São Paulo

Greve dos professores: ‘É um grito contra a normalização da barbárie’

Educadora da rede municipal Laura Cymbalista afirma que não há condições para um retorno seguro às salas de aula neste momento

Cecília Bastos/USP Imagem
Cecília Bastos/USP Imagem
Greve é pela vida de todos os professores. "Escola não pode virar um obituário", afirma educadora

São Paulo – Professores e trabalhadores da educação municipal de São Paulo entraram em greve nesta quarta-feira (10). Os educadores são contra a volta às aulas presenciais antes que a pandemia seja minimamente controlada. As unidades sofrem de problemas estruturais, como a falta de ventilação. Outro agravante é que o retorno das atividades presenciais impõe um aumento da circulação de pessoas por toda a cidade, elevando o risco de contaminação.

Não bastasse o recorde de números de casos em todo o estado de São Paulo no mês de janeiro, as novas cepas do sars-cov-2, ainda mais transmissíveis, impõem cuidados ainda maiores. Enquanto isso, a campanha de vacinação ainda caminha a passos lentos.

De acordo com a professora Laura Cymbalista, integrante da coordenação pedagógica da rede municipal, a greve, com adesão crescente, é em defesa da vida dos alunos, dos professores e de toda a comunidade escolar.

“Nós estamos aqui para dizer que escola não é espaço de luto. A gente não quer viver numa escola que seja um obituário”, afirmou a professora em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (11). Ela também reagiu à tendência de relativizar a perda de vidas e minimizar a gravidade da pandemia. “Essa greve também é um grito para dizer que não dá para normalizar a barbárie, como está sendo feito”, acrescentou.

Ela classificou como “frouxo” o protocolo adotado pela Secretária de Educação. Por exemplo, não há previsão de testagem em massa, nem rastreio dos contatos em casos de contaminação. Além disso, a educadora afirma que é uma “crueldade” transferir às famílias dos alunos a responsabilidade pelos prováveis contágios.

Exemplos

A professora destacou, ainda, que mesmo escolas particulares que defenderam a reabertura sofreram com surtos de covid-19. Da mesma maneira, na rede estadual foram notificados 209 casos, com o fechamento de sete escolas, ainda antes do retorno oficial que ocorreu na última segunda-feira (8).

Reivindicações

A principal exigência dos educadores em greve é a manutenção do ensino remoto em todas as escolas. Para isso, a prefeitura deve garantir o acesso à internet para todos os alunos, com a distribuição de tabletes e computadores. Laura diz que, por princípio, os educadores não são favoráveis à utilização de ferramentas de ensino à distância. “A gente acredita que educação é olho no olho, é perto, um do lado do outro. Você não faz ideia o tanto que os professores anseiam poder retomar as suas rotinas.” Mas neste momento, não existe condições para um retorno seguro às aulas presenciais.

A professora também demonstrou preocupação com a segurança alimentar das famílias mais pobres, que têm na escola um apoio importante para garantir a alimentação dos seus filhos. Com o aumento da inflação do preço dos alimentos e o fim do auxílio emergencial, a fome volta a assolar essas famílias.

“Se a escola não for capaz de defender a vida e a segurança sanitária de todo mundo, quem vai ser? E reforço a crueldade de deixar a escolha a cargo da família. Parece que é assim: se está preocupado com a possibilidade do seu filho se infectar, então não manda. Mas se mandou, está no risco. É uma crueldade, considerando a condição das famílias, inclusive por não terem segurança alimentar garantida”, declarou Laura.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima


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