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Profissionais da educação temem pela vida e rechaçam volta às aulas em São Paulo

Trabalhadores das redes municipal e estadual consideram que agravamento da pandemia impossibilita uma volta às aulas segura em São Paulo

Reprodução/Sieeesp
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Trabalhadores da educação consideram que atual situação da pandemia em São Paulo não permite uma volta às aulas segura

São Paulo – Profissionais da educação municipal e estadual de São Paulo não aceitam a proposta de volta às aulas dos governos de João Doria e Bruno Covas, ambos do PSDB. Em reunião realizada na tarde de ontem (20), os cinco sindicatos que representam os trabalhadores em educação da capital paulista apresentaram uma contraproposta à prefeitura, sugerindo que só se discuta retomada de atividades presenciais em março, se houver melhora da situação em fevereiro. Já o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) vai realizar manifestação amanhã (22) em frente à Secretaria da Educação, contra a proposta de retomada das aulas presenciais. Ambas os grupos não descartam entrar em greve.

“Nosso posicionamento é contrário que, nesse momento de aguda crise sanitária, com crescimento da contaminação pelo covid-19, haja retomada das aulas presenciais. Esse calendário apresentado pela Secretaria Municipal de Educação, de retomada com as atividades de planejamento a partir do dia 1º de fevereiro e já das aulas presenciais a partir do dia 15 é muito precipitado e requer extremo cuidado. Nós não podemos aceitar”, disse o presidente do Sindicato dos Profissionais de Educação no Ensino Municipal (Sinpeem), Claudio Fonseca.

Os sindicatos temem pela saúde dos professores, que teriam de ficar em salas com pouca ventilação, com muitos contatos pessoais diários, utilizando transporte coletivo diariamente. A pandemia de covid-19 em São Paulo está se agravando desde novembro. A inação do governo Doria, que não aumentou o rigor da quarentena tão logo a situação começou a piorar, levou o estado a bater recorde de número de novos casos nas últimas semanas. A ocupação de UTI chegou a 70% em todo o estado, com algumas cidades batendo 100% de ocupação. As mortes também cresceram, com média diária de 236 óbitos nos últimos dias.

As entidades defendem a revogação da proposta de volta às aulas em São Paulo no dia 1º de fevereiro, que o recesso escolar de julho seja antecipado para o período entre 1 e 12 de fevereiro e usar o período de 18 de fevereiro a 3 de março para o planejamento da retomada das atividades, de forma não-presencial. Também alegam que a prefeitura ainda não iniciou a contratação dos profissionais de educação necessários para garantir a retomada das atividades, conforme prometido. Então, esse tempo também serviria para adequar o quadro de profissionais.

Em entrevista à revista Crescer, a secretária Municipal de Educação Adjunta, Minéa Paschoaleto Fratelli, defendeu a volta às aulas em São Paulo e disse que a partir de 26 de janeiro a prefeitura vai levantar quais famílias pretendem mandar as crianças para a escola. As salas vão funcionar com até 35% da capacidade. Nos ensinos fundamental e médio, haverá rodízio de estudantes. Nas creches e pré-escolas, um grupo fixo vai frequentar todos os dias e será definido por critérios de vulnerabilidade social.

Ainda segundo Minéa, todos os professores vão receber máscaras e face shield e os alunos também receberão kit com caneca e sabonete líquido. Haverá álcool em gel e sabonete líquido disponíveis nos ambientes. Com os bebês, os profissionais usarão luvas.

Volta às aulas na rede estadual

O temor dos professores é justificável. Relatório de fiscalização do Tribunal de Contas do Município (TCM) revela que, em 2019, quase 26% das escolas municipais não tinham papel higiênico nos banheiros dos estudantes. Somente 25% das unidades escolares tinham sabonete líquido e 30% tinham papel toalha disponível para uso dos alunos.

Para a presidenta da Apeoesp e deputada estadual, Professora Bebel (PT), a volta às aulas em São Paulo é precipitada e pode ter consequências gravíssimas. “Não faz o menor sentido confinar professores e estudantes em ambientes fechados e mal ventilados, em locais sem a estrutura adequada para a efetivação dos protocolos sanitários, como são as escolas”, afirmou.

Ela destacou o diagnóstico realizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em agosto do ano passado, que concluiu que 82% das escolas não têm mais de dois sanitários para uso dos estudantes; 13% não têm quadra ou ginásio; e 11% não têm pátio para atividades ao ar livre.

Na semana passada, o professor titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Saldiva, elaborou um parecer, a pedido da Apeoesp, em que afirma que “em ambientes fechados, como as salas de aula, a transmissão da covid-19 é facilitada pela baixa dispersão do aerossol”. “É importante ressaltar que o papel da transmissão da covid-19 em ambientes fechados foi objeto de uma publicação assinada por 239 pesquisadores de todo mundo que assim concluiu a análise”, disse Saldiva.

Butantan: É preciso repensar

O diretor-presidente do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, também considera que é preciso repensar a volta às aulas em São Paulo. A principal questão é que, embora os dados mostrem que as crianças e adolescentes são menos suscetíveis à doença e que estudos apontem que eles também transmitem menos o coronavírus, ao retomar as atividades presenciais milhões de pessoas voltam a circular diariamente para garantir esse processo: pais, professores, outros profissionais. Além de ampliar a circulação nas ruas e nos transportes coletivos.

“O problema da escola no meio de uma pandemia, não é a escola. É o que a escola acarreta em termos de mobilidade social. A ausência de aulas nesse momento representa 15% da população do estado de São Paulo que está em casa. Se voltam as aulas essas pessoas vão voltar a circular. Consequentemente vão levar o vírus a circular. Esse é um aspecto que precisa ser compatibilizado. É importante a escola, a presença dos alunos em sala de aula, mas nós temos que pensar. Nós estamos em um momento de enfrentamento do vírus que precisamos reduzir a mobilidade social de todos os segmentos.

Bebel cobrou ainda que os professores sejam incluídos nos grupos prioritários da vacinação. “O governo age de forma totalmente contraditória. Considera o trabalho dos professores como uma atividade essencial, mas não nos considera essenciais no plano de vacinação. Antes de se pensar em reabrir as escolas, a primeira providência deve ser a vacinação de todos os profissionais da educação na primeira fase, juntamente com os profissionais da saúde, idosos e indígenas”.