Ataque à democracia

Bolsonaro nomeia como reitor da UFPB o candidato menos votado

Apesar de legal, escolha do presidente afronta a autonomia universitária. Reitor nomeado por Bolsonaro nem sequer foi votado no Conselho Universitário

Angélica Gouveia/MEC
Angélica Gouveia/MEC
Opção pela chapa com menor apoio é vista como uma espécie de intervenção que fere a autonomia universitária

São Paulo – Em mais um ato que fere a autonomia universitária, o presidente Jair Bolsonaro decidiu nomear como reitor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) o candidato menos votado na lista tríplice. Valdiney Veloso, o escolhido, teve menos de 10% dos votos entre alunos, professores e funcionários.

Além disso, na etapa preliminar do processo de escolha do reitor da UFPB, Veloso não recebeu nenhum voto no Conselho Universitário (Consuni). O nome só entrou na votação final da lista por meio de liminar.

A decisão de Bolsonaro foi publicada nesta quinta-feira (5) no Diário Oficial da União. Veloso, que terá Liana Filgueira Albuquerque como vice-reitora, deve assumir na próxima quarta-feira (11), e vai comandar a UFPB até 2024. Mas a comunidade acadêmica promete resistir.

A Constituição prevê que o presidente pode escolher entre os três primeiros colocados. Contudo, a opção pela chapa com menor apoio é vista como uma espécie de intervenção na autonomia universitária e desrespeito com a comunidade acadêmica. Bolsonaro já havia adotado a mesma postura arbitrária na escolha de outros 14 reitores.

Os resultados

O primeiro lugar da lista ficou com a chapa composta pelas professoras Terezinha Domiciano Dantas Martins e Mônica Nóbrega. Elas tiveram 964.518 votos, na soma total ponderada. O segundo lugar ficou com os professores Isac Medeiros e Regina Celina, com 920.013 votos. Enquanto que Valdiney e Liana receberam apenas 106.496 votos, menos de 10% do total.

No Consuni, as duas primeiras chapas obtiveram, respectivamente, 47 e 42 votos. Enquanto que os escolhidos por Bolsonaro não registraram nenhum apoio.

Reação

Segundo o presidente do Sindicato dos Professores da UFPB (Adufpb), Fernando Cunha, trata-se de uma demonstração de que Bolsonaro é “inimigo da educação”. “Este é mais um ataque à universidade, à democracia e à autonomia universitária, demonstrando, claramente, que esse governo não tem nenhuma responsabilidade com a coisa pública, com a legitimidade dos processos democráticos”, afirmou à repórter Cida Alves, do Brasil de Fato.

Ele afirmou que a Adufpb irá convocar uma plenária dos três segmentos universitários para poder avaliar o processo. Ainda antes da nomeação, a entidade havia lançado a campanha Reitor Eleito é Reitor Empossado, pregando respeito pela decisão da comunidade acadêmica.