meio ao pior momento da pandemia do novo coronavírus. Em apenas um mês de aulas, o governo Doria registrou 4.084 casos confirmados e 24.345 casos suspeitos de covid-19. Os trabalhadores na educação registraram 59 mortes. “É um escárnio para todos que adoeceram e morreram em virtude da covid-19”, avalia a presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e deputada estadual, Professora Bebel (PT).

Para Bebel, o secretário da Educação, Rossieli Soares, e Doria estão cedendo ao lobby das escolas privadas pela volta das aulas presenciais e, para isso, enganam a população com um decreto, alegando que as escolas sejam ambientes seguros. Em agosto do ano passado, pesquisa encomendada pela Apeoesp ao Instituto de Arquitetos do Brasil e ao DIEESE, que resultou no Manual Técnico para Escolas Saudáveis, revelou que 82% das escolas não têm mais de dois sanitários para uso dos estudantes, além da falta enfermarias, quadras e ambientes ventilados.

Cruel e oportunista

“A atitude do governo é uma expressão da crueldade e do oportunismo de quem não valoriza a vida. Nenhuma, absolutamente nenhuma linha em consideração ou deferência àqueles que pereceram. Qualquer semelhança com a postura de Jair Bolsonaro não é mera coincidência: ambos cultivam a mesma admiração e interlocução com próceres da mentira, ambos são craques da indiferença”, afirmou Bebel. A Apeoesp lembra que há uma sentença, em vigor desde 9 de março, proibindo a volta às aulas presenciais nas fases vermelha e laranja, em ação movida pela Apeoesp e por outras entidades ligadas à educação.\

O decreto de Doria para garantir a volta às aulas foi publicado no último sábado, mesmo dia que fechou a semana com mais casos e mais mortes por covid-19 registrados no estado de São Paulo. Foram 112.480 casos e 4.336 mortes em sete dias. Mesmo com três semanas de fases mais restritivas da quarentena, a situação não teve qualquer melhora até o momento.

Os dados mais recentes indicam que há 31.216 pessoas internadas com covid-19 em São Paulo, sendo 12.911 pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e 18.305 em enfermaria. As taxas de ocupação dos leitos de UTI são de 92% no Estado e de 91,3% na Grande São Paulo. Houve uma pequena redução nessas taxas devido a abertura de novos leitos, mas o número de pacientes não caiu. Apenas hoje, foram 3.001 novas internações.

Volta insegura

Após inúmeros protestos de trabalhadores da educação, Doria anunciou no dia 24 a vacinação contra a covid-19 para professores e outros trabalhadores da educação pública e privada. No entanto, na primeira etapa, somente profissionais da área a partir de 47 anos serão vacinados, a partir de 12 de abril. O que representa cerca de 350 mil dos mais de 1 milhão de pessoas nessa categoria profissional.

Para a presidenta da Apeoesp, a decisão do governo Doria de anunciar a vacinação contra a covid-19 para professores e outros profissionais da educação é uma vitória da mobilização da categoria, mas não muda a necessidade de manter as aulas suspensas até que haja segurança para todos os trabalhadores e estudantes.

“Se o governo tivesse acatado antes nossos pedidos, não teríamos a perda dessas 59 vidas que ocorreram com a volta das aulas presenciais. Agora, observaremos todo o processo e prazos para a imunização de todos os profissionais, pois nosso compromisso com a defesa da vida continua”, afirmou.