Inviável

Parte das escolas de São Paulo terá volta às aulas presenciais adiada

Situação evidencia o planejamento mal feito do governo Covas. Em reuniões nas escolas, famílias que optaram pela volta às aulas presenciais estão desistindo

Arquivo ABR
Arquivo ABR
Professores denunciam que a falta de estrutura nas escolas públicas coloca em xeque medidas de distanciamento social e deixa todos em risco

São Paulo – Parte das escolas da rede municipal de São Paulo terá a volta às aulas presenciais adiada por atraso nas reformas e falta de equipes de limpeza. A informação foi confirmada à RBA pela Secretaria Municipal da Educação de São Paulo. No entanto, faltando apenas três dias para o início previsto das aulas, na próxima segunda-feira (15), o governo do prefeito Bruno Covas (PSDB), ainda não informou quais escolas terão volta às aulas adiada. Professores ouvidos pela reportagem disseram que parte das escolas deve manter a data inicial. Outras devem abrir dia 22 e uma última parte em 1º de março. A retomada das atividades online será mantida no dia 15 para todos os estudantes.

Muitas escolas estão ainda passando por reformas. Outras tiveram os contratos de limpeza encerrados e o governo Covas não realizou os processos de contratação a tempo. Segundo a secretaria, 530 unidades com problemas nos serviço de limpeza vão iniciar suas atividades de forma online e receberão os estudantes presencialmente nos dias 22 de fevereiro e 1º de março. Outras 50 unidades que estão com reformas em andamento vão retomar as atividades presenciais até o final de março. As famílias serão avisadas pelas escolas.

Para o presidente do Sindicato dos Profissionais de Educação no Ensino Municipal (Sinpeem), Claudio Fonseca, A situação é uma “confissão” do governo Covas de que os professores e outros trabalhadores da educação sempre tiveram razão em apontar que não há condições seguras para a volta às aulas presenciais em meio à pandemia de covid-19. E que não houve ação efetiva do governo Covas para melhorar a estrutura sanitária das escolas.

“É uma confissão cabal de que, de fato, nós temos razão em apontar que não há condições sanitárias para a retomada das aulas. Sempre tentaram negar isso, diziam que tinham feito as reformas, que tinham comprado material. Mas, na realidade, nós vemos que as escolas não têm condições. Estão indo para o risco, expondo as pessoas à contaminação”, disse Fonseca.

Nas primeiras semanas, a volta às aulas presenciais terá até 35% dos alunos por sala, em sistema de rodízio. Essa limitação não valerá para os Centros de Educação Infantil, que atendem crianças de 0 a 3 anos. No caso, será dada prioridade de atendimento aos alunos com idade mais avançada, que tenham irmãos na escola ou vivam em situação de vulnerabilidade. Os 465 mil tablets com chip, para o acompanhamento das atividades pedagógicas remotas, prometidos desde outubro de 2020, só serão entregues em abril. 

Mobilizados

Os professores e outros trabalhadores da rede municipal de educação estão em greve contra a voltas às aulas presenciais sem condições de segurança, por ampla vacinação e controle da pandemia. E denunciam que as escolas não estão totalmente adaptadas para funcionamento dentro das condições que a pandemia de covid-19 exige.

Muitas salas são mal ventiladas, há poucos banheiros e com problemas de funcionamento, os professores não receberam equipamentos de proteção individual suficientes. Além disso, a estrutura complementar para o ensino remoto, como a distribuição de tablets e a montagem de salas digitais, não foi concluída pela prefeitura.

Hoje, a pandemia do novo coronavírus em São Paulo está descontrolada. São registrados, em média, 10 mil novos casos de covid-19, 250 mortes e mais de 1.400 internações todos os dias.

Desistência das aulas presenciais

Reuniões entre as famílias dos estudantes e as diretorias de creches e pré-escolas para organizar a volta às aulas presenciais acompanhadas pela RBA foram marcadas pela desistência de pais e mães em enviar os filhos. Para muitos, a situação apresentada torna impossível acreditar que não haverá contaminação. Outros apontaram que as regras rígidas podem se tornar uma experiência extremamente difícil para as crianças de creche (0 a 3 anos) e pré-escola (4 e 5 anos). Nessa fase, não haverá rodízio de estudantes e as turmas podem ter até 35% dos alunos.

Segundo as informações recebidas das coordenações das escolas, cada criança terá de ficar em um “cubículo imaginário”, de um metro quadrado, em uma parte da sala, sem poder sair deste espaço. Deverá ser mantido um metro de distância das outras crianças e as professoras vão ter de impedir qualquer tentativa de contato entre elas. As salas não vão ter brinquedos disponíveis e cada item pego por uma criança deverá ficar com ela até o fim das atividades, sem poder trocar.

Sem condições

Além dessas restrições, os parques externos das escolas vão permanecer fechados. Se houver área externa, as crianças poderão sair eventualmente, mas não poderão circular no espaço. A criança que faltar algum dia de aula, por qualquer motivo, terá de ficar sete dias sem comparecer à escola. Cada criança deve levar, ao menos, quatro máscaras e um calçado extra para trocar na entrada da escola.

Durante as reuniões, familiares manifestaram o desejo de desistir de enviar os filhos na volta às aulas presenciais. “Eu queria confiar, mas não tem condições. Vendo essa situação da pandemia, como as crianças vão ficar na escola, melhor ficar em casa. Não acho que vai ser uma condição realmente benéfica, em meio a tantas regras, tanto medo, tanto estresse. Tinha cadastrado meu filho para voltar, mas pedi para retirar o nome dele”, explicou a supervisora de vendas Patrícia Moura, mãe de Felipe, de 3 anos.